(Reuters) - Milhares de pessoas foram às ruas em cidades de Mianmar neste sábado para denunciar o golpe desta semana e exigir a libertação da líder eleita Aung San Suu Kyi, apesar de um bloqueio à internet pela junta militar que tomou o poder.
Na maior cidade do país, Yangon, manifestantes furiosos entoavam gritos contra a ditadura militar e a favor da democracia, segurando cartazes onde se lia "Contra a ditadura militar”. Pessoas que passavam pelas ruas ofereciam comida e água aos participantes do ato.
Muitos entre a multidão usaram vermelho, cor da Liga Nacional pela Democracia (NLD, sigla em inglês) de Suu Kyi, que ganhou as eleições de 8 de novembro por goleada, um resultado que os generais se recusaram a reconhecer, alegando fraudes.
As ruas de Yangon tinham uma atmosfera festiva, com o barulho das buzinas dos carros ecoando pela cidade. Milhares marcharam em direção à prefeitura. Motoristas se projetavam de seus carros e saudavam manifestantes, que retornavam os gestos. Alguns carregavam bandeiras da Liga Nacional ou fotos de Suu Kyi. Muitos aplaudiam e dançavam.
Milhares de pessoas se reuniram também na capital construída pelos militares, Naypyidaw, na região central de Mianmar, buzinando em motos. Elas gritavam slogans contra o golpe e pediam a libertação de Suu Kyi.
Os protestos foram organizados apesar de um bloqueio à internet imposto quando as primeiras manifestações começaram a se formar. Durante todo o dia, a TV estatal MRTV exigiu imagens elogiando os militares.
O grupo de monitoramento NetBlocks relatou um “blackout de escala nacional na internet”, dizendo que a conectividade do Twitter (NYSE:TWTR) (SA:TWTR34) havia caído a 16% dos níveis habituais. Testemunhas relatam um desligamento dos serviços de dados e wifi.
A junta militar não respondeu a pedidos de comentários.
Os militares no poder ampliaram repressão às redes sociais mirando o Twitter e o Instagram, depois de terem buscado silenciar as divergências ao bloquear temporariamente o Facebook (NASDAQ:FB) (SA:FBOK34), que tem metade da população como usuária.
O Facebook pediu que a junta militar desbloqueie a rede social.
“Neste momento crítico, o povo de Mianmar precisa de acesso a informações importantes e da possibilidade de se comunicar com seus entes queridos”, afirmou o chefe de política pública do Facebook para a Ásia-Pacífico, Rafael Frankel, em comunicado.
O gabinete de direitos humanos das Nações Unidas afirmou no Twitter que “serviços de internet e comunicação precisam ser totalmente restaurados para garantir a liberdade de expressão e acesso à informação”.
A operadora de internet móvel norueguesa Telenor (OL:TEL) afirmou que as autoridades ordenaram a todas operadoras de celulares que fechassem temporariamente as redes de dados, embora serviços de voz e SMS tenham continuado a funcionar.
Organizações da sociedade civil de Mianmar apelaram para que as fornecedoras de redes de internet e de celular resistissem às ordens da junta militar, dizendo em um comunicado conjunto que elas estavam “essencialmente legitimando a autoridade dos militares”.
A Telenor lamentou o impacto sobre as pessoas, mas disse que sua atuação é limitada pela lei local e que sua primeira prioridade é a segurança de seus trabalhadores locais.
O vice-diretor regional da Anistia Internacional, Ming Yu Hah, afirmou que fechar a internet em meio a um golpe e uma pandemia é uma decisão “hedionda e imprudente”.
REPERCUSSÃO INTERNACIONAL
O chefe do Exército, Min Aung Hlaing, assumiu o poder alegando fraude, apesar de a comissão eleitoral ter dito que não encontrou evidências de irregularidades abrangentes na votação de novembro.
A junta militar anunciou um estado de emergência de um ano e prometeu entregar o poder após novas eleições, sem anunciar um cronograma.
A vencedora do Nobel da Paz, Suu Kyi, 75, foi indiciada pela importação ilegal de seis walkie-talkies, enquanto o presidente deposto Win Mying é acusado de desprezar as restrições contra a Covid-19. Nenhum deles foi visto desde o golpe. Seus advogados dizem que eles estão sendo detidos em suas casas.
(Por Equipe Reuters)