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A encruzilhada do Fed: inflação em alta, desemprego em baixa e crise bancária

Publicado 16.03.2023, 10:05
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O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, não está numa posição invejável. Os dados do núcleo de inflação liberados nesta terça-feira (14) mostram que o mercado não está sentindo os efeitos do forte aumento nas taxas de juros. Ao mesmo tempo, o desemprego no país está nos níveis mais baixos em décadas, com aumentos salariais pressionando ainda mais a inflação.

Não bastasse isso, o colapso do Silicon Valley Bank (SVB), que escapou das regulações bancárias tradicionais graças a um arcabouço fiscal aprovado durante o mandato de Donald Trump, sofreu uma corrida bancária e foi declarado insolvente. O motivo? Precisamente os aumentos na taxa de juros que o Fed precisou realizar para tentar conter a inflação – e que agora, está sujeita a revisões por medo de um contágio ao setor bancário mais amplo.

Em termos mais diretos, a instituição está com problemas sérios nos três mandatos que possui: combate à inflação, estímulo ao pleno emprego e manutenção da estabilidade do sistema financeiro. Ao subir as taxas de juros para combater a inflação, a tendência era aumentar o desemprego, mas em larga medida não afetaria a estabilidade do sistema bancário, que simplesmente se adequaria às novas taxas.

Entretanto, como podemos notar, a teoria não se concretizou na prática – algo que, em Economia, é relativamente comum. Não só o mercado de trabalho reagiu aos aumentos de juros com mais contratações – em janeiro, por exemplo, foram geradas 500 mil vagas, contra um esperado de cerca de 185 mil – como ainda resultou na desestabilização do sistema bancário, exemplificado pelo caso SVB – segundo maior da história moderna dos EUA.

O resultado concreto desse desalinhamento entre o que era esperado e o que foi colhido faz com que, agora, o Fed tenha que reconsiderar sua capacidade de seguir utilizando o aumento de juros como ferramenta principal para combate à inflação. Isto porque uma eventual crise bancária em instituições menores, mas estruturalmente similares ao SVB, é muito mais preocupante que a inflação, que corre a três vezes o valor da meta.

Um dos caminhos para um possível arrefecimento no aumento dos preços é uma provável recessão nos EUA. Embora o país tenha critérios muito peculiares para definir uma recessão em termos oficiais, a inversão na curva de retornos dos títulos do tesouro americano de dez e dois anos sugere, com uma precisão histórica bastante alta, que o país provavelmente passará um período de estagnação econômica – embora seja impossível saber a quão severa, e duradoura, ela tende a ser.

Tenha-se em mente que esse cenário não leva em conta os diversos outros obstáculos macroeconômicos globais, que tendem a dificultar ainda mais o trabalho da equipe do Fed, assim como dos demais departamentos financeiros e monetários dos EUA. Há uma guerra entre Rússia e Ucrânia, que afeta diretamente o suprimento de energia da Europa – que sofre com uma desaceleração generalizada.

Na Ásia, o crescimento forte e, ao que parece, bastante sustentável da China, em estreita relação com a Rússia e Índia, pressiona a hegemonia dos EUA no continente na medida em que o Japão segue incapaz de gerar crescimento. Na medida em que crescem as preocupações dos EUA com a transferência de tecnologia para a China, que conta com o segundo maior exército do planeta e detém uma parcela considerável da dívida americana, a situação se torna diplomaticamente muito mais complexa.

Como se portar diante desse cenário?

Embora o cenário seja muito pouco animador para quem investe em renda variável, tanto a nível nacional quanto global, isso não significa que algo deva ser feito em relação a uma carteira com uma boa alocação estrutural. Vale (BVMF:VALE3) VALE3 sempre lembrar que uma amplamente diversificada teria sobrevivido a todos os grandes traumas dos últimos 120 anos. Incluindo, para além da quebra de 29 e da crise de 2008, não uma, mas duas guerras mundiais.

Manter uma exposição diversificada em índices de ação nacionais e internacionais, que não estão limitados apenas ao S&P 500 – que está restrito às large caps dos EUA -, tende a entregar prêmios muito atraentes para quem tiver a disciplina e a paciência de manter sua exposição. Além, claro, da humildade de aceitar que, historicamente, os mercados quase sempre entregaram esse prêmio de risco adicional.

Contudo, na medida em que também compreendemos que isso não é fácil, reforçamos a importância de um acompanhamento isento de conflitos de interesses para ajudar você no acompanhamento psicológico. Afinal, quando tratamos de finanças pessoais, a pessoa precisa ser colocada no centro do processo – o que envolve tanto explicar os riscos do presente, quanto os prêmios que futuro costuma guardar para quem superá-los.

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