Há inúmeras razões e fortes para o real revelar tendência à depreciação frente ao dólar e, reduzidas ou quase nenhuma para que demonstre apreciação, mas o fato é que ocorrem movimentos de volatilidade bastante extremados na baixa tanto quanto na alta, maiores do que se constata nas demais moedas.
Parece mesmo haver não a propagada influência direta dos movimentos da moeda americana no mercado internacional, até porque inúmeras vezes o fato ocorre sem que ocorra simetria, mas sim inferências pontuais mudando o curso da tendência no nosso mercado local. Especulação valendo-se da fragilidade do real? Ainda não dá para afirmar-se de forma contundente, mas não se pode descartar esta hipótese.
Na realidade todos os fatores presentes e as perspectivas sugerem o dólar em franca apreciação ante o real.
Retrospectiva da performance do setor externo do país mostra um fechamento de ano bastante deteriorado. Fluxo cambial e balança comercial negativos e no todo insuficiência de ingresso para financiar o pesado déficit em transações em transações correntes.
E os dados iniciais do ano já revelaram em um único dia, 2, fluxo cambial um saldo negativo de US$ 1,0 Bi, basicamente no fluxo financeiro, e saldo da balança comercial até o dia 11 negativo em US$ 983,0 M, e o mercado internacional não demonstra que será complacente com as economias emergentes mais fragilizadas.
A queda do preço das commodities agrícolas e metálicas, ao mesmo tempo que pode sugerir um alento nas pressões inflacionárias, aponta para um desempenho pior neste 2015 em relação a 2014 e muito distante do passado recente em que ocorreu o “boom” que deixou o Brasil em grande vantagem na relação de troca, e, deveria, como reação natural do mercado, induzir o real à depreciação frente ao dólar.
O fluxo cambial aponta a perspectiva de repetir-se negativo até com mais intensidade neste ano de 2015, exercendo pressão na formação do preço da moeda e exigindo que o BC continue dependente da parceria dos bancos na geração da liquidez do mercado à vista através o aumento de suas posições vendidas.
A grande questão é até quando e até quanto esta será uma estratégia sustentável já que tem relação direta com a segurança de que o BC suprirá os bancos se necessário se tornar, já que não se vislumbra a ocorrência de fluxo cambial positivo ao longo deste ano que lhes permita reverter este posicionamento. Não há como não se considerar o montante das posições vendidas como um redutor das reservas cambiais brasileiras para efeito de análise pontual.
Como temos destacado continuadamente, a mesma pergunta se faz a respeito da oferta de “swaps cambiais” da qual o BC é refém para não permitir alta mais elevada do preço do dólar, atualmente já com eficácia bastante reduzida num ambiente em que não há possibilidade de redução do estoque e o pré-anuncio de oferta adicional é pró ativa na prevenção à expansão da incerteza sobre a oferta. A aceitabilidade destes instrumentos financeiros denominados “swaps cambiais” decorre do fato do país ter reservas cambiais, embora sejam liquidáveis em reais por diferença entre variação cambial e juros, no fundo se prestam a assegurar preço a compromissos em moeda estrangeira existentes no país. A elevação contínua pode ter repercussões sobre a aceitabilidade destes instrumentos, podendo primeiro ocorrer pressões dos tomadores sobre as condições negociais.
É extremamente prematuro aguardar-se melhoras neste quadro neste ano de 2015, há tendência de que possa ocorrer queda nos IED´s tendo em vista o baixo crescimento verificado em 2014 que deve se repetir em 2015 e nem mesmo com juro elevado não se pode considerar que haja atração aos investidores em renda fixa, o mesmo valendo em relação á Bovespa, onde as “blue chips” estão com suas perspectivas afetadas por inúmeros fatores e as demais precisariam de um momento melhor para ser atraentes.
A nova equipe econômica está focando a recomposição dos preços relativos da economia, parte advinda da própria elevação do preço da moeda americana a níveis mais compatíveis com a realidade brasileira e parte com a correção de preços administrados que estavam sendo represados para evitar a explosão dos índices inflacionários, por isso é que o IPCA de 6,41% apurado em 2014 está muito distante da realidade.
Há ainda presente o risco da deflagração de remarcações de preços em massa, o que acentuaria ainda mais as pressões inflacionárias.
Na margem ainda devemos considerar que ocorrerão impactos quando ocorrer a normalização da política monetária americana.
A indústria da qual se espera reação com o preço do dólar mais elevado precisaria ganhar convicção de que o preço é sustentável para que possa avaliar eventuais investimentos focando elevar produção, produtividade e competitividade, para confrontar com os produtos importados afetados pela elevação do dólar e também para focar a retomada das exportações.
Da mesma forma o preço mais elevado seria o movimento natural para equalização da remuneração aos produtores de commodities com queda nos preços internacionais.
Portanto, o viés de comportamento do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio é absolutamente de alta, pois o quadro macroeconômico brasileiro por si só sugere isto até que o país venha a recompor-se internamente e atrativo aos investidores externos e esta perspectiva é para 2016.
A fragilidade do real aponta para o incremento de sua depreciação frente ao dólar, não havendo cenários, atual ou prospectivo, que possam sugerir movimento diferente.