Reflexões
A chamada do título é meio tendenciosa, eu sei.
Dá a entender que, de alguma maneira, eu tenho ideia de para onde a bolsa vai.
Eu não sei. Eu nunca sei.
Mas acredito que passado alguns meses desde o ápice da crise, a gente já pode fazer uma pausa para algumas reflexões.
A primeira delas é que ter entrado em pânico ao longo dos últimos meses de nada serviu.
Em eventos como este, ou você puxa o gatilho rápido, (panic first) ou você não puxa (or don't panic).
Já que não fomos capazes de prever uma das maiores e mais rápidas quedas de todos os tempos, mantivemos a calma e seguramos as emoções quando havia "sangue nas ruas".
Não tenho a menor dúvida de que este foi o nosso melhor feito do primeiro semestre.
A constatação dessa nossa contribuição é que o feedback mais recorrente que recebemos hoje em dia são de assinantes agradecendo por termos passado calma e serenidade durante os momentos mais tensos do mercado.
É verdade que quanto mais profunda e doída uma crise é, maior o aprendizado.
Para além dos ensinamentos, é compensador pensar que o patrimônio de muitas pessoas foi preservado.
Reflexões II
A segunda reflexão é que ter ficado cauteloso aos 60 mil pontos não funcionou.
Especialistas que recomendaram comprar ouro, dólar e proteções no auge do furacão viraram a mão só agora, nos 100 mil pontos.
Sem qualquer constrangimento e com uma boa dose de cherry picking (escolher a dedo só aquelas que interessam): "Olha aqui as ações que eu recomendei e que subiram mais de XX por cento nas últimas semanas".
É curioso, porque a cartilha de melhores práticas de um investidor está disponível há décadas.
"Compre na baixa, venda na alta"
“Compre ao som dos canhões e venda ao som dos violinos"
"Seja agressivo no pânico, e cauteloso na euforia"
“Não há dias ruins no mercado. Quando o mercado está em baixa, você tem pechinchas e é ótimo pensar no que está comprando a preços baixos. Quando o mercado está em alta, as barganhas desapareceram, mas você ficou rico."
Toda a vez que você flertar em fazer algo diferente disso, repense.
Instintivamente, a gente pensa que quando a bolsa está caindo, ela vai cair para sempre. Da mesma forma que quando a bolsa está subindo, ficamos mais confiantes e achamos que ela vai subir para sempre.
A pergunta que vem a seguir então é: aos 100 mil pontos, já é hora de pular fora?
O que fazer
Não, não é hora de pular fora.
Mas isso só serve para você que está alinhado comigo em não tentar apinhar os movimentos de curto prazo do mercado.
Aqui é longo prazo.Na minha visão, a crise interrompeu momentaneamente uma mudança estrutural que vinha ocorrendo na bolsa brasileira, e que deve ser retomada de forma mais duradoura daqui em diante.
Em outras oportunidades eu já mostrei aqui 3 gráficos que corroboram para esta tese.
O primeiro deles mostra o earnings yield da bolsa vs. o juros pré fixado de 3 anos.
O earnings yield mede a lucratividade das ações da bolsa em termos percentuais. Isso significa que comprando 100 reais em ações, você está levando ao redor de 6 por cento de lucro das empresas.
Em nenhum momento dos últimos 13 anos, essa diferença entre o lucro das empresas e o que se ganha na renda fixa foi tão grande.
Fonte: SFA Investimentos
Naturalmente, por conta dos impactados da pandemia, os lucros das companhias devem ser menores nos próximos trimestres.
Mas como os dados recentes de atividade vêm mostrando — inclusive animaram a bolsa nos últimos dias — podemos ter uma recuperação econômica mais rápida do que o inicialmente previsto. Por consequência, os lucros também podem ser revistos para cima.
Essa mudança no panorama para o investimento em ações é tão transformacional que até o pidend yield (parte do lucro distribuído pelas empresas como forma de pidendos em termos percentuais) está próximo de superar os juros da renda fixa também.
Fonte: SFA Investimentos
Note que nos últimos 13 anos as duas linhas nem ao menos flertaram com uma aproximação.
O terceiro e último gráfico, que eu gosto sempre de mostrar, é o de como, no longo prazo, a bolsa sobe com o lucro das empresas.
Fonte: Bloomberg
O segundo semestre promete ser riquíssimo em notícias negativas sobre a pandemia, o cenário político e, além disso, teremos eleições.
Alarmistas vão tentar desviar o seu foco desse grande movimento que está prestes a acontecer para o investimento em ações.
Estaremos aqui para evitar que isso aconteça.
Bom segundo semestre para todos nós