Todos nós gostaríamos que o possível retardamento do início da redução do programa de incentivo monetário do FED americano se tornasse realidade e proporcionasse ao Brasil a oportunidade de recompor seus fluxos positivos de recursos externos, de forma a que pudesse ser mitigada a necessidade maior de financiamento externo para fazer face ao exuberante déficit em transações correntes.
Por vezes, parece que o nosso mercado de câmbio ainda convive com a percepção antiga de que o Brasil seja o destino prioritário dos recursos externos, pois sempre que se vislumbra um incremento ou permanência de liquidez internacional alta a reação não é nem mesmo como perspectiva, mas imediata como fato consumado, e então o real passa a registrar uma apreciação, que por fim se revela insustentável.
A nossa percepção em perspectiva a partir da fala da Vice-Presidente do FED, Janet Yellen, era de que não esperávamos incremento nos ingressos se confirmada a postergação do inicio da redução do programa do FED, mas na melhor, poderia ocorrer uma redução na intensidade da saída. Por isso, apontamos que a apreciação do real era exacerbada e fruto de um otimismo exagerado.
Houve até quem visse bons sinais na recuperação do fluxo cambial da semana até o dia 8, preconizando uma virada na tendência, sem se aperceber que o maior volume havia sido gerado pelo fluxo comercial e que o sinal emitido pelo fluxo financeiro era bastante modesto.
Mas, contrariando até o nosso ponto de vista de que a intensificação de saídas pudesse ser reduzida, o fluxo cambial da semana de 11 a 14 de novembro, 4 dias portanto, registrou uma saída liquida de recursos do pais de US$ 3,293 Bi que promoveu a inversão do fluxo positivo de US$ 2,574 bi positivos em US$ 720,0 M negativos no mês até o dia 14. Houve nestes 4 dias saída liquida de US$ 2,157 Bi financeiros e US$ 1,136 Bi no comercial.
Portanto, não houve incremento de ingressos e foi mantida a dinâmica forte de saídas de recursos do país.
As posições dos bancos, com base nos números do BC, atingiram US$ 13,009 Bi “vendidas”, gerando liquidez a partir de linhas de financiamentos concedidas pela autoridade monetária com lastro das reservas cambiais brasileiras, de US$ 13,586 Bi. O montante de US$ 13,0 Bi é o exato montante de dólares à vista faltantes no mercado à vista e que está sendo suprido pelo BC de forma indireta via bancos.
Quando o mercado internacional aponta o Brasil como membro do grupo frágil, as autoridades brasileiras contestam opondo ao fato a existência de reservas cambiais no montante de US$ 380,0 Bi. Mas ocorre que contextualmente o país quando o cenário internacional fica menos favorável é o que registra o maior volume de saídas de recursos, como apontou o Barclays Bank em estudo recente, e a moeda real é a que apresenta a maior volatilidade seja quando se aprecia seja quando se desvaloriza, não guardando simetria com as demais moedas emergentes.
O Banco Central do Brasil vem habilmente, mas não de forma imperceptível, cobrindo a falta de dólares à vista no mercado, embora não aborde este assunto de forma especifica e se limite, como fez o Presidente Tombini, a falar que não falta dólar a vista. Evidentemente, que a autoridade monetária relutará ao máximo ter que realizar leilões diretos de dólares a vista ao mercado, pois esta seria a evidência mais clara de insuficiência de ingressos, a despeito de já haver evidência inquestionável sobre a forma que vem atuando com o mesmo efeito, e isto poderia acabar fomentando movimentos especulativos sobre o real.
Na visão do mercado internacional o Brasil tem fragilidades, e estas se fortalecem quando se quantifica o volume de retirada de recursos aqui aplicados; quando se verifica que está faltando ingresso de recursos externos para fazer face ao financiamento do déficit em transações correntes e quando se observa a combalida politica fiscal, cada vez mais utilizando artifícios para mascarar sua realidade. Nada foge à sagaz visão dos investidores estrangeiros e das agências de “rating”.
Por isso, bastou tão somente um sinal de incerteza da Ata do FOMC americano “quebrando” um pouco aquele otimismo exagerado pós fala de Janet Yellen, para que o preço da moeda americana se afastasse rapidamente daquela depreciação insustentável para assumir comportamento em linha com a realidade.
Na margem, um dado industrial desfavorável da China fustigou o otimismo imediato detonado sobre uma perspectiva futura representada pelo programa econômico objetivado pelo governo chinês.
É preciso que convivamos com as perspectivas do Brasil atual com seus problemas que levam à perda de atratividade, e que já não o faz o centro prioritário dos recursos estrangeiros que focam as economias emergentes.
A Bloomberg divulgou pesquisa em que detectou que os investidores nunca foram tão pessimistas em relação às politicas do governo brasileiro e que apenas 10% dos entrevistados por sua Pesquisa afirmaram que o país será capaz de evitar um corte na nota de crédito no próximo ano. Concluiu que o pessimismo sobre o Brasil bate recorde.
É só observar que já estamos com uma taxa de juro elevada e que tende a ser mais elevada, mas os recursos continuam sendo retirados do país.
A taxa cambial retornou aos R$ 2,30, patamar do qual não deveria ter se afastado por ausência de fundamentos, até porque, afora o discurso de Janet Yellen, na prática nada mudou.
E se o fluxo cambial não melhorar, pode ir um pouco além ao final do ano, pois são baixíssimos os riscos de melhora de fluxos favoráveis.