Sob o “efeito Lula”, o dólar renovou ontem o maior nível em mais de dois anos e meio, fechando em R$ 5,65. Em um efeito manada - ou seria um ataque especulativo? - a aposta dos investidores contra a valorização do real bateu novo recorde. E não se trata apenas dos estrangeiros, mas também dos locais que têm preferência por ativos externos.
Seja qual for o nome dado a esse movimento, trata-se de um montante de bilhões de dólares - mais precisamente US$ 81,9 bilhões - que flui em uma única direção. Porém, muitas vezes, é descolado da realidade. No caso, o descompasso é tanto que o mercado já fala em alta de 1,25 ponto na taxa Selic ainda neste ano - e mais 0,25 em janeiro de 2025.
Daí porque não é de hoje que surgem os alertas de que o pessimismo sem precedentes nos negócios locais é exagerado. Portanto, não se trata de uma questão binária, na qual ou o Executivo se curva ao mercado - tal qual se crê que fez o Copom em junho - ou os ruídos políticos vão continuar incomodando a ponto de ter de subir, de fato, o juro básico em breve.
Não é o caso de negar a falta de credibilidade do governo no mercado. Mas tampouco é o de chancelar o comportamento depreciado dos ativos domésticos devido aos riscos fiscais. Ainda mais, levando-se em conta os indicadores econômicos. Aliás, foi esse o argumento do ministro Fernando Haddad (Fazenda), citando o “bom desempenho da arrecadação”.
E agora, quem poderá socorrer?
Nessa queda-de-braço, o economista André Perfeito resume: “o Brasil se ‘auto feriu’ sem precisar; tropeçou sozinho mais uma vez”. E vai além: “Esta confusão irá custar uma pequena fortuna, mais uma, para todos nós”. Afinal, se o câmbio não alterar a rota, os preços devem ficar mais salgados, com a inflação pesando no bolso dos consumidores.
Mas o socorro pode vir de fora. Se aqui a bolsa brasileira está amassada, em Nova York, as ações estão muito esticadas. Em outras palavras, enquanto o Ibovespa está “barato” e dispõe de ativos capazes de garantir retorno aos investidores daqui até o fim do ano, a relação preço/lucro dos índices acionários norte-americano está muito acima da média.
Assim, enquanto se espera uma “tempestade de verão” em Wall Street neste trimestre, com uma série de razões que devem levar à retração do mercado de ações nos EUA, o espaço para novas quedas do índice da bolsa local parece limitado. Portanto, é a disparada do dólar e o prêmio embutido nos juros futuros por aqui que estão fora de ordem.
Não é à toa que os futuros amanheceram no vermelho, à espera do discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell (10h30) e do relatório Jolts sobre a oferta de vagas nos EUA em maio (11h). Ambos devem reforçar as chances de corte na taxa de juros norte-americana em setembro - algo que costuma ser bom para os emergentes.