Tenho um grande amigo que, chegando aos sessenta e tantos anos, um dia me disse que, nesse negócio de investimentos, nunca havia conseguido resultados expressivos. Os resultados mais significativos mesmo vieram de sua atividade principal, enquanto os rendimentos dos investimentos sempre passaram bem longe do que ele conseguiu no seu negócio.
Trata-se de um empresário de sucesso, sócio de uma empresa de sólida reputação no seu ramo de atuação. Foi fundada há 40 anos e tem um histórico de bons serviços entregues. Navegou nos diversos momentos da economia brasileira (bons e ruins) com habilidade, sabendo adequar seu planejamento e tática para obter um desempenho muito positivo no longo prazo.
Nos momentos ruins, reduziu o tamanho e os custos, e assim se manteve vivo. Nos bons momentos, obteve resultados robustos que fizeram com que existisse, sempre, uma sobra consistente. O que fez aumentar seu patrimônio pessoal ao longo desse grande tempo em atividade. Hoje, podemos falar que ele está entre os 1% de pessoas mais ricas do país.
Cliente disputado pelos bancos, gestores de patrimônio, casas de investimento, plataformas e todo o tipo de distribuidores de serviços e produtos de investimento. O que existe de mais sofisticado à disposição dos endinheirados brasileiros, ele tem acesso. Assessoria e aconselhamento financeiros de altíssimo nível estão diariamente à disposição.
Ele é atendido pelo segmento chamado Private Bank. O que o mercado considera ser a melhor do classe de serviços aos clientes no mundo dos investimentos e alocação de patrimônio. Mas, mesmo assim, com todo esse aparato de sugestões, indicações, aconselhamentos, o resultado é considerado apenas “bom” pelas palavras deles mesmo. “nada de excepcional”
Segundo ele, seu resultado até aqui tem sido uma compensação pela perda de poder compra ocasionado pela inflação e, eventualmente, algum ganho acima disso. Nos momentos de crise, sofre como todos nós cidadãos médios e, nos bons, ganha um pouco a mais que a média.
No seu negócio principal, porém, a riqueza foi feita ao longo do tempo e continua assim. Ele é um especialista no tema em que atua. Assume riscos inerentes ao negócio, mas sempre, muito bem mapeados, porque ele, mais que ninguém, sabe do que se trata. Sabe achar atalhos que ninguém vê, aproveita espaços, tudo isso jogando dentro da regra, sem transigir do cumprimento do correto. Isso gera um ótimo resultado, muito acima do seu portfólio de investimentos.
O que nos traz à luz uma indicação sobre o desejo de muitos de “viver de investimentos”. Para viver de investimentos, você deveria ter resultados muito acima da inflação, para que fosse possível usar parte dos ganhos com suas despesas e outra parte do ganho deveria compensar a perda de poder de compra. Seu saldo investido estaria protegido para se manter ao longo do tempo. Meu amigo relata que isso é muito longe da realidade de uma pessoa que tem grande experiência como investidor.
O ato de investir deve ser sempre realizado com os pés no chão, admitindo as limitações que são inerentes ao mercado. Não tenha expectativas muito altas, o mercado vai te frustrar.
Focar no seu negócio principal, na atividade onde você tem capacidade – o chamado círculo de competência – onde você se distingue dos outros pela qualidade, experiência e nome - deveria ser o objetivo de todos.
Conseguir, através de investimentos, proteger-se da inflação e eventualmente ter resultados acima disso (que podem ir aumentando seu patrimônio aos poucos, não só nominalmente, mas sim , acima da perda do poder de compra) já será um grande objetivo. Não se iluda com as falsas promessas do mercado ou das ofertas malucas que acontecem o tempo todo. Foque no que você faz de melhor, cuide de você e de sua família, e tenha investimentos conservadores, regulares e com visão de longo prazo.
Fora disso, o risco é grande, meu amigo!