Por Philip Pullella e Sylvia Westall
ABU DHABI (Reuters) - O papa Francisco criticou a “lógica do poder armado” no Iêmen, na Síria e em outras guerras do Oriente Médio em uma visita histórica à Península Arábica onde surgiu o islã, dizendo a cristãos e muçulmanos que conflitos não trazem nada além de miséria e morte.
Francisco, o primeiro pontífice a visitar a península, se pronunciou durante viagem aos Emirados Árabes Unidos (EAU), que desempenham um papel de destaque no conflito do Iêmen, como parte de uma coalizão militar liderada pela Arábia Saudita.
“A guerra não pode criar nada além da miséria, armas não trazem nada além da morte”, disse o papa durante discurso após se reunir com líderes dos EAU na capital Abu Dhabi nesta segunda-feira, o primeiro dia completo da viagem que ele espera que irá promover a paz através do diálogo religioso.
“Suas consequências fatídicas estão diante de nossos olhos. Estou pensando especialmente no Iêmen, na Síria, no Iraque e na Líbia”, disse durante reunião inter-religiosa no Memorial dos Fundadores dos Emirados Árabes Unidos.
“Vamos nos comprometer contra a lógica do poder armado”, disse em seu primeiro pronunciamento público da viagem, após se encontrar com o xeique Ahmed al-Tayeb, o grande imã da mesquita egípcia de Al-Azhar, que pediu que muçulmanos do Oriente Médio "abracem" os cristão.
A guerra de quase quatro anos do Iêmen, o país mais pobre da Península Arábica, tem deixado dezenas de milhares de mortos e quase 16 milhões de pessoas enfrentando fome severa. No conflito, uma coalizão liderada pela Arábia Saudita e leal ao presidente deposto Abd-Rabbu Mansour enfrenta o grupo Houthi, alinhado com o Irã.
A Organização das Nações Unidas (ONU) está tentando implementar um frágil acordo de cessar-fogo no principal porto do país, Hodeidah, vital para milhões de pessoas e o local de algumas das batalhas mais violentas da guerra. A ONU espera que o acordo abra caminho para negociações para encerrar o conflito.
Francisco usou seu pronunciamento regular de domingo no Vaticano para pedir que todos os lados implementem o acordo e ajudem na entrega de auxílio humanitário.
O grande imã, a figura muçulmana mais importante presente na visita, pediu que muçulmanos do Oriente Médio “abracem” comunidades locais cristãs, as descrevendo como parte da nação e não como uma minoria.
“Vocês são cidadãos com totais direitos e responsabilidades”, disse o xeique Tayeb, cuja Universidade de Al-Azhar representa um dos principais locais de aprendizado do islã sunita. Ele também pediu que muçulmanos no Ocidente se integrem nos países onde vivem e respeitem as leis locais.