Lendo estes provérbios populares, tão comuns nas redes sociais, numa ocasião um chamou a atenção. Dizia o seguinte, “quando não se tem um rumo definido a ser tomado, qualquer um serve.” Pensamos: como se encaixa nas idas e vindas das medidas econômicas e dos desencontros do governo atual...
Olhando este de perto, e por que não o anterior, a impressão que se tem, é de que falta um projeto mais bem delineado às suas ações. Muitos acham que não existe um projeto de país, ou é bem ultrapassado. Neste caso, aqui vão algumas críticas ao excesso de voluntarismo, como reduzir juro ou tarifas de forma unilateral, sem uma consulta ampla, até chegar ao consenso (seria o melhor a ser feito). Uns contra-argumentarão que isto seria arriscado, visto que corremos contra o tempo. Neste momento de transição do País, perder tempo com amplos debates só seria prejudicial ao nosso desenvolvimento. Pode até ser, mas que estas intervenções todas tiveram como corolário a retração dos investidores estrangeiros nos nossos mercados isto não resta dúvida.
Estamos nos descolando, no sentido negativo, em relação aos outros emergentes. Isto pode ser visto pelo “risco País”, medido pelo Credit Default Swap (CDS), em franca ascensão, enquanto que outros países vêm se mantendo num nível menor, estável ou mesmo em queda. Neste ano de 2013, o risco soberano do Brasil avançou 17,6%, contra 4,7% do México e 4% da Colômbia, só para citar alguns. Pelo EMBI, do JP Morgan, o risco país passou de 147 pontos básicos em dezembro passado para 168 em 22/fev, num movimento claro de aumento de aversão ao risco.
Voltando ao dia-a-dia da economia, na semana passada foi divulgado o IBC-Br, crescendo 0,6% no quarto trimestre contra o anterior, depois de crescer 1,1% no terceiro trimestre contra o segundo, num claro sintoma de perda de fôlego. No ano, o crescimento ficou em 1,6% sem ajuste e 1,3% com ajuste, bem menor do que o registrado em 2011 (2,7% e 2,8%, respectivamente, com PIB próximo, 2,7%). Ou seja, pelas preliminares do mercado, o PIB de 2012 deu uma descolada do IBC-Br, não devendo crescer mais do que 1%.
No que se refere ao cenário para 2013, janeiro começou auspicioso, com expansão da indústria (entre 1,0% e 1,5%), em processo de recomposição de estoques, sendo destaque a produção de automóveis e de caminhões pesados. No primeiro houve antecipação de compras, com a iminente elevação de IPI; no segundo, uma base de comparação mais forte contra janeiro de 2012, com a produção de caminhões avançando 270%, já que no ano passado houve ajuste de motores menos poluentes. O problema é saber se este bom desempenho da indústria se confirmará ao longo deste ano de 2013.
Somado a isto, é preciso atenção aos dados da produção de bens de capital neste início de 2013. No ano passado, pelo PIB do quarto trimestre, é possível que tenhamos registrado ainda desempenho negativo repetindo os cinco anteriores, mas sinalizando alguma reversão. Os investimentos recuaram 2,7% no terceiro trimestre contra o anterior, mas devem fechar negativos em 0,5%, ou próximos à estabilidade, no quarto, perfazendo um recuo de 4,5% no ano.
Como este processo de retomada dos investimentos costuma ser de lenta maturação, se comparado ao ritmo da demanda, toda atenção é pouca em relação ao comportamento da inflação, dado o atual descompasso entre ambas as variáveis. Sendo assim, o maior desafio é saber qual a velocidade de retomada dos investimentos, dado o menor custo de capital, o aumento das importações de máquinas e a redução do juro e aumento dos desembolsos do BNDES.
Sim, porque é sabido que o risco inflacionário se encontra numa série de fatores, mas, neste momento, mais concentrados na limitação da oferta. Os investimentos não decolam e a demanda continua em bom ritmo (varejo cresceu 8,7% em 2012), o que confirma este quadro. Somado a isto, temos choques de oferta, como no caso do reajuste da gasolina e seus efeitos desencadeadores, pressão dos serviços (+8% em 2012), derivada de um mercado de trabalho aquecido, e nos riscos de possíveis choques agrícolas. Sobre estes, o item alimentação registrou alta de 10% em 2012 e as previsões são de que em 2013 estas pressões sejam menores, em decorrência da grande safra agrícola prevista, além da promessa de desoneração da cesta básica. Temos também o câmbio, agora mais próximo a R$ 2,00, mas ainda passível de novas apreciações, dependendo dos acontecimentos de momento.
Pelo lado do BACEN é a “velha batalha de expectativas em plena atuação”. De um lado, afirmando que a inflação ainda não saiu do controle, de que é possível estar acima de 6% no primeiro semestre, mas cedendo no segundo; de que não está alheio ao ciclo monetário, etc. Do outro, o mercado atento, já precificando uma elevação do juro na reunião do Copom em abril. Em março acreditamos na manutenção, já que os índices de preços devem recuar em fevereiro, com a redução do custo de energia elétrica. Mas, depois, tudo dependerá dos possíveis choques de oferta que possam ocorrer. Não esqueçamos que nossa economia ainda é muito indexada, o que significa uma rigidez para baixo em torno de 5,0% na inflação de 2013.
Na verdade, este embate entre BACEN e mercado é um demonstrativo, mais do que cabal, da perda de confiança dos agentes em relação às ações do governo. A desconfiança é grande e isto não é bom para as expectativas da economia brasileira neste ano e no próximo, marcado pelas eleições presidenciais.