Publicado originalmente em inglês em 23/12/2021
Com a chegada do fim de 2021, creio que seria útil analisar como os mercados petrolíferos se saíram neste ano e quais questões acabaram sendo seus vetores de preço mais importantes.
O barril do West Texas Intermediate (WTI) começou o ano um pouco abaixo de US$50 e atingiu a máxima de US$83, antes de cair até a mínima na faixa intermediária de US$70, onde deve encerrar o ano. O barril de Brent exibiu comportamento similar.
1. Pandemia
A pandemia do coronavírus continuou sendo um fator preponderante nos mercados de energia em 2021. Enquanto 2020 ficou marcado pelos lockdowns e restrições de deslocamento, o foco em 2021 mudou para a recuperação das economias e das viagens em particular, até o mês de dezembro.
O processo de retomada econômica foi desigual, com alguns setores recuperando-se muito mais rapidamente do que outros. Apesar da sua ascensão e narrativa de crescimento, os mercados de energia permaneceram suscetíveis ao medo e ao pânico, primeiro por causa da variante delta, depois por causa da cepa ômicron. De fato, a repentina queda dos preços do petróleo no dia seguinte ao feriado de Ação de Graças nos EUA coincidiu com notícias da emergência da variante ômicron. Isso evidencia que os mercados ainda estão voláteis e vulneráveis ao medo do vírus.
2. Inflação
A elevação dos preços de energia ajudou a impulsionar a inflação neste ano, mas, como ressaltei na semana passada, a inflação também agiu sobre os preços do setor. À medida que nos aproximamos do fim de 2021, não podemos subestimar o impacto que isso está tendo na manutenção da cotação do petróleo.
A inflação ajudou a garantir que os preços do petróleo não caíssem tanto, apesar do medo da variante ômicron e das crescentes restrições na Europa e partes da Ásia. A inflação também afetou a capacidade dos produtores de aumentar a oferta, em vista dos maiores custos em todas as etapas da perfuração e produção.
3. Viagens
As reservas de viagens aéreas cresceram em 2021, praticamente voltando aos níveis pré-pandemia nos Estados Unidos durante o feriado de Ação de Graças, que costuma ser o período mais agitado para esse tipo de viagem no ano.
As entregas de combustível de aviação nos EUA em 2021 cresceram de fevereiro a agosto e depois declinaram levemente até novembro. No entanto, a lacuna entre 2021 e 2019 atingiu seu ponto mais estreito, 10,8%, em novembro.
Os voos internacionais não subiram tanto quanto os voos domésticos e de carga. As viagens internacionais continuam sendo um ponto fraco e podem afetar a demanda petrolífera em 2022. Discutiremos isso em maiores detalhes na nossa coluna da semana que vem.
4. Preços da gasolina
Os preços da gasolina nos Estados Unidos foram a grande preocupação no segundo semestre de 2021. A média no país atingiu o pico de US$3,42 por galão em novembro, um aumento de 60% em relação ao ano anterior.
A tentativa do governo Biden de reduzir os preços com a liberação coordenada de petróleo das reservas estratégicas não gerou os resultados desejados, o que só foi alcançado com os temores relacionados à variante ômicron.
Neste fim de ano, contudo, a gasolina ainda continua alta nos Estados Unidos para a maioria dos consumidores, em vista das atuais condições econômicas.
5. Opep+
A Opep+ exerceu papel importante na promoção do mercado petrolífero em 2021, ao elevar gradualmente a produção para satisfazer a maior demanda. Em julho, havia certo receio de que o cartel entraria em colapso, quando surgiram rusgas na relação entre Arábia Saudita e Emirados Árabes em torno da velocidade com que a produção deveria aumentar.
Contudo, após maiores negociações, foi selado um acordo de longo prazo para aumentar a produção em 400.000 barris por dia a cada mês. Mas, como o grupo também concordou em se reunir mensalmente para revisar o plano, o mercado continuou alimentando a expectativa de que um novo acordo pudesse ser considerado nessas reuniões. Com isso, os preços tendem a ficar mais voláteis no início de cada mês, quando costumam acontecer as reuniões da Opep+.
6. Produção de petróleo nos EUA
Em 2020, a grande questão envolvendo a produção foi o excesso de oferta, de modo que os produtores tiveram que cortá-la para não sobrecarregar a capacidade de armazenamento. De acordo com a EIA, agência de informações energéticas dos EUA, a produção petrolífera no país caiu 8% em 2020, maior declínio já registrado na história.
Em 2021, a grande história foi que a produção norte-americana não subiu para se acomodar à demanda maior, como muitos esperavam. Em vez de voltar ao modo de “crescimento a qualquer custo” dos anos anteriores, os produtores petrolíferos dos EUA enxugaram seus orçamentos e, à medida que os preços subiam, direcionavam as receitas extras para quitar dívidas e retornar caixa aos acionistas.
A produção de petróleo nos EUA começou 2021 a 11 milhões de barris por dia (mbpd) e terminou o ano a 11,6 mbpd, apesar a significativa alta da commodity.
Na próxima semana, analisaremos o que esperar da produção dos EUA em 2022.