Por Clement Thibault
A Apple (NASDAQ:AAPL), fabricante global de aparelhos de comunicação e mídia, publicará seu balanço do primeiro trimestre de 2017 nesta terça-feira (31/1), após fechamento do mercado.
O mercado espera que a Apple divulgue um lucro por ação (LPA) de US$ 3,22 e receitas de US$ 76,9 bilhões. Após três trimestres seguidos de quedas nas receitas na comparação anual, a Apple deverá publicar uma alta de 1,3% na primeira linha do balanço, sobre os US$ 75,8 bilhões do primeiro trimestre de 2016, no ano fiscal da empresa, que harmoniza com as festas de final de ano, sazonalmente o período mais forte de vendas.
O resultado de hoje dará o tom para 2017 ou será um mero tropeço na sequência de quedas na receita da companhia?
1. iPhone
Dado que o iPhone representou mais de 64% da receita da Apple no ano fiscal de 2016, o smartphone é um bom começo. Globalmente, no ano passado, 211 milhões de iPhones foram vendidos, retração de 8% na comparação com o recorde de 231 milhões de unidades vendidas em 2015. As receitas com o iPhone recuaram 12% no mesmo período, de US$ 155 bilhões para US$ 136 bilhões.
Esse gap de 4 pontos percentuais pode ser explicado pela introdução do iPhone SE em 2015, irmão mais novo, menor e mais barato do iPhone 7, apresentado para atrair os consumidores que querem a experiência da Apple, sem pagar o preço cheio. O iPhone SE começa em US$ 399, enquanto o iPhone 7 tem preço inicial de US$ 649. Apesar do iPhone SE certamente ter ajudado a reduzir a queda nas vendas totais dos iPhones em 2016, o preço mais baixo pesou e explica o gap entre a receitas e as vendas.
Em seu balanço mais recente, a maior companhia do mundo em preço de mercado continua a depender do iPhone como sua principal fonte de receita, apesar de em uma parcela inferior a 2015, quando o smartphone representou 66% da receita da companhia. Enquanto o iPhone permanece extremamente popular globalmente, uma desaceleração na apresentação de novos recursos de ponta neste segmento premium de celulares gerou menos compras de atualização, reduzindo as vendas. O robusto ecossistema e a base consumidores leal à Apple seguem como sua força, mas sem inovações que valham o investimento e aticem o desejo dos seguidores da marca, até mesmo seus entusiásticos fãs pensarão duas vezes em adquirir o modelo mais novo.
2. Serviços
Enquanto as vendas do iPhone desaceleram, o segmento de serviços – App Store, seguros para os aparelhos, Apple Pay e licenciamento de assessórios – continuam a dar um impulso aos números da companhia. As receitas em 2016 subiram de US$ 19,9 bilhões para US$ 24,3 bilhões, 22% de aumento. Apesar de a Apple não divulgar o detalhamento de suas receitas, a Sensor Tower estima que a receita da App Store saltou 60% em 2016, para US$ 5,4 bilhões.
Esse segmento dos negócios da Apple se torna cada vez mais relevante, fornecendo 11% de toda receita da companhia no último balanço e superou as vendas de hardware, que inclui tanto o iPad quando o Mac. Os consumidores continuam a viver cada vez mais online e, com seus serviços, a Apple tem um caminho certo para continuar a receber os lucros de sua gigantesca base de clientes, independentemente do quão as vendas do iPhone são fracas ou fortes.
A estimativa é que a Apple detenha 43,5% do mercado de celulares nos EUA, de acordo com a consultoria Kantar Worldpanel, o que significa que tem um número mais que suficiente de clientes que podem acessar os serviços dentro do ecossistema da companhia.
3. iPads e Macs
Os iPads estão em uma trajetória de diversos anos de queda tanto nas vendas quanto nas receitas, o que leva a pergunta “aonde esse mercado está indo?”. Consumidores parecem menos interessados pelas telas maiores dos iPads e as vendas caíram fortemente nos últimos dois anos, de 68 milhões de unidades em 2014 para apenas 45 milhões em 2016, uma queda alarmante de 33%.
