“Os ventos parecem que punitivamente ventam contra o Brasil” tendo em vista que fartam notícias ruins cotidianamente e há dúvidas se haverá acesso aos caminhos teoricamente definidos como atalhos para o soerguimento do país.
É inegável que o rebaixamento do rating da Petrobrás, que a levou a perder o grau de investimento respinga sobre o conceito de risco do país, que por sua vez se vê ameaçado pelo mesmo risco como consequência da fragilidade da sua política fiscal amplamente deteriorada, agora sob novo compromisso de alcançar 1,2% neste ano de 2015, com baixa credibilidade do mercado e dos analistas nesta projeção ante a perspectiva de repetência do crescimento negativo da economia.
O fato pode levar as agências de risco a serem menos tolerantes com o Brasil, caso não ocorram sinais positivos mais imediatos.
A gigante brasileira certamente terá dificuldades para cumprir seus investimentos programados, e poderá ser submetida a não rolagem de compromissos vincendos. E certamente haverá repercussões na cadeia de prestadores de serviços envolvidos em seus projetos.
Um tranco negativo na economia e um aumento dos problemas já prognosticados nas contas externas brasileiras que tende a adicionalmente perder fluxos de ingressos líquidos relevantes.
A consequência relevante deste cenário prospectivo que vai evidenciando complicações é a elevação das incertezas e a prosperidade das projeções ruins e sentimentos negativos.
Este é um sentimento que já vem se intensificando por parte do empresariado estabelecido no país e pela visão dos investidores externos.
O empresariado vem intensificando o grau de preocupação em torno da situação e dada ao baixo nível de confiança acentua a demanda por “hedge” para proteger não somente os compromissos de curto prazo em moeda estrangeira, mas ampliando-a até aos ativos investidos em dólares, e isto determina pressão no mercado futuro que culmina com a propulsão do preço da moeda americana, que como consequência natural eleva a taxa no mercado de câmbio a vista.
O Banco Central do Brasil por sua vez já mantém no mercado futuro elevado montante próximo de US$ 120,0 Bi de contratos de instrumentos financeiros denominados “swaps cambiais” e resiste à limitação autocriada da oferta adicional às rolagens de 2.000 contratos dia, o que é insuficiente para o momento.
Este quadro envolve demanda efetiva, mas evidentemente envolve movimentos especulativos discretos mas suficientes para determinar volatilidade, algo que a intervenção programada do BC já não inibe que ocorra naturalmente.
Na terça-feira conviveu-se com a ilusão de que a questão política, que emitia sinais de atravancamento à implementação das medidas de política econômica com ênfase à política fiscal, estava alinhada. E no mercado, demandadores efetivos e especuladores, impuseram uma baixa descabida no preço da moeda americana no nosso mercado, que com a percepção renovada de que o apoio do PMDB não era tão sólido e inquestionável, abriu ontem com forte correção, recolocando tudo em linha com a realidade, agregando então também o negativismo advindo do evento Petrobrás.
Mas claro está que a pressão altista, pelo menos por enquanto, não decorre da demanda no mercado à vista.
O BC deu evidência ontem de que o fluxo cambial neste ano está positivo em US$ 6,094 Bi até o dia 20 de fevereiro último e os bancos estão suportando posições vendidas geradoras de liquidez ao mercado no montante de US$ 22,1 Bi, fazendo o papel que deveria ser realizado pelo BC e parecem ainda confortáveis.
O grande problema no câmbio é a perspectiva.
Os números do setor externo foram bastante ruins e elevados em janeiro, com o déficit em contas correntes em torno de US$ 10,0 Bi frente a IED´s abaixo de US$ 4,0 Bi. Não se vislumbra tendência de melhora de fluxos positivos sustentáveis para o país, o que tende a levar o fluxo a negativo e a necessidade dos bancos ampliarem suas posições vendidas ou do BC entrar no mercado a vista ofertando cobertura, o que buscará evitar ao máximo.
As reservas cambiais estão em US$ 371,0 Bi, das quais se for retirado o montante de posições vendidas de US$ 22,0 Bi restarão liquidamente US$ 349,0 Bi.
Há empréstimos a liquidar da ordem de US$ 39,0 Bi este ano, que poderá ter parcela substantiva não rolada e agora surge o problema do risco Petrobrás que trará reflexos, afora os que já existiam envolvendo as empresas no seu entorno submetidas a investigações.
Não há efetivamente “sinais de mudanças nos ventos”, em especial no setor externo, muito pelo contrário, o quadro sugere agravamento.
A tendência de alta é fundamentada face à realidade perceptível em perspectiva. A questão do setor externo precisa ser precificada gradualmente na medida em que se consolide o cenário negativo prospectivo acreditado no momento.
O Brasil precisaria de resultados positivos animadores para mudar o contexto do setor externo, mas indiscutivelmente não tem como neste ano.
Todavia, se o BC fizer oferta adicional de “swaps cambiais” fora do “script” amenizará a pressão altista imediata que ocorre, quem sabe colocando a taxa em torno de R$ 2,80 para então subir gradualmente até o final do ano. Precisa quebrar as expectativas em torno de suas ações, contudo sem pré-avisos.
Mas não se devem esperar programas grandiosos adicionais de oferta de “swaps cambiais” por parte do BC de forma contínua, sendo certo também que não tem condições de interromper as rolagens a partir do final do 1º trimestre.