- As condições financeiras tiveram uma drástica flexibilização nos EUA desde meados de outubro.
- Isso ajudou a dar suporte aos preços das ações do país.
- No entanto, as condições devem começar a se restringir novamente.
Algo parece fora de lugar. Apesar de os juros estarem 425 pontos-base mais altos em 2023, o Índice Nacional de Condições Financeiras do Fed de Chicago (NFCI, na sigla em inglês) voltou aos níveis de março de 2022. Mesmo com todas as altas de juros dos últimos dez meses, as condições financeiras tiveram uma drástica flexibilização desde meados de outubro.
E tal flexibilização é exatamente o oposto do que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) deseja, isto é, apertar a política monetária e desacelerar o crescimento econômico. Com base nos dados do Fed de Chicago desde 30 de dezembro, as condições financeiras não se restringiram e se acomodaram ao crescimento econômico.
Aperto insuficiente
Quando o NFCI ajustado do Fed de Chicago está acima de 0, indica que as condições financeiras são restritivas para a economia. Quando o índice está abaixo de 0, significa que as condições financeiras estão acomodatícias e ajudam a aquecer a atividade. Os dados mostram que o índice alcançou níveis restritivos entre maio e novembro. No entanto, houve um pico nessas condições na primeira quinzena de outubro, praticamente na mesma época da divulgação de um relatório de inflação mais alto do que o esperado, fazendo com que o S&P 500 tocasse as mínimas mais recentes.
Quando as condições financeiras são apertadas, os preços das ações caem, o mesmo ocorrendo na direção contrária. A flexibilização atual das condições financeiras certamente ajudou a promover as ações no quarto trimestre de 2022. No entanto, agora que as taxas estão subindo novamente e o dólar está começando a mostrar sinais de fortalecimento, o recente afrouxamento das condições financeiras pode estar no fim.
Condições restritivas são necessárias
As condições financeiras ficam restritas quando os juros sobem, os spreads de crédito aumentam, o dólar se fortalece e os preços das ações caem. Além disso, o Fed deseja mantê-las apertadas para desaquecer a economia.
Em razão desse posicionamento do Fed de elevar as taxas de overnight e encolher o tamanho do seu balanço, será difícil para o mercado ir de encontro com o aperto das condições financeiras que o banco central americano está tentando promover no longo prazo.
Isso significa que o afrouxamento das condições financeiras deve ser desfeito, voltando a se restringir novamente. Somente o recente aumento dos juros a partir do fim de dezembro deve ter começado a atuar para apertar as condições, em conjunto com a recente alta do dólar a partir do início de 2023.
Esses movimentos menores que temos visto até agora nas taxas e no dólar são provavelmente apenas o início do processo de aperto, à medida que os spreads de crédito começam a se ampliar, o que deve provocar níveis mais altos de volatilidade implícita e preços mais baixos para as ações. Em geral, quando o spread entre a dívida corporativa e as taxas das treasuries aumenta, o nível do VIX tende a aumentar. A combinação da ampliação dos spreads e da elevação da volatilidade implícita sugere que os preços das ações estão caindo, o que ajuda a restringir as condições financeiras.
Neste momento, a questão para os investidores que desejam se posicionar em ações é saber se as condições financeiras terão uma flexibilização maior ou não. Isso parece ser pouco provável, na medida em que o Fed deixou claro que deseja uma política monetária restritiva.