O maior consumo, a produção inferior e os menores estoques de passagem mundial e nacional devem dar suporte à cotação do algodão em pluma no início de 2022. Além disso, diante dos atuais patamares dos preços internacionais, da elevada paridade de exportação e o fato de que boa parte da safra 2020/21 já está comprometida, os valores domésticos devem continuar firmes e/ou em alta também na entressafra. Para a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), o estoque de passagem da temporada 2020/21 (em dezembro/21) foi estimado em 1,39 milhão de toneladas e para a próxima safra (dezembro/22), em 1,28 milhão de toneladas, o menor desde 2017/18, quando foi de 1,02 milhão de toneladas. No entanto, a incerteza quanto ao poder de compra da população e o repasse para os produtos têxteis deixam empresas cautelosas em novas aquisições envolvendo grandes volumes. Esses demandantes também estão atentos à pandemia e à oscilação do dólar frente ao Real, especialmente neste ano de eleição no Brasil.
Quanto à safra 2021/22, espera-se que a produção aumente. Colaboradores do Cepea indicam que, com as chuvas mais regulares nesta temporada, a semeadura do algodão de segunda safra deve acontecer dentro da “janela ideal”, principalmente em áreas de soja de Mato Grosso, maior produtor nacional da pluma. No entanto, agentes estão preocupados com o elevado custo de produção no campo, diante, especialmente, das valorizações dos fertilizantes, um dos principais insumos utilizados da cotonicultura. Segundo a Conab, a produção nacional deve somar 2,71 milhões toneladas na temporada 2021/22, alta de 14,8% frente à anterior e a terceira maior da história. A expectativa é de que a área semeada aumente 12,5%, para 1,54 milhão de hectares, e a produtividade se eleve 2% (1.756 kg/ha). Para o consumo doméstico, espera-se aumento de 6,3%, indo para 765 mil toneladas.
EXPORTAÇÃO – Depois da projeção de embarque recorde de 2,4 milhões de toneladas na safra 2020/21 (de agosto/20 a julho/21), estimativas do USDA apontam que o Brasil deve se manter como o segundo maior exportador mundial de pluma, agora com 1,8 milhão de toneladas em 2021/22 (de agosto/21 a julho/22), atrás apenas dos Estados Unidos (3,3 milhões de toneladas) e na frente da Índia (1,26 milhão de toneladas). Quanto aos preços, cálculos do Cepea mostram que as negociações para exportação com embarques durante 2022 apresentam média de US$ 0,8225/lp (até o dia 28 de janeiro de 2022), considerando-se os valores FOB porto de Santos (SP). As entregas programadas para o primeiro semestre registram média de US$ 0,9901/lp e as para os últimos seis meses de 2022, de US$ 0,8130/lp.
INTERNACIONAL – O USDA estima a produção mundial da safra 2021/22 em 26,34 milhões de toneladas (+8,3% frente à temporada anterior), impulsionada pelos Estados Unidos (+20,6%), Brasil (+22%) e Paquistão (+28,9%). Mesmo com a redução de 8,5% na produção chinesa, o país asiático ainda deve continuar como segundo maior produtor mundial de algodão – a liderança continua sendo da Índia, que pode ter ligeira queda de 0,4% quando comparado ao da safra passada. Já o consumo global pode aumentar 2,8%, para 27,05 milhões de toneladas, ficando 2,7% acima da oferta mundial. A comercialização deve totalizar 10,14 milhões de toneladas, com recuos de 5% nas importações e de 4,4% nos embarques frente aos da safra anterior. O estoque mundial foi estimado pelo USDA em 18,5 milhões de toneladas em 2021/22, queda de 3,9% sobre o da safra anterior e o menor desde 2018/19 (17,35 mil toneladas). Nesse cenário, a relação estoque/consumo está estimada em 68,4% na temporada 2021/22, sendo que, para o Brasil, a relação estoque/consumo é a menor em cinco anos (78,78%) na safra 2020/21 e 111,69% na próxima.
MERCADO EM JANEIRO – Os preços do algodão em pluma subiram com certa força em janeiro, acumulando avanço pelo sétimo mês consecutivo. Assim, o Indicador CEPEA/ESALQ da pluma atingiu novos recordes nominais da série histórica do Cepea, sendo que o patamar máximo, de R$ 7,0845/libra-peso, foi registrado no dia 20. O impulso veio especialmente da baixa oferta no spot nacional, sobretudo de pluma de qualidade superior, que levou compradores com maior necessidade a ceder e a pagar preços maiores para conseguir fechar novos negócios. Além disso, o suporte também veio das altas nos preços internacionais, que elevaram a paridade de exportação, mesmo diante da desvalorização do dólar. Nos últimos dias de janeiro, especificamente, empresas estiveram mais focadas nas vendas de seus produtos e se retraíram ainda mais para novas aquisições, uma vez que a venda estava enfraquecida ao longo da cadeia. Esse contexto somado à desvalorização do dólar frente ao Real enfraqueceram os preços da pluma no período. O Indicador CEPEA/ESALQ do algodão em pluma subiu quase 9% no acumulado de janeiro, fechando a R$ 6,9822/lp no dia 31. A média do Indicador em janeiro, de R$ 6,8121/lp, segue como a maior da série do Cepea, em termos nominais. Em termos reais (IGP-DI – dezembro/21), a média ficou 7,08% acima da de dezembro/21 e 37,68% maior que a de janeiro/21. Em dólar, o Indicador à vista registrou média de US$ 1,2313/lp em janeiro, 6,6% menor que o Índice Cotlook A (US$ 1,3181/lp), mas 3,2% acima do primeiro vencimento negociado na Bolsa de Nova York, de US$ 1,1932/lp. Em janeiro, o preço médio no Brasil ficou 7% acima da paridade de exportação.