A queda do Ibovespa no ano de 2021 é algo histórico, para dizer o mínimo. Não é todo ano que podemos dizer que temos a bolsa de valores com a pior performance do planeta, um título que com certeza está em casa no Brasil, um país cuja política econômica relembra mais um tapa buraco do que realmente um planejamento econômico robusto.
Porém, a rainha desta corte real de trituração de valor ao acionista é a Magazine Luiza (SA:MGLU3). Acumulando perda de quase 75% em 12 meses, muitos comentários estão especulando o motivo de tal variação que faz as ações da GameStop (NYSE:GME) parecerem um investimento seguro. O objetivo deste artigo não é tentar explicar o que pode ter motivado tal queda (embora os analistas estejam quase unânimes em responsabilizar o cenário macroeconômico), mais sim tentar tirar lições deste acontecimento para o portfólio do pequeno investidor.
Em setembro de 2020, o Estadão consultou 13 corretoras para saber se se devia investir em Magazine Luiza ou não. Das 13 corretoras, 8 indicaram compra e 5 se mostraram neutras, e nenhuma indicou uma posição contrária à compra. Na verdade, de acordo com o Estadão, “todas as casas veem a empresa com bons olhos, mas divergem se o papel já está ou não sendo negociado em seu preço justo”. Ou seja, a empresa era vista positivamente pelos analistas das maiores corretoras do país. Nessa mês, a MGLU3 era negociada em média a R$ 87,00 (ou R$ 23,00 após o desdobramento de 1 para 4 no mês seguinte), e hoje o seu valor é de R$ 6,63.
As corretoras que sugeriram compras são empresas importantes tais como BTG Pactual (SA:BPAC11) (preço-alvo de R$ 91), Goldman Sachs (NYSE:GS) (preço-alvo de R$ 106) e Easynvest (preço-alvo de R$ 100). E uma curiosidade: as corretoras que estavam neutras não se correlacionam necessariamente com uma recomendação melhor. A Toro Investimentos recomendou comprar Via (SA:VIIA3), que amarga queda de 72% em doze meses, ao invés de MGLU3.
O investidor que aceitou, portanto, essa recomendação de compra de MGLU3 amargou perda de aproximadamente 70% do seu capital investido. Ou seja, imagine que alguém investiu R$ 1.000,00 nessa data em MGLU3. Essa pessoa tem hoje por volta de R$ 300. Perto disso até investimentos em criptomoedas de procedência duvidosa parecem atrativos...
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Agora vamos supor que você não acredita em analistas e que tenha investido esses mesmos R$ 1.000,00 e alocado 50% em DIVO11 e 50% em IVVB11 (diversificação em empresas e em países diferentes). Hoje você teria R$ 580,35 em DIVO11 e R$ 722,20 em IVVB11, totalizando um valor de R$ 1.302,55, ou seja, um ganho de 30% versus uma perda de 70%.
Isso demonstra uma primeira lição muito importante: a diversificação importa – e muito! Não só uma diversificação em empresas, mas sim em países. Colocar todo o capital no Brasil não é uma boa ideia, pois somos um mercado periférico e com uma moeda que não é estável, como os acontecimentos dos últimos anos demonstram.
Como o pequeno exercício anterior demonstrou, embora o investimento no Brasil em empresas pagadoras de dividendos retornou cerca de 16% no período, o investimento no S&P500 retornou 44%. Mas, isso não significa que o investimento estrangeiro vá sempre ter uma performance melhor, em um cenário de queda do dólar e valorização do real podemos ter a inversão desses papéis.
O importante é que o investimento no exterior (especialmente em dólar) possui uma correlação negativa com os investimentos em reais, o que permite mitigar riscos sem penalizar muito o retorno da carteira. Essa é uma estratégia que eu inclusive analiso nas minhas aulas de Finanças Corporativas no MBA do COPPEAD.
A segunda lição é: não acredite na manada ou no hype (termo mais internacionalmente utilizado). Em 2020, muitas pessoas estavam investindo em Magazine Luiza e ganhando dinheiro enquanto essa era a ação preferida dos analistas. Isso poderia gerar um medo de ficar de fora (fear of missing out, ou FOMO) que poderia acabar fazendo uma pessoa tomar mais riscos do que ela acha que está tomando.
Assim sendo, não se pode deixar que o pensamento coletivo e o medo de perder uma chance única façam com que se tome decisões extremamente arriscadas e que podem levar a resultados desastrosos como perder tanto dinheiro na Bolsa de Valores.
Finalmente, a terceira lição é que os analistas não são profetas, mágicos ou videntes. Eles não possuem um trato com Deus (ou com o Diabo) para conseguirem prever o que vai acontecer nos índices acionários. Até porque se eles conseguissem prever isso eles iriam gerenciar fundos privados e ganhar gordas comissões ao invés de passar essa informação de graça para você.
Como já comentei em outro texto para esse portal, esses analistas ganham comissões no giro do seu capital naquela corretora, e por isso estão interessados em que você compre e venda ações na maior rotatividade possível. Como Warren Buffet já demonstrou através de sua famosa aposta, fundos de índice (tais como IVVB11 e DIVO11) performam melhor que os fundos mais badalados do mercado (a não ser que a pessoa seja uma gênia da matemática com um time de outros gênios, como é o caso do Jim Simmons).
Para quem já conhece os casos da B3, esse tipo de ocorrência não é novidade. Pessoas já perderam dinheiro em empresas desde Tramontina até a EBX. Magazine Luiza não foi a primeira, e nem será a última. Mas, pode ser a última para as pessoas que decidirem parar de seguir o hype e passar a investir de forma mais inteligente.
*Rodrigo Leite é formado em Contabilidade pela UERJ e é Mestre e Doutor em Administração pela FGV. Já foi Professor de Finanças e Contabilidade da UERJ e da FGV, e hoje é Professor Adjunto de Finanças e Controle Gerencial do COPPEAD/UFRJ.