Por Clement Thibault
A Amazon deverá divulgar seus resultados do terceiro trimestre nesta quinta-feira (27/10), logo após o fechamento do mercado nos Estados Unidos.
1. Lucro e receita
A Amazon deverá divulgar lucro por ação (LPA) de US$ 0,76, com receitas de US$ 32,66 bilhões. A comparação com o LPA do último ano não tem muito valor, já que a Amazon só passou a ser lucrativa há três trimestres. Mesmo assim, o aumento de receita é impressionante para uma companhia deste tamanho. A expectativa é de alta de 28,7% na comparação anual frente aos US$ 25,36 bilhões apresentados no fechamento do terceiro trimestre de 2015.
2. Vendas no varejo
Quando você pensa que a Amazon pode estar reduzindo seu ritmo de crescimento, ela surpreende e aumenta a velocidade de ganhos novamente. No segundo trimestre, a receita apurada na América do Norte aumentou 28%, contra crescimento de 26% no primeiro trimestre. As margens operacionais também subiram na região, de 3,4%, de janeiro a março, para 3,9% no 2T, alta de 50 pontos base no mesmo período. O crescimento das receitas na América do Norte veio em grande parte do aumento das vendas, o que reflete uma simples verdade: a Amazon consegue vender cada vez mais produtos.
De acordo com os relatórios mais recentes, a Amazon está se transformando no novo Google para busca de produtos online superando a empresa de busca para muitos consumidores. Mais de 55% dos norte-americanos vão primeiro à Amazon, comparado aos 27% que recorrem aos sites de busca quando querem buscar algum produto. A tendência claramente favorece a Amazon. No ano passado, ‘apenas’ 44% das primeiras buscas de produtos começava na Amazon.
Internacionalmente, a Amazon deverá alcançar US$ 10 bilhões em vendas no terceiro trimestre pela primeira vez. Essa é uma notícia ainda melhor quando se olha para as vendas futuras. O motivo é: enquanto a área permanece no vermelho por causa dos altos custos de infraestrutura – que no último trimestre somaram US$ 9,75 bilhões para todo o site – a operação e as vendas potenciais fora da América do Norte ainda não amadureceram. Isso quer dizer que a infraestrutura ainda é um item em desenvolvimento. Com as tradicionais pequenas margens do varejo, esse cenário coloca o resultado da Amazon no vermelho, mas somente por agora. Com o crescimento das operações da empresa no exterior, é uma boa aposta acreditar que a lucratividade dessa área não está muito longe.
Um driver interessante pode vir da Índia, onde a Flipkart, líder do comércio eletrônico local, e a Walmart estão conversando sobre uma parceria para bloquear a Amazon de tomar o mercado indiano emergente e potencialmente lucrativo. Em resposta, o CEO da Amazon, Jeff Bezos, prometeu investir mais US$ 3 bilhões no desenvolvimento da empresa no país.
3. Amazon Web Services
Para os lucros da empresa, a Amazon Web Services (AWS) é sempre uma boa surpresa. A Amazon foi uma das primeiras empresas a explorar a computação na nuvem, que atualmente oferece ótimos resultados para a companhia. No trimestre passado, a receita da AWS ficou em US$ 2,9 bilhões, ou 9,5% da receita total da empresa. A contribuição da AWS para o lucro é surpreendentemente desproporcional – representa 55% do lucro operacional de toda a empresa, dada a grande diferença de margem entre a computação em nuvem e as vendas do varejo. Enquanto a AWS tem margem de cerca de 25% as do varejo ficam apenas um dígito.
4. Conteúdo
Este é possivelmente o segmento mais subestimado dos negócios da Amazon. O serviço Prime Video, ligado à assinatura Prime – mas também disponível como para assinatura individual a partir de abril deste ano – chegou um pouco tarde à festa dos vídeos por streaming sob demanda, mas mesmo assim é um importante player agora. Até o momento, o Netflix se mantém como o líder nessa categoria, mas a Amazon vem ganhando terreno significativa e rapidamente, especialmente em relação à satisfação do consumidor. Pesquisa receite com assinantes mostrou que 58% estavam ‘muito satisfeitos’ com o serviço, comparado aos 59% do Netflix.
Na última conferência com analistas, o CFO da Amazon, Brian Olsavsky, disse que a companhia dobraria seu investimento em vídeos, ao mesmo tempo que triplicaria o conteúdo próprio oferecido. Os gastos com “Conteúdo e Tecnologia” foram de US$ 3,8 bilhões no último trimestre, mostrando que a Amazon não está satisfeita em seguir atrás do Netflix. A Amazon Studios, que produz a programação original da empresa, lançou em setembro de 2014 publicou a série Transparent, muito elogiada pela crítica e que ganhou cinco prêmios Emmy apenas na primeira temporada. A The Man in the High Castle lançada em 2015 foi renovada por mais uma temporada e o primeiro episódio estará disponível em dezembro, assim como a muito aguardada Good Girls Revolt, que começa na sexta-feira.
5. Entregas
O negócio da Amazon é baseado na capacidade da empresa em entregar produtos de forma rápida e eficiente. A última inovação da área de entregas da Amazon é a rede dedicada de aviões. Na verdade, a Amazon passa a ter uma frota própria de aeronaves. Em agosto, a empresa anunciou a Amazon One, com aviões Boeing 767-300 para ampliar sua capacidade de entrega de produtos em um ou dois dias dentro dos EUA. Segundo o plano da Amazon, a companhia terá eventualmente 40 aeronaves, sendo 11 exclusivamente dedicadas a entregas. Soma-se a essa estratégia a licença de navegação marítima concedida à empresa pela autoridade do setor nos EUA, o que indica claramente que uma grande rede de entregas está sendo formada.
Conclusão
A nossa opinião sobre a Amazon não se alterou desde o último trimestre. Nós continuamos a acreditar que é uma companhia única com muito espaço de crescimento em todos os segmentos de negócios. A US$ 835,18 no fechamento de ontem, acreditamos que a precificação da ação está no patamar correto.
A relação preço sobre lucro está atualmente em 207, mas é esperado que caia para 78 considerando as previsões de resultados do próximo ano. Isso significa que, de acordo com as expectativas e o preço atual da ação, a relação vai cair quase dois terços. A questão é: a cotação do papel vai acompanhar para manter na casa das centenas o preço sobre lucro ou o valor vai estagnar e deixar o P/L variar com o aumento de ganhos?
A Amazon é uma das empresas mais difíceis de prever dado ao seu valuation. Se, por um lado, as perspectivas de vendas são potencialmente significativas, por outro, o custo da ação é caro, como é evidente pelo seu gigante P/L
Apesar disso, há um ano as ações da Amazon estavam sendo negociadas a US$ 530. Dois anos antes, em setembro, o preço era de US$ 320. É um aumento impressionante de 56% na cotação e de 67% se considerada a máxima do período. Existe mais espaço para alta no preço da ação, mas a subida meteórica descrita acima mostra que é mais possível que a trajetória de alta esteja perto do fim do que do começo. Na nossa opinião, a Amazon é um caso clássico de grande risco para grandes retornos. Se você tolera mais risco, pode ser uma boa compra.