Por Anita Komuves e Krisztina Fenyo
BUDAPESTE (Reuters) - "Viva a missão de paz!", gritou sarcasticamente o rapper húngaro De:Nash no palco do festival em que ele lançou um conjunto eloquente de rimas criticando oligarcas, a corrupção e as relações amistosas do primeiro-ministro do país, Viktor Orbán, com a Rússia. A multidão o apoiou de forma entusiasmada, curtindo a explosão do tom político em um país governado por Orbán e seu partido, o Fidesz, desde 2010. O principal alvo do rapper loiro era a viagem do primeiro-ministro para se reunir com o presidente russo, Vladimir Putin. A visita foi descrita por Orbán como uma "missão de paz", algo que irritou alguns líderes da União Europeia. O governo Orbán defendeu a viagem, dizendo que ela era importante para resolver o conflito na Ucrânia. Sua legenda segue sendo a força dominante na política húngara, mas partidos de oposição vêm ganhando espaço. O reflexo disso na cultura popular foi a onda de rappers que voltaram suas rimas e contas nas redes sociais contra o Estado. De:Nash afirmou que ele se tornou um observador mais atento da política assistindo às eleições parlamentares europeias de 2019, quando identificou uma retórica demasiadamente negativa e agressiva por parte do governo. "Eu queria realçar o quão nocivas e agressivas eram as mensagens que enchiam as ruas. Tenho feito o mesmo desde então", afirmou o músico de 28 anos. Um ano antes, um rapper conhecido como Krubi ficou famoso com uma canção cheia de palavrões que, de forma satírica, acusava Orbán de manter uma relação sexual com um de seus antecessores como premiê, Ferenc Gyurcsany. A mensagem era a de que, embora fossem oficialmente rivais, na verdade possuíam laços como membros da elite. "Decidi não me autocensurar. Se tenho uma ideia sobre política, coloco nas letras como qualquer outra coisa", disse o músico de 29 anos. O governo fez poucos comentários públicos sobre os críticos musicais. Um porta-voz da administração não respondeu imediatamente a pedido da Reuters para comentários sobre a reportagem. Alguns apoiadores do governo têm sido críticos. As músicas dos rappers não são tocadas na rádio estatal Petofi ou na emissora pública de TV, disse Emilia Barna, socióloga da Universidade Técnica de Budapeste. Alguns dos artistas disseram que perderam acordos de patrocínio e aparições. "Mas eles não precisam necessariamente desses recursos", disse Barna à Reuters. Os serviços de streaming online e festivais dão a eles toda a exposição de que precisam.
É um desenvolvimento impressionante, disse ela, em um país onde até recentemente muitos músicos dependiam de generosos programas e eventos artísticos financiados pelo Estado para grande parte de sua renda. Ela explicou que, quatro anos após assumir o poder, Orbán lançou um programa de apoio público para a música pop que "muito rapidamente" tornou a maioria dos artistas dependentes do governo. (Reportagem de Anita Komuves)