O mercado de câmbio brasileiro vem realizando dois movimentos repetitivos que deixam claro que há excesso de oferta de rolagem de contratos de “swaps cambiais” e ação indutora de apreciação sem fundamentos do real.
Cabe ao Banco Central do Brasil, em conformidade com o que auto definiu, monitorar a efetiva demanda do mercado por rolagem de posicionamentos em “swaps cambiais” e limitá-los ao necessário, renunciando ao procedimento errático que vem mantendo de pré-anunciar ou transparecer o quanto da posição vincenda no mês será rolada.
Há neste momento excesso de oferta que acaba por contribuir para a descaracterização da formação do preço da moeda americana de forma equilibrada e permite que ocorram movimentos voláteis descompassados com a realidade brasileira e de forma intensa totalmente descolada até mesmo com a variação do dólar no mercado externo, argumento sempre utilizado como indutor aos movimentos locais, mas que não é uma verdade efetiva.
Na quarta-feira o dólar caiu no exterior e subiu no Brasil, nos parecendo coerente pois as expectativas negativas em perspectiva no país tem peso maior do que eventuais fatores externos, então a moeda nacional não deve ter relação sinérgica absoluta com o comportamento do dólar no exterior, sendo que para este movimento antagônico local há fundamentos bastante claros para esclarecimento e justificativa.
Ontem, o real voltou a apresentar forte valorização ante o dólar equivalente a mais de 4 vezes a depreciação da moeda americana no exterior, portanto um movimento absolutamente atípico.
No nosso entendimento, como a variação cambial passou a ter um peso imprevisto na composição estratégica de operações no nosso mercado de renda variável, principalmente, e renda fixa, podendo negativar os ganhos operacionais obtidos pelos capitais especulativos adentrados e oriundos de operações de “carry trade”, e o custo de fazer hedge pesaria muito, os investidores especulativos atuam para apreciar o real e assim abrem espaço para que saiam com seus capitais garantindo lucro. Em suma, o “hedge” está sendo feito pela manipulação da formação do preço do dólar quando possível e então os recursos deixam o pais com ganhos.
Se o BC atuar reduzindo a oferta de contratos de “swaps cambiais” para rolagem adequando-a a efetiva demanda existente estreitará muito o espaço existente para estas manobras no mercado de câmbio.
O governo, enfim o país precisa de uma taxa cambial que efetivamente expresse o quadro atual da nossa economia e seja contributiva para que objetivos de estimulo se tornem efetivos. Da forma atual, a alta do dólar contribui para o aumento da inflação, mas não é estimulante à reação dos agentes econômicos, pois a volatilidade trava as decisões mais relevantes.
O mercado de câmbio brasileiro precisa do Banco Central mais vigilante no monitoramento dos movimentos que ocorrem com sinais de atipicidade. Evidentemente não se deseja que o BC patrocine uma alta intempestiva do preço da moeda americana, mas que evite que tenha volatilidade e deixe de ter relação direta com a realidade da economia brasileira.
Os sinais que vem sendo emitidos pela economia sinalizam que poderá não ter as condições de dar as respostas – retomada da atividade, arrecadação, etc – que o governo espera com as medidas de ajuste.
As vendas no varejo caíram 0,9% em março sobre fevereiro intensificando os sinais consistentes de queda do consumo e fechou o 1º trimestre como o pior resultado nos últimos 12 anos. E o que é mais grave, a crença geral é de que o pior esta por vir.
No campo político o governo acaba de sofrer relevante derrota na questão previdenciária na Câmara e o Presidente do Senado, Renan Calheiros, já deu evidências que os senadores irão decidir na mesma linha. Esta derrota representará para o governo um ônus de R$ 40,0 Bi em 10 anos e estimados R$ 300,0 Bi nos próximos 20 anos.
Então, com as expectativas refluindo da redução do negativismo ocorrida para a retomada do mesmo, volta ao radar o risco de perda do grau de investimento e todas as suas repercussões.
Urge que o Banco Central do Brasil deixe a sua postura de observador que pré-anuncia o que vai fazer e passe a ser o agente que efetivamente atue com base em monitoramento constante do mercado de câmbio, focando a necessidade de se alcançar um preço para a moeda americana bastante equilibrada no nosso mercado, com baixíssima volatilidade.
O dólar com seu preço equilibrado e compatível com o “status quo” da economia brasileira é uma necessidade imperativa dentro da visão de reformulação das inúmeras distorções existentes e que conduziram a economia brasileira à deterioração.