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Ações Brasileiras Ainda Têm Espaço Para Alta e Quais Setores Ainda Interessantes?

Publicado 12.06.2020, 14:11
Atualizado 09.07.2023, 07:32
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Volátil e desafiador. Assim podemos definir o ano de 2020 até o momento, principalmente na economia e no mercado financeiro. Em março tivemos a maior queda em termos de velocidade na história (superando 1929 e 2008 na rapidez, que aconteceram de forma mais lenta e gradual) e nos últimos 50 dias tivemos o maior rali de alta da história.

Fonte: LPL Research, FactSet

Tudo o que aconteceu recentemente corrobora o que já comentei em artigos anteriores, de que sempre temos que estar no mercado financeiro, com maior ou menor percentual, ajustado pelo perfil de risco inerente e próprio a cada investidor.

A primeira coisa a relembrar desse texto e desse período que passamos é: esteja sempre no mercado! Poucos acreditavam em uma queda e uma recuperação tão rápidas! O fato é que ninguém tem uma bola de cristal para saber para onde vai o mercado, apenas conseguimos, através de muito estudo e leitura, ter uma percepção de quanto o mercado está caro ou barato. O fato é que, na recuperação, os valuations aparecem muitas vezes caros dado o momento vivenciado pela economia (lockdown e mudanças de percepção no valor das empresas dada a mudança no comportamento dos consumidores), mas o fato é que às vezes focamos muito no curto prazo esquecendo, por exemplo, de uma regra básica de contabilidade: as empresas, teoricamente, são feitas para existir para sempre, mesmo que isso não aconteça na maioria das vezes. O que quero dizer e passar aqui é o valor que tem a perpetuidade em cálculos de valuation, de avaliação das empresas. Para o leitor mais leigo, é como focar apenas no 2T20, que, todos sabemos, virá muito ruim, mas que ainda há valor e recuperação em 3T20, 4T20, 1T21... Ou seja, as empresas e o mundo não irão acabar! Treine sua mente para momentos como esses que ocorreram (o Ibovespa não voltará para os 61 mil tão cedo, pois eu, você e 118% dos investidores já estamos esperando por algo próximo a isso).

Outra coisa que tenho que comentar é sobre a correlação entre crescimento da economia e retorno dos investimentos, principalmente em ações e no mercado Ibovespa. Esqueça, como investidor, achar que ações sobem apenas em momentos de PIB alto.

Fonte: FactSet

As altas na maioria das vezes acontecem até de maneira contrária ao crescimento econômico, e vou te explicar o porquê disso: em momentos de quedas de PIB é que Bancos Centrais, COPOMs da vida, irão trazer incentivos à economia e teremos um afrouxamento momentâneo, visando um crescimento futuro. Isso é o que está acontecendo no momento, um afrouxamento gigante e incentivos sendo jogados no mercado.

Se pegarmos os patamares mais baixos que chegamos no mercado, a capitalização das bolsas mundiais atingiu US$ 61 trillhões, e hoje estamos cerca de US$ 82 trilhões, sendo esse o valor de mercado atual de todas as bolsas somadas.

O que aconteceu para essa valorização rápida? Coincidência ou não, a soma de ajuda, de grana que todos os bancos centrais colocaram como incentivo para a economia mundial foi de US$ 18 trilhões! Se somarmos a mínima dos mercados, com a valorização e o valor de mercado que subiu recentemente, temos um valor próximo ao dinheiro alocado pelos Bacens mundiais.

Outra ajuda que aconteceu e que muda muito o cenário de avaliação de ativos: taxas de juros baixíssimas! A maioria dos investidores utiliza o fluxo de caixa descontado para avaliar uma empresa.

Teoricamente, o valor de uma empresa é o fluxo de caixa que ela gera ao longo do tempo, trazido ao valor presente. Para trazer ao valor presente é necessária uma taxa de desconto, que são os juros, somados ao risco, podendo ser uma soma do Risco País e outros. Esses juros, essa taxa de desconto está em um dos menores patamares da história e, se considerarmos os juros reais, temos poucas opções para alocação de capital por parte dos investidores com razoável retorno:

Fonte: Charlie Bilelo

Outra questão que chama atenção no momento atual é a quantidade de dinheiro colocada na mão das pessoas, que acabou indo para os investimentos.

