Às 11,30 horas de ontem, dia da ação Acarajé da PF, o mercado de câmbio evidenciava o real em forte valorização frente ao dólar, localmente, enquanto no mercado de câmbio internacional a moeda americana se valorizava 0,96% frente uma cesta de moedas fortes, 1,07% frente ao euro e 2,18% frente a libra esterlina.
O “pano de fundo” com que o mercado de câmbio local justificava este movimento contraditório era o bom humor em relação a China pela substituição do chefe da agência reguladora de mercados de capitais, agora comandado por alto executivo oriundo do setor bancário, pressupondo que o governo chinês está intensificando seus estímulos.
E mais, a alta dos preços do petróleo e novas perspectivas.
Mas, como estes fatores tem a capacidade de desvalorizarem uma moeda fragilíssima como o real cujo país de origem está com sua economia em frangalhos, com relevantes problemas fiscais e sem perspectivas de crescimento, mas sim de aprofundamento ainda maior da recessão?
Naturalmente, não são estes fatores, mas sim uma possível “mão pesada” do governo, por si ou seus principais pares, aqui inclusos os “dealers”, interferindo para artificializar o preço da moeda americana em concomitância com a determinação da PF de ação cognominada de Acarajé, que poderia causar forte “estresse” nos mercados, incluindo-se aqui a Bovespa com expressiva alta.
Estão rareando os motivos a que são atribuídos movimentos contraditórios e praticamente sem nexo e adversos aos fundamentos sustentáveis no preço do câmbio no Brasil.
É momento de por um “basta” no sofisma de que “não choveu porque fez sol ou vice-versa” utilizado sistematicamente para justificar os movimentos impactantes na formação do preço do dólar no nosso mercado.
Estão fortemente visíveis as razões que devem determinar a tendência de elevação do preço da moeda americana no nosso mercado, na mesma linha de 2015, embora com menor intensidade ao final deste ano.
Fatores indutores a este erro crasso continuam se repetindo, sendo o Boletim FOCUS com suas medianas semanais o mais forte.
A enquete continua reproduzindo projeções de performance da economia alinhados com a realidade. PIB já projetado em queda de 3,40%, mas que poderá ir além até o final do ano, assim como PRODUÇÃO INDUSTRIAL retroagindo 4,40%, que até o final do ano deve ser mais agravada.
Contudo, nos parece que a projeção de 7,62% para a inflação (IPCA) é irrealizável, pois é inercial e, portanto, não responde a juro, mas poderia ser sensibilizada com efetivo corte de gastos por parte do governo o que se configura improvável.
E a projeção que nos parece mais errática, considerando todo o entorno da economia que afeta a formação do seu preço, é a do dólar a R$ 4,36 ao final do ano. E na mesma linha estão exacerbadas as projeções para o saldo da balança comercial e para os investimentos diretos.
Em perspectiva, o quadro do setor externo é bastante desfavorável para o Brasil, que deve sofrer mais rebaixamentos das agências de rating, já que o governo não conseguiu alterar a dinâmica ruim da política fiscal, enfrentar maiores dificuldades, seja pela disponibilidade seja pelo custo, na captação de recursos externos, assim como estará menos atraente para investimentos estrangeiros em conta de capital.
Então, por que a apreciação do real frente ao dólar numa conjuntura que não justifica este comportamento?
Naturalmente que o fato passa pela necessidade de conter a sensibilidade dos mercados a ação Acarajé e seus ruídos.