Depois de quase uma década, os investidores do ouro estão em êxtase com a possibilidade de o metal precioso registrar uma nova máxima acima de US$ 1.800 em 2020, já que acreditam cada vez mais que um novo pico recorde está ao seu alcance.
Mas, como diriam os operadores ou analistas mais experientes, a paciência é uma virtude indispensável ao investir nesse porto seguro, para não dizer em todas as commodities.
A nova onda mundial de coronavírus e a expectativa de desvalorização do dólar pela constante injeção monetária do Federal Reserve nos mercados para evitar mais uma convulsão econômica certamente colocarão o ouro em condições de romper os US$ 1.850 e tentar revisitar a máxima histórica acima de US$ 1.900.
Mas as negociações dos futuros do ouro para agosto na COMEX em torno de US$ 1.805 – após a máxima da sessão anterior um pouco acima de US$ 1.810 – mostram que o metal ainda precisa se valorizar US$ 100 para atingir a máxima recorde de setembro de 2011 a US$ 1.911,60.
O ouro spot girava em torno de US$ 1.795, o que representa um gap ainda maior de US$ 125 em relação ao seu pico histórico de US$ 1.920,85 cravado há nove anos.
A natureza imprevisível do ouro – e o fato de que seu mercado é um dos mais líquidos entre as commodities – faz com que o fechamento desse gap de US$ 100 seja bastante possível em um ou dois dias sob as condições mais extraordinárias. Mas também existe o outro lado da moeda, que é a possibilidade de o metal sofrer uma reversão e devolver todos os seus ganhos – ou até mais.
Alto volume de posições compradas torna o ouro vulnerável
Christopher Vecchio, analista independente que contribui para o Daily FX, revelou que os dados dos investidores de varejo no ouro mostravam que 66,57% deles estavam comprados, sendo que a relação posições de compra e venda era de 1,99 para 1.
“O número de investidores comprados é 4,29% menor do que ontem e está 1,45% abaixo do da semana passada, enquanto a quantidade de operadores posicionados na venda é 1,98% inferior a ontem e 6,12% mais baixo do que na semana passada."
“A combinação do atual sentimento e das recentes mudanças nos faz adotar um viés misto para o ouro.”
“Geralmente adotamos uma visão contrária ao sentimento da maioria”, afirmou, complementando que a maior parte das posições de compra no mercado sugere que os preços do ouro podem cair antes de ampliar o rali para além dos US$ 1.800.
Mas Vecchio ressaltou que, se os compradores do ouro evitarem que o porto seguro derrape abaixo de US$ 1.748, a próxima pernada de alta deve atingir US$ 1.821.
O analista disse ainda:
“O suporte está na média móvel exponencial de 5 dias, já que os preços do ouro não fecham abaixo dela desde 24 de junho.”
Teoria da “alta intacta” para o ouro ainda é válida
Assim como Vecchio, muitos demonstram estar convencidos da teoria da “alta intacta” no ouro, mas ressaltam que o teste da máxima histórica deve ocorrer mais para o fim do ano, e não no curto prazo.
Anuj Gupta, vice-presidente de pesquisa em câmbio e commodities da Angel Broking, na Índia, é uma dessas pessoas.
“Os preços do ouro continuam muito perto do seu recorde anual, e os analistas acreditam que o movimento não vai perder força", declarou Gupta em uma publicação online na terça-feira. “Nos próximos meses, a expectativa é que o metal precioso supere seu recorde histórico de US$ 1.921 registrado em setembro de 2011.”
Chris Beauchamp, analista-chefe de mercado na IG concordou, em um comentário publicado na terça-feira:
“O preço do ouro está andando de lado mais uma vez, mas a tendência de alta geral continua firme e intacta. Um movimento abaixo dos US$ 1.750 pode indicar certa fraqueza no curto prazo, mas, por enquanto, o caminho mais provável é para cima.”
Alvos ambiciosos
Muitas casas de análise definiram preços-alvo ambiciosos para o ouro, caso o metal consiga registrar novas máximas acima de US$ 1.800.
Os analistas do Citigroup elevaram sua previsão trimestral para US$ 1.825 por onça, em comparação com a projeção de US$ 1.715 para o segundo semestre de 2020 publicada ao final de maio. Para 2021, seu alvo é de US$ 2.000.
O Goldman Sachs também prevê que o ouro alcançará US$ 2.000 no médio prazo.
Não poderíamos deixar de notar que algumas previsões soam bastante insólitas.
O analista independente Dan Popescu, por exemplo, foi citado ao dizer que acreditava que o ouro atingiria US$ 5.000 nos próximos cinco anos.
A corretora canadense TD Securities afirmou que muitas variáveis do mercado favoreciam o ouro.
“Como os títulos de 10 anos do tesouro americano não param de registrar novas máximas pós-covid, a normalização das expectativas de inflação podem continuar sendo um poderoso vetor, alçando os preços do ouro ainda mais dentro do território dos US$ 1.800/oz”, disseram os analistas da TD Securities em uma nota na terça-feira.
“O cenário prospectivo com estímulo fiscal de tempos de guerra, a incorporação de ‘metas de inflação simétricas’ pelo banco central [americano] e o recrudescimento da globalização também sugerem que os ativos que oferecem proteção contra a inflação podem ganhar popularidade.”
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