BC – É Hora de Cautela ou Ousadia?

Publicado 28.01.2016, 09:47

O ano de 2015 foi um ano difícil e revelou muitos dos erros cometidos no passado e nas oportunidades perdidas, o que levou a nossa economia a uma retração forte.

Na época em que as commodities estavam em alta e o crescimento econômico forte, época das “vacas gordas”, era a altura de fazer as reformas estruturais, administrativas e das contas públicas em que o sacrifício não seria tão notório.

Vendeu-se e deu-se ilusões que vieram a mostrar a sua insustentabilidade perante um cenário de crise externa e interna e ainda com a agravante da questão política em situação conflituosa.

A reforma fiscal, da previdência e administrativa foi ignorada, pois vivia-se num ambiente muito favorável, mas não sustentável, como veio a verificar-se.

Agora estamos na época das “vacas magras” em que a margem para grandes reformas é pequena, em que a recessão irá continuar em 2016 e a consolidação orçamental e ajuste fiscal poderá ficar aquém do desejável.

Continuo a defender que os dados do primeiro trimestre serão fundamentais para se avaliar o comportamento da nossa economia no início deste ano e possivelmente rever algumas das projeções e posições assumidas.

As últimas projeções, em especial a do FMI, em que serviu de base para o Copom, agora instrumentalizado pela presidente Dilma, manter a taxa de juros no atual patamar de 14,25 pp.

A questão do aumento de 0,5 pp na taxa Selic defendida por mim e por muitos analistas não tem tanto a ver com o controle da inflação, mas sim como um sinal para o mercado interno e externo de que o BC está firmemente comprometido na contenção da inflação e o controle da cotação do dólar, em que este deverá em 2016 a continuar a apreciar-se em relação ao real.

Este aumento tinha também relação com o aumento do risco Brasil, no sentido de procurar evitar ao máximo a fuga massiva de capitais do país. O mercado está a exigir prémios maiores pelo risco Brasil que estar a aumentar.

Neste momento será altura de se manter a atual cautela do BC ou ser mais ousado na sua atuação e assumir os riscos inerentes? Neste momento acho que é de mante-se a cautela e atuar conforme os dados macroeconómicos do início de 2016 forem conhecidos.

Não há margem para erros, alguma audácia na atuação do BC neste momento pode ser infrutífera e danosa, e revelar-se altamente perturbadora e geradora de mais instabilidade para o mercado financeiro já instável.

A manutenção da taxa Selic não teve ousadia nenhuma, foi uma questão