Prever o movimento do mercado é extremamente complexo devido aos inúmeros fatores que podem afetar as expectativas dos investidores, que por sua vez guiam a direção dos ativos.
Jeremy Siegel realizou um profundo estudo sobre “o que move o mercado?”. Sua análise foi feita de 1885 até 2012 no índice Dow Jones Industrial Average e segundo ele: “talvez surpreenda os investidores o fato de que, na vasta maioria dos casos, os principais movimentos do mercado não são acompanhados de nenhuma notícia de importância suficiente para explicar as mudanças de preços”.
Conforme o renomado professor de finanças da Wharton School, apenas 35 das 145 grandes variações no DJIA podem ser atribuídas a eventos políticos ou econômicos mundiais significativos – como guerras, mudanças de governo, entre outros – ao longo do período.
A avaliação das notícias que impactam o mercado em um determinado pregão apresenta desafios adicionais, pois diferentes veículos de informação podem relatar motivos distintos para o movimento. Isso também se reflete entre os profissionais do mercado financeiro, que podem divergir sobre o que realmente provocou a movimentação das ações, commodities ou índices em um determinado dia.
É relativamente comum ler manchetes distintas sobre o pregão, por exemplo: um determinado canal de informação financeira pode apontar uma alteração legislativa como principal evento para um ganho ou uma perda diária no índice, enquanto outro meio pode relatar que foi devido a algum dado de inflação.
Nesse contexto, os indicadores econômicos ganham destaque, pois desempenham papel fundamental na compreensão das flutuações do mercado no curto prazo.
Indicadores econômicos
Os indicadores são informações baseadas no nível de atividade econômica e inflação, sendo capazes de elevar consideravelmente a volatilidade dos ativos no momento da divulgação. Se você opera ativamente no mercado, certamente já se deparou com termos como PIB (Produto Interno Bruto), IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), CPI (Consumer Price Index), PCE (Personal Consumption Expenditures), PMI (Purchasing Managers' Index), relatório Payroll, taxa de desemprego, produção industrial, vendas no varejo, entre outros.
Os dados econômicos são oficialmente relatados por órgãos governamentais ou instituições privadas, seguindo horários predefinidos para a sua publicação. Quais os indicadores serão divulgados no dia e os respectivos horários podem ser facilmente encontrados no calendário econômico das plataformas de operações e sites especializados.
Para os operadores da B3 (BVMF:B3SA3), os indicadores econômicos do Brasil e dos Estados Unidos são capazes de “fazer preço”, ou seja, movimentarem as ações, índice e dólar. É essencial ressaltar que os dados possuem relevâncias diferentes, há os considerados de alto, médio e baixo impacto. Sendo assim, alguns são mais observados pelos investidores pela capacidade de ampliar a volatilidade.
Além disso, a relevância pode ser maior ou menor de acordo com o ciclo econômico. Recentemente vimos as medidas de inflação, que são consideradas de alto impacto, ganharem ainda mais visibilidade pela pressão inflacionária em diversos países ao redor do globo. O efeito foi sentido na dinâmica de juros dos bancos centrais.
Como demonstração da possibilidade de aumento das oscilações de preço, observe abaixo o gráfico de 5 minutos do contrato futuro do Ibovespa no dia 14 de novembro de 2023.
A amplitude do candle das 10h30 ultrapassou os 2.500 pontos, bem superior aos demais, após a divulgação do CPI pelo Departamento do Trabalho americano. O principal índice de inflação ao consumidor dos EUA veio abaixo do esperado pelo mercado na data.
Consenso
A estimativa consensual, usualmente chamada de expectativa do mercado, nada mais é do que a mediana das projeções dos profissionais das instituições financeiras.
Siegel aponta que “os mercados não reagem diretamente ao que é divulgado; na verdade, eles reagem à diferença entre o que os traders esperam que ocorra e o que realmente ocorre”. Portanto, o principal ponto de avaliação é a discrepância do resultado e o consenso. Ele complementa: “o motivo pelo qual os mercados reagem somente à diferença entre as expectativas e não ao que de fato ocorre é que os preços dos títulos incorporam todas as informações esperadas”.
Uma observação importante é que o mercado tende a reagir de forma mais intensa quando os dados semelhantes movem-se na mesma direção. Dessa forma, se for anunciada uma inflação acima da esperada, no mês seguinte a reação deverá ser mais vigorosa a uma divulgação superior ao consenso. Essa tendência é válida para os principais indicadores econômicos.
Outros aspectos que demandam atenção por parte dos operadores estão relacionados às decisões de taxas de juros e aos pronunciamentos dos presidentes dos bancos centrais. Jeremy Siegel relata que “a política monetária é o maior desencadeador dos surtos maciços de euforia e medo no mercado”.
Os profissionais do mercado financeiro sabem – pois vivenciam isso – como a fala do presidente do Fed e do BC brasileiro podem movimentar os ativos locais.
Por fim
Além dos balanços corporativos que são capazes de movimentar as ações, os resultados vinculados ao crescimento econômico, as medidas de preços e as decisões de taxas de juros, bem como a perspectiva da direção da política monetária, também exercem grande impacto no mercado.
Como visto, menos de um quarto dos principais movimentos do mercado estão associados a acontecimentos de grande importância política ou econômica no longo período estudado pelo Siegel.
O Brasil, diferente dos Estados Unidos, é um país emergente. Consequentemente, os ruídos políticos e fiscais tendem a gerar maiores efeitos na bolsa brasileira.
A avaliação dos indicadores econômicos no momento da divulgação não é tão simples e não é garantida a movimentação do mercado no sentido esperado. Os investidores podem reagir de diferentes maneiras, além de ser essencial o entendimento da diferença do resultado em relação ao esperado, do atual momento do ciclo econômico, da tendência vigente e do cenário do dia para análise mais apurada.
Michael Covel diz que o “perfeito especulador tem de saber quando entrar e quando não entrar”, se referindo as negociações no mercado. É habitual que alguns operadores profissionais prefiram “ficar de fora” nos momentos da publicação de dados de alto impacto previsto. Ou seja, não estarem posicionados no intraday nos horários das suas exposições devido à possibilidade do aumento da volatilidade, visto que pode ocasionar dificuldades de sair das operações nos patamares estipulados e gerar prejuízos maiores aos desejados.