Conversando recentemente com amigos americanos, a quantidade que foi disponibilizada é muito maior que imaginamos. Como exemplo, cada residente dos EUA recebeu US$ 1.200 de graça, apenas por ser cidadão. No caso de empresas, esse amigo recebeu cerca de US$ 30 mil apenas para manter a empresa aberta e não demitir ninguém. Sendo assim, temos uma quantidade gigante de dinheiro no mercado, juntando com pessoas ociosas em casa, com o seguro-desemprego, postergação de pagamento de mortgages, pagamentos de luz e o fato de que nos EUA os investidores são mais de 50% da população, temos o ambiente propício para esse dinheiro ser direcionado para o mercado de ações. Um fato curioso é que o dado de poupança nos EUA foi para 33%, um dos mais altos da história, como podemos ver abaixo por meio do PSR (Personal Savings Ratio):

 

Fonte: U.S. Bureau of Economic Analysis

Toda essa grana disponível, junto com uma maior maturidade dos investidores, trouxe a condição ideal para o dinheiro ser direcionado para o mercado de ações, causando a recuperação pós quedas que tivemos. Isso ocorreu juntamente com a compra de bonds por parte do Banco Central Americano. Com menores yelds, tivemos outro ponto positivo para a elevação nos preços de ativos de risco, o que acabou acontecendo.

Com a entrada de investidores pessoa física massivamente no mercado de ações, tivemos alguns desdobramentos interessantes. Como exemplo, temos o caso de investidores pessoa física entrando no mercado e comprando ações de companhias aéreas em um momento de queda extrema, enquanto investidores consagrados como Warren Buffett venderam as ações dessas empresas.

Depois da venda de Warren Buffett, as ações do setor de aviação, por exemplo, subiu 65%, como podemos ver abaixo pelo ETF JETS:

 
ETF JETS

Esse movimento de aumento de investidores pessoa física na bolsa de valores não ocorreu apenas nos EUA, mas também no Brasil, como podemos ver abaixo, onde tivemos um crescimento em 2017 saindo de 620 mil investidores pessoa física para 2,4 milhões em abril de 2020!!! Além disso, quando comecei no mercado em 2004, o volume negociado na bolsa brasileira era de menos de R$ 1 bilhão por dia e, recentemente, atingimos R$ 36 bilhões, crescimento de mais de 35x em 16 anos! Essa tendência no crescimento tende a aumentar e ajudou nesse rali de alta recente.

 

Fonte: B3

Com a entrada massiva de investidores pessoa física e com os bancos centrais do mundo todo colocando mais de US$ 18 trilhões no mercado, os investidores institucionais ficaram para trás. Se Warren Buffett vendeu ações de aéreas e investidores pessoa física compraram e ganharam cerca de 65% do que vendeu Warren Buffett é porque temos que tentar prever o que estão vendo esses institucionais.

O cenário que temos no Brasil é similar ao dos EUA: um aumento gigante no número de investidores, mas os investidores institucionais e fundos de pensões estão no menor patamar de alocação em renda variável na história!!!

Alocação de Fundos

Com juros baixos e metas atuariais de 8-10%, os mesmos terão de aumentar o peso em renda variável para buscar retornos visando entregar as aposentadorias de quem vem aportando nesses fundos. Com o tempo, teremos mais combustível para altas, pois esses fundos não têm muitas escolhas com taxas de juros baixas a não ser o mercado de ações e estão com baixa alocação em renda variável ainda.

 

Qual o movimento que pode acontecer?

No curto prazo, mercado é totalmente irracional. Provavelmente, os investidores institucionais, assim como Warren Buffett esqueceram-se disso, focando nas notícias ou em dados econômicos, como os de múltiplos de ações (como o que mostra o S&P 500 em níveis de 2000), porém um fato cabe ser salientado: os juros não estavam nos níveis que estamos atualmente e nem tínhamos os US$ 18 trilhões que foram colocados no mercado.

