Na maior parte da safra 2022/23, os preços do açúcar cristal branco operaram no mercado spot de São Paulo em patamares abaixo dos da temporada anterior, em termos reais, o que parece ser incompatível com o cenário de menor produção. Pesquisadores do Cepea ressaltam que, de fato, em 2022/23, a produção de açúcar em São Paulo em foi inferior à da temporada passada. Somente em meados de novembro/22 que as usinas paulistas direcionaram mais cana para a produção do adoçante, de forma que o total chegou a superar o da safra 2021/22. Segundo pesquisadores do Cepea, assim como verificado na safra anterior, a disponibilidade de cristal Icumsa 150 no spot esteve restrita ao longo da temporada 2022/23, com maior volume deste tipo de açúcar novamente comprometido com contratos internos e de exportação. Já para o tipo Icumsa 180, à medida que a moagem evoluiu, houve aumento da oferta no spot, o que, por sua vez, fez com que usinas estivessem mais flexíveis nos preços de venda. Este cenário explica a queda nos valores médios na atual safra, mesmo com indicações de menor produção obtida. Outra possibilidade é que o recuo dos preços do cristal desta temporada seja um ajuste frente à forte alta observada na safra passada 2021/22.
ETANOL: EXPORTAÇÕES SÃO INTENSAS EM 22/23, MAS DEMANDA INTERNA CAI
Enquanto as exportações brasileiras de etanol foram expressivas ao longo da safra 2022/23, a demanda interna por hidratado seguiu desaquecida. Isso porque, segundo pesquisadores do cepea, com o aumento das vendas de gasolina C nas bombas – devido à vantagem competitiva de preço –, a procura por etanol anidro cresceu, em detrimento da demanda pelo hidratado. Nesse cenário, os preços dos etanóis hidratado e anidro nas usinas foram pressionados na parcial da safra 2022/23. Cálculos do Cepea mostram recuos de 13,8% e de 12,8% nos preços do hidratado e do anidro, respectivamente, na parcial da atual safra frente aos da anterior – em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-M de novembro), com médias de R$ 2,8826/litro e de R$ 3,2852/litro entre abril e novembro/22. Quanto à liquidez, o cenário foi de poucos negócios entre abril e novembro, visto que compradores consultados pelo Cepea se mostraram cautelosos. A indefinição tributária sobre os combustíveis tem preocupado os agentes do mercado, que aguardam por um posicionamento do governo para, então, definirem suas metas para o próximo ano.
ARROZ: PARIDADE ELEVADA E EXPORTAÇÃO RECORDE AUMENTAM PREÇO EM 2022
O mercado brasileiro de arroz em casca iniciou 2022 com preocupações relacionadas aos excedentes domésticos elevados e à possível pressão sobre os valores do cereal, cenário que já havia sido observado em 2021. Porém, a estabilidade da oferta – devido à perda de potencial produtivo no Sul do Brasil –, o aumento da paridade de exportação, diante dos maiores preços externos, e o crescimento expressivo das exportações deram sustentação aos preços domésticos ao longo de 2022. No entanto, pesquisadores do Cepea ressaltam que os custos de produção subiram com ainda mais força. Assim, os avanços nos valores do arroz aliviaram parte dessas altas nos custos, mas ainda se trata de um cenário preocupante, de dificuldade de manutenção da atividade produtiva. Agora, é de se esperar que orizicultores sigam em busca de ajustamento do sistema produtivo, visando sua sustentabilidade.
TRIGO: MESMO COM PRODUÇÃO RECORDE, PREÇO ATINGE MÁXIMA REAL
Mesmo diante de colheita recorde de trigo no Brasil, os valores de negociação do cereal operaram em patamares máximos da série histórica do Cepea em 2022 – em algumas regiões, as cotações atingiram recordes reais. No contexto global, diversos fatores resultaram em diminuição, pelo segundo ano consecutivo, na relação estoque final/consumo mundial. Assim, a demanda interna seguiu ativa, superando a oferta e elevando os preços do cereal. Pesquisadores do Cepea ressaltam que, no primeiro semestre de 2022, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia restringiu novos embarques pelo Mar Negro, sendo que estes dois países foram responsáveis por 30% das exportações mundiais de trigo de 2018/19 a 2021/22. Na segunda metade do ano, o clima prejudicou a produção da União Europeia, Índia e Argentina, e a Ucrânia limitou o cultivo do cereal.