Apesar de preocupante, isso faz algum sentido. Em 2014, o principal produto da Apple era o iPhone 5S, que tinha uma tela de 4 polegadas. Em 2016, ano em que iPhone 6S Plus foi apresentado, a tela já havia aumentado para 5,5 polegadas. Quando o iPad foi disponibilizado ao mercado pela primeira vez, era um produto único. O modelo atual, com suas 9,47 polegadas de tela, é uma novidade menos atraente, com as telas dos smartphones continuando a crescer. Como cada geração de iPhone vê sua tela crescer, a própria Apple boicotou seu produto, culminando na queda das vendas. Se a Apple quisesse manter seu produto vivo, teria que diferenciá-lo não apenas dos concorrentes como, ironicamente, do seu próprio iPhone.
As vendas dos Macs caíram, vítimas da tendência global de quedas nas vendas de computadores. Várias estimativas apontam que as entregas de PCs caíram 6% em 2016, e o declínio de 10% segue a tendência. Na realidade, os smartphones têm lentamente substituído os computadores para o lazer e o uso de internet ou para ouvir música. Os computadores são agora, principalmente, produtos ligados a trabalho. Ao contrário do iPad, os PCs ainda oferecem vantagens suficientes sobre os smartphones para justificar seu espaço no mundo, mas após anos como o aparelho principal para lazer e trabalho, esse espaço está sendo reduzido.
4. Sinais potencialmente negativos
- O aumento da competitividade com as marcas de smartphones chineses como a Xiaomi e Huawei já está prejudicando a Apple, apesar de estar restrito à China, por enquanto, onde as vendas caíram 17% em 2016, após explodirem 85% em 2015. Antes o mercado geográfico mais promissor da Apple, a China se transformou no local de maior déficit nas vendas, com perdas de 17% em 2016.
- Nos últimos dois anos, Timothy Cook, CEO da Apple, vendeu 90% de suas ações por aproximadamente US$ 11 milhões. Reequilíbrio de portfólio ou realização de lucros? Não está claro.
- O presidente Donald Trump, recém-empossado, está atirando em todas as direções desde que assumiu o cargo há apenas 11 dias. Nesse período, ele já atacou a indústria e a imigração, duas áreas com fortes efeitos potenciais negativos para a Apple. A grande margem de lucro de 39% da Apple é possível, em parte, por causa do baixo custo de trabalhista com suas operações na China. Se a Apple for forçada a realocar suas fábricas nos EUA ou pagar imposto de importação em seus produtos, os lucros da Apple certamente irão ceder. Adicionalmente, no ano passado a Apple patrocinou 1.500 vistos H1B e qualquer mudança neste programa de atração de talentos dos EUA, que Trump execrou durante sua campanha, terá impacto na capacidade da companhia de atrair bons funcionários. A reforma tributária (ainda não anunciada, mas certamente sendo elaborada), poderá beneficiar a Apple e sua reserva bilionária no exterior, mesmo que não haja nenhuma afinidade entre Trump e o Cook.
Conclusão
Em julho, quando a Apple estava sendo negociada abaixo dos US$ 100 (US$ 98 para ser mais exato) nossa análise previa 30% de potencial de valorização para as ações da companhia. Hoje, com papel sendo vendido a cerca de US$ 121, 24% acima, acreditamos que a Apple está totalmente precificada.
Os resultados de hoje terão significância especial, pois é o primeiro trimestre completo com o novo aparelho top de linha, iPhone 7, disponibilizado globalmente ao mercado entre setembro e outubro. Nos anos em que um iPhone totalmente novo é apresentado – que são seguidos por atualizações que recebem o complemento ‘S’ ao nome – são períodos mais fortes para os resultados da Apple, o que significa que estaremos olhando com lupa o balanço de hoje.
Se o novo smartphone não for capaz de melhorar as vendas da Apple, significa que teremos que esperar até o lançamento do iPhone 8. Apesar de essa data permanecer desconhecida por enquanto, se o calendário da companhia seguir o padrão histórico, isso não ocorrerá até setembro de 2018. Poderemos prever dois anos difíceis para a companhia.