Mais um fator é o que já escrevi aqui: empresas de tecnologia são 21,8% de peso do DJI e elas subiram demais, levando os índices americanos junto. Além dessas empresas existem muitas outras e digo-lhe, há empresas BARATAS ainda, tanto nos EUA, quanto no Brasil.

Fonte: Bloomberg

 

 

Dados econômicos de março e dados atuais

Já comentei aqui que o mercado acionário tenta pegar dados de hoje e antecipar cenários. Isso aconteceu em março-abril, com um PMI e dados econômicos muito abaixo da média. As bolsas mundias despencaram! As projeções de lucros foram horríveis e mesmo assim os preços subiram! O PMI de Chicago foi o mais baixo em 38 anos:

Fonte: ISM Chicago

O Earnings Per Share sofreu quedas bruscas…

Fonte: FactSet

Sim, mas o mercado acionário antecipa cenários e recuperações. Na China, a recuperação está acontecendo em V, e nos Estados Unidos, nessa semana, tivemos uma criação de empregos muito acima do esperado. Falando com amigos de lá, a reabertura recém começou, portanto, a criação de empregos pode aumentar e isso pode estar sendo visto pelo mercado financeiro, por isso o rali também.

Ainda é cedo para falarmos de uma melhoria, mas, parafraseando Warren Buffett, “never bet against America”. A criação de empregos foi muito maior que o esperado:

Fonte: National Bureau of Economic Research, Labor Department

Mesmo com toda a alta que aconteceu, ainda há oportunidades. O setor de varejo eletrônico, um setor que negocia a múltiplos altíssimos, assim como empresas ligadas à exportação, estão sendo negociados a patamares elevados e já andaram bem. Setores que comentei aqui, como bancos, empresas ligadas ao setor de construção com a queda de juros (na semana passada alguns bancos de investimentos começaram a trazer expectativas de queda para 1,75% na Taxa Selic, o que há pouco tempo era inimaginável) e empresas com propriedades ou que tenham contratos de longo prazo como empresas de energia elétrica ainda têm potencial positivo.

 

Resumo do que foi comentado no texto:

 

1) O cenário recente foi desafiador para todos os investidores. Tivemos a queda mais rápida, assim como a alta em 50 dias, mais rápida da história;
2) Como comentado em artigos anteriores, sempre devemos estar no mercado acionário, com maior ou menor percentual. A volatilidade recente mostra isso;
3) Aportes constantes são como o carvão em um churrasco, sempre necessários;
4) Com a distribuição de grana massiva nos EUA, tivemos capital das pessoas físicas entrando no mercado, inclusive ganhando no curto prazo, em termos de retorno de investimentos de investidores como Warren Buffett que, no caso, vendeu empresas aéreas e os investidores pessoa física compraram. Cabe ressaltar que o “velhinho” sempre tem e terá o meu respeito;
5) Juros estão no patamar mais baixo da história da humanidade, e com isso podemos ter múltiplos de negociação mais altos que em períodos anteriores, dado o menor custo de capital e o maior potencial de alavancagem das empresas. Lembro que equilíbrio é tudo e em extremos temos oportunidades (hoje temos empresas negociadas a mais de 100x lucros e com valor de mercado de mais de US$ 1,2 trilhão já dominando 26% do setor, o que nos mostra um risco maior, dado o menor potencial de retorno, já que a empresa domina grande parte do setor);
6) A cada alta no mercado de ações, um filtro maior e cautela devem ser tomados;
7) Ainda há oportunidades em setores que mais caíram e, principalmente, no Brasil. No mês passado, fomos a moeda que mais caiu no mundo e em junho isso começa a ser revertido. Investidores estrangeiros tiveram a maior saída desde 1994 e em um momento eles irão voltar, trazendo mais combustível para altas;
8) Foque no que conhece, não vá por dicas e por “gurus”. Alguns dos maiores gurus já quebraram 4x no mercado, mesmo acertando muito ultimamente. Seu investimento = seu risco!

Era isso!!
Um grande abraço

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