O mercado futuro de açúcar em NY fechou a semana com uma baixa de 53 pontos em relação à semana anterior, com o vencimento julho/2015 cotado na sexta-feira a 12,89 centavos de dólar por libra-peso (queda de quase 12 dólares por tonelada). Todos os meses de vencimento até março de 2018 fecharam com queda acentuada que variou entre 8 e 13 dólares por tonelada na semana. E não foi compensada pela desvalorização do real. O valor do açúcar em NY tomando como base o fechamento do vencimento julho/2015 e do dólar pelo Banco Central foi de R$ 884 por tonelada. Tanto o etanol anidro quanto o hidratado liquidam acima desse valor. O açúcar de exportação é hoje a pior liquidação das usinas.
Não me lembro no passado recente de ter participado de um Sugar Dinner em Nova Iorque com tão reduzida audiência de brasileiros e com os humores tão pessimistas. O tom baixista entre os participantes era evidente e, como quase sempre acontece em situações semelhantes, muita gente acaba virando baixista nas baixas chegando não raramente ao limite da irracionalidade. Por exemplo, ouvi gente sóbria especulando que o contrato futuro de açúcar em NY poderia chegar a oito centavos de dólar por libra-peso. Para que isso fosse possível, o dólar teria que negociar a 5,2800 ou uma desvalorização de 70%. Ainda assim, o preço da gasolina internamente teria que acompanhar a desvalorização do real e o etanol ganharia mercado via paridade, subtraindo mais cana para a produção de açúcar com consequências altistas em NY. Ou seja, nonsense.
Na verdade, nos eventos que ocorreram na Big Apple durante a semana do açúcar ouviu-se de tudo um pouco. Desde o presidente de um grande banco de investimento pintando um cenário tão róseo da economia brasileira que muitos tiveram a impressão de que ele falava de outro país, até o representante de um país produtor da América Central, em outro evento, reclamando dos preços "aviltantes impostos pelo mercado internacional" parecendo esquecer que o açúcar é uma commodity e tem essa estranha mania de ser regido pela lei da oferta e demanda. Enfim, tinha discurso para todos os gostos.
O que se ouviu pouco nas reuniões, não apenas para minha surpresa, mas para a de muitos traders de todo o planeta que aqui se reuniram, foi sobre o etanol no Brasil. Temos um agravamento evidente se delineando à frente em relação a como a demanda de combustível será equacionada. Real mais fraco e petróleo estável devem obrigar a Petrobras a reajustar novamente os preços dos combustíveis colocando-os em linha com o mercado internacional. Pelo menos essa parece ser a política que a companhia implicitamente pretende adotar, estancando os problemas conhecidos de fluxo de caixa apertado. Tem o fator inflacionário que pode retardar esse processo ou mesmo a popularidade da presidente Dilma que está mais por baixo do que barriga de cobra.
Por outro lado, como apontou um executivo da área de combustível, a logística do etanol está apertada com a atual extraordinária demanda, de tal sorte que o caminhão sai hoje para atender o posto amanhã. Quando esse quadro vai afetar a curva de preços é a pergunta de um milhão de dólares. O fato é que essa situação deve afetar preços pela antecipação de compras. Some-se a ela o fato de que o consumidor começa a perceber que a paridade é favorável ao etanol e vai mudando sua preferência.
Mudando um pouco o assunto, a estratégia da grande trading asiática que recebeu 1.9 milhão de toneladas de açúcar na expiração do contrato futuro de maio parece não estar funcionando. Primeiro, foi a rápida nomeação dos navios que, se tinha como intenção pegar possíveis vendedores descobertos, não surtiu nenhum efeito e nem moveu os prêmios no mercado à vista. Segundo, pelos rumores nas conversas que rolaram nessa semana, de que alguns desses navios que estavam previstos para chegar a Santos/Paranaguá, ainda se encontravam do outro lado do planeta e, dada a anemia no mercado internacional como um todo, ninguém entende por que tanta pressa para a nomeação.
Acredito que a estratégia da trading em questão é uma opção a baixo custo, pois há sempre a possibilidade de entregar o açúcar nos vencimentos seguintes se tudo der errado, ou, em contrapartida, a uma eventual mudança no mercado que pode elevar preço e prêmios.
Parece mentira, mas é verdade. Para você que está aí reclamando do mercado, a coisa está tão difícil para o setor que um executivo do nordeste saiu de sua cidade para atender ao jantar anual do açúcar aqui em NY e, objetivando economizar nas despesas de viagem, fez o percurso inicial num voo até São Paulo, de lá para uma conexão em Brasília, que o levou para Dallas, depois Atlanta e finalmente NY. Uma viagem de 37 horas que proporcionou uma economia para empresa equivalente a um par de toneladas de açúcar. Não tá fácil pra ninguém.
A boa notícia da semana é que pela primeira vez desde meados de 2014, os fundos estão comprados. E depois que o fizeram, o mercado caiu 60-70 pontos. Que fase hein?
Boa viagem de volta para aqueles que aqui estiveram. Boa semana para todos.
Arnaldo Luiz Corrêa