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Para muitos eleitores dos EUA, a economia é pessoal e eles culpam os democratas

Publicado 28.10.2024, 09:42
© Reuters. Vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, durante comício em Royal Oak, em Michigann21/10/2024nREUTERS/Rebecca Cook
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Por Andrea Shalal

DETROIT, EUA (Reuters) - Tiesha Blackwell, 24 anos, votou em Joe Biden em 2020, mas diz que irá votar no ex-presidente republicano Donald Trump este ano, e os altos preços dos alimentos e da moradia são um dos principais motivos.

Blackwell, que mora em Detroit, no estado de Michigan, diz que tem um emprego melhor agora, mas seu aluguel dobrou depois que ela foi forçada a se mudar, e suas contas de supermercado e serviços públicos dispararam.

"Não estou pior do que estava há quatro anos", disse Blackwell em um comício com a presença do companheiro de chapa de Trump, JD Vance, em Detroit, neste mês.

"Mas em comparação com aquela época, as coisas estão muito, muito altas por aqui. Deixei de pagar 575 dólares e agora pago 1.100 dólares só de aluguel. Tudo está mais caro".

A recuperação econômica dos Estados Unidos após a Covid-19 tem sido invejada pelo mundo desenvolvido, com fortes gastos dos consumidores e investimentos empresariais e federais ajudando a economia a evitar uma recessão. Os mercados de ações estão em níveis recordes, os empregos e os salários estão crescendo rapidamente, o desemprego está baixo e a inflação está agora abaixo dos níveis de janeiro de 2020, após um pico em 2022.

Mas os preços de alimentos, aluguel, serviços públicos e outras coisas como jantar fora de casa estão todos bem acima dos níveis de 2019, devido a fatores complexos sobre os quais o governo dos EUA tem impacto limitado, como custos de mão de obra, falta de concorrência e problemas na cadeia de oferta.

Muitos norte-americanos estão em um estado constante de choque com os preços.

Isso pode explicar por que os eleitores dos sete Estados cruciais que determinarão o vencedor da eleição de 5 de novembro têm uma visão negativa da economia, com 61% dizendo que ela está no caminho errado em uma pesquisa Reuters/Ipsos deste mês, e 68% dizendo que o custo de vida está no caminho errado.

A vice-presidente Kamala Harris, a candidata democrata, e Trump propuseram soluções diferentes. Kamala prometeu controlar preços e aumentar o crédito fiscal para crianças, enquanto Trump propôs cortar impostos sobre o pagamento de horas extras, impor tarifas gerais sobre as importações que, segundo ele, trarão a manufatura de volta aos EUA e a deportação em massa de imigrantes.

As tarifas propostas por Trump e as ameaças de deportação aumentarão os preços de bens e serviços, segundo muitos economistas, enquanto o controle de preços de Kamala não foi testado em nível federal.

Ainda assim, quando perguntados sobre qual candidato tinha a melhor abordagem em relação às questões, Trump liderou em relação à economia - 46% a 38%, segundo a pesquisa da Reuters deste mês.

Pessoas que estudam economia dizem que sentem a frustração dos eleitores, mesmo que não acreditem que o plano de Trump vá ajudar.

"Entendo a inflação melhor do que uma pessoa comum e já trabalhei no Fed, mas continuo surpreso com o quanto a inflação me deixa chateado", disse Michael Strain, diretor de estudos de política econômica do conservador American Enterprise Institute, que já criticou os planos tarifários de Trump no passado.

"Quando entro em um restaurante que frequento há anos e... em vez de 50 dólares, são 70 dólares, sinto como se alguém tivesse me dado um soco na cara e roubado uma nota de 20 dólares da minha carteira", disse Strain.

Blackwell, a eleitora de Michigan, diz que acredita no argumento de Trump de que as tarifas são necessárias para impedir as importações e proteger os empregos nos EUA. "Sim, isso pode aumentar o preço para os consumidores, mas, a longo prazo, algo precisa ser feito", disse ela.

MICHIGAN NO LIMITE

A visita de Kamala a Michigan nesta segunda-feira será a décima desde que ela se tornou a candidata do partido. O Estado ainda está marcado pela perda de mais de um terço de seus empregos relacionados ao setor automotivo desde 1990 e apoiou Trump em 2016, enquanto Biden venceu por menos de três pontos percentuais em 2020.

A campanha de Kamala tem mais de 375 funcionários no Estado, quase quatro vezes mais do que a de Trump, mas uma compilação de pesquisas da FiveThirtyEight mostra Kamala com menos de 1 ponto percentual de vantagem sobre Trump no Estado.

Na segunda-feira passada, Harris e a ex-parlamentar republicana Liz Cheney se reuniram com eleitores no condado de Oakland, nos arredores de Detroit. No sábado, ela se juntou à ex-primeira-dama Michelle Obama em Kalamazoo.

A taxa de desemprego de Michigan tem sido consistentemente mais alta do que os números gerais dos EUA há anos, mas o Estado atingiu seu nível mais alto de emprego e o mais baixo de desemprego em 20 anos no ano passado, com a entrada de dinheiro federal para infraestrutura.

Ameshia Cross, estrategista democrata, disse que o governo Biden merece crédito pela criação de centenas de milhares de novos empregos em Michigan e em todo o país, mas que os altos custos de vida ainda estavam tendo um grande impacto sobre os eleitores.

"Há muitas coisas que as pessoas estão sentindo em termos de sua economia pessoal que não estão refletidas nos números de empregos", disse Cross, incluindo preocupações sobre o impacto dos veículos elétricos na indústria automobilística local, custos de moradia e alimentação.

"Não se trata do (índice) Dow Jones. As pessoas estão analisando se têm dinheiro para fazer as coisas que podiam fazer há apenas alguns anos, e a maioria diria que não", disse ela. "Toda política é pessoal. Seu prisma é determinado pelo que estão passando diariamente."

Devin Jones, 20 anos, estudante universitário que mora em Flint, Michigan, disse que seus pais - ambos veteranos do Exército - foram forçados a se mudar e comprar uma casa mais barata em Goshen, Indiana, depois que a inflação disparou. Eles também adiaram uma viagem de aniversário de 18 anos, há muito prometida, para a Alemanha, onde Jones nasceu.

O aumento no preço da carne moída e dos ovos foi "ridículo", disse ele. "Sob Trump, sob os governos anteriores, as coisas estavam bem. As coisas não eram muito caras", disse ele.

Nem todo mundo está descontente.

Stu Billey, 43 anos, membro da United Auto Workers e ex-fuzileiro naval que mora em Flint Township, Michigan, disse que seu emprego sindicalizado agora paga 40 dólares por hora, em comparação com o salário de 16 dólares por hora que ganhava há alguns anos.

© Reuters. Vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, durante comício em Royal Oak, em Michigan
21/10/2024
REUTERS/Rebecca Cook

"Ter um emprego sindicalizado aumentou drasticamente minha condição de vida. Estou muito melhor, mas isso teve a ver com a negociação de um contrato", disse ele, acrescentando que os preços mais altos dos produtos no mercado são menos prejudiciais agora, devido ao seu salário mais alto.

Billey diz que votou em Biden em 2020 e que apoiará Kamala, mas diz que há consideravelmente menos entusiasmo por ela do que por outros democratas como Biden ou o ex-presidente Barack Obama.

"Votar e apoiar são coisas diferentes", disse ele.

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