Por Wendell Roelf
CIDADE DO CABO (Reuters) - Ministros das Relações Exteriores dos países do Brics se reunirão na África do Sul a partir de quinta-feira, à medida que o bloco de cinco nações busca se transformar em um contrapeso ao domínio geopolítico ocidental após a invasão da Ucrânia pela Rússia.
As negociações são um prelúdio para uma cúpula de agosto em Johanesburgo que já gerou polêmica por causa da possível presença do presidente russo, Vladimir Putin, alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI).
Ele foi acusado em março do crime de guerra de deportar crianças à força do território ocupado pela Rússia na Ucrânia. Moscou nega as acusações. A África do Sul já havia convidado Putin em janeiro.
Autoridades sul-africanas confirmaram que os ministros das Relações Exteriores de Brasil, Rússia, Índia e África do Sul participam da reunião de quinta-feira na Cidade do Cabo. Um vice-ministro está representando a China.
Nenhuma agenda foi divulgada, mas analistas disseram que as discussões visam aprofundar os laços entre os membros e considerar uma expansão do grupo.
"O Brics está se posicionando como uma alternativa ao Ocidente e como uma forma de abrir espaço para as potências emergentes", disse Cobus van Staden, do Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais.
Antes visto como uma associação vaga e amplamente simbólica de economias emergentes díspares, o Brics assumiu nos últimos anos uma forma mais concreta, impulsionado inicialmente por Pequim e, desde o início da guerra na Ucrânia em fevereiro de 2022, com ímpeto adicional de Moscou.
As discussões sobre o Novo Banco de Desenvolvimento dos Brics, que parou de financiar projetos na Rússia para cumprir as sanções impostas contra o país, eram esperadas para quinta-feira, afirmou uma fonte do Ministério das Relações Exteriores da África do Sul.
Em meio à crescente polarização geopolítica decorrente da guerra na Ucrânia, os líderes do Brics se declararam abertos à admissão de novos membros, incluindo países produtores de petróleo.
Venezuela, Argentina, Irã, Argélia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos estão em uma lista daqueles que se inscreveram formalmente para ingressar ou manifestaram interesse, disseram autoridades.
"Se eles conseguirem trazer os países produtores de petróleo, isso será fundamental, dado o sistema de petrodólares", disse William Gumede, analista político sul-africano que escreve extensivamente sobre os Brics.
(Reportagem de Wendell Roelf na Cidade do Cabo; Reportagem adicional de Carien du Plessis em Johanesburgo)