A emergência que não é urgente

Publicado 26.11.2013, 09:01

O tema Helicoverpa toma conta das discussões técnicas da agricultura brasileira. Esta praga veio para mostrar quão grande é a nossa fragilidade diante de uma emergência. A praga que já deu prejuízos superiores a dois bilhões em apenas uma safra, demonstra o quanto a cadeia produtiva de grãos e fibras, entre outras culturas, está despreparada para enfrentar situações como estas e apontar alternativas e buscar soluções urgentes.

O Brasil já deu provas que não só em caso de emergência fitossanitária, mas em casos de saúde pública e de calamidades por clima que não possui planos para reagir à altura da necessidade. E, infelizmente a produção brasileira tem enfrentado severos prejuízos por falta de visão e planejamento não só para encarar as situações de emergência, mas também para preveni-las.

O caso da ferrugem asiática da soja e da Helicoverpa demonstram claramente isto. Na ferrugem já perdemos mais de 20 bilhões e no caso da helicoverpa estamos indo para o mesmo caminho. O pior é que o governo age anestesiado, aquilo que é emergencial frente à reação governamental não parece urgente e com isto não se cria uma estratégia de ação focada em amenizar o impacto de uma praga ou doença.
O Brasil não tinha uma lei que tratasse da questão da emergência fitossanitária. No caso de aparecimento de uma praga nova e da necessidade do uso emergencial de um produto não registrado no Brasil, seria preciso dar entrada de um processo no nosso sistema de registro de agrotóxicos falido e dependente da anuência burocrática dos órgãos da agricultura, saúde e meio ambiente. Ou seja, um processo quase impossível de ser concluído e atender a uma emergência.

Por isso, foi feito um esforço muito grande que envolveu o governo, a pesquisa, os produtores e parlamentares e que culminou em uma legislação, novos decretos e portarias que permitiram ao Ministério da Agricultura tomar as decisões e ações para reagir em casos de emergência fitossanitária. Inclusive, quando necessário, permitir a importação e o registro emergencial de produtos de defesa fitossanitária, caso os já registrados não sejam suficientemente efetivos. Nada mais lógico, é como funciona hoje em casos de saúde pública, o ministério da saúde tem a anuência para reagir e tomar as decisões necessárias.

Claro que o setor produtivo afetado, em particular a Aprosoja e Abrapa, fez um esforço emergente e urgente para buscar soluções e construir uma legislação para permitir ações em estado de emergência, como viabilizar a aplicação do Benzoato em caráter emergencial, e cabe aqui ressaltar a atuação da FPA e do MAPA que foi provincial e imprescindível. Mas apesar de todo o esforço, o sistema burocrático brasileiro não acompanha a realidade e a emergência passa a não ser urgente. É a burocracia brasileira e as ideologias causando prejuízos à produção brasileira.

Tenho dito em todos os fóruns dos quais participo que o processo de emergência deveria ser simplificado já que a Embrapa declarou que a praga Helicoverpa está em todos os estados produtores do país. O governo deveria decretar emergência para o país, e daí sim, cada produtor que precisasse usar o Benzoato em sua propriedade, teria que ter um laudo de um técnico com o devido receituário agronômico para poder aplicá-lo, se necessário.

Outra ação necessária e que deveria ser o primeiro passo em caso de emergência em qualquer área seria treinar pessoas para que possam agir. O governo deveria ter imediatamente desencadeado fóruns em todos os estados treinando técnicos para que em pouco tempo tivéssemos equipes preparadas nos municípios agrícolas do país. Estes profissionais saberiam identificar a praga e recomendar as medidas necessárias. Mas o que pude observar é que há muita lentidão e pouca atitude urgente e prática para amenizar os danos.

E por conta da falta de uma reação rápida, Infelizmente, o que vemos no campo é pânico pela falta de informação. E a Aprosoja tem feito um grande esforço para levar informação ao produtor, fazendo inclusive papel de governo. Eu inclusive alertei ao MAPA na pessoa do Luís Eduardo Pacifici Rangel que estamos vendo muito abuso de preços de inseticidas no campo, o MAPA deveria também em casos de emergência como este coibir abusos. Hoje há alguns produtos que estão sendo vendidos pelo dobro do preço e alegações de que vai faltar. Já ouvimos casos de empresas que estão fazendo terrorismo com os produtores, incentivando as aplicações preventivas e para tomarem cuidado porque até pneu de carro a lagarta come.

No fórum Soja Brasil realizado em Dourados-MS eu disse da importância de investimentos na Embrapa para que possamos agir mais preventivamente. Precisamos de pesquisa para que possamos aprender não só manejar a praga, mas também a evitá-la. Vejamos no caso da ferrugem: a doença está há mais de dez anos dando bilhões de prejuízos ao Brasil e não temos nenhuma pesquisa que direcione para seu controle como ocorreu com outras doenças anteriores. Isso precisa ser corrigido.

A produção brasileira se encontra em uma sinuca de bico, por um lado temos dificuldade de aprovar novos produtos para o controle fitossanitário, temos toda uma ideologia impregnada contra transgênicos, grandes esforços para tirar os produtos já aprovados do mercado. Por outro lado, não vemos investimentos governamentais, na nossa esperança, que é a Embrapa, a qual, inclusive, precisa ser reinventada e se aproximar mais dos produtores para efetivamente transferir conhecimento.

Mas pelo menos temos um aspecto positivo no aparecimento da Helicoverpa armigera. Ela mostrou novamente a fragilidade da defesa vegetal do país e fez o setor produtivo reagir e com todos os elos da cadeia. Agora, precisamos pensar estrategicamente, sem ideologias, em como fazer uma agricultura sustentável num país tropical, e criarmos estratégias operacionais para controle de pragas e doenças. Caso contrário, continuaremos pagando caro para aprender e este caro tem custado toda uma vida de trabalho de milhares de produtores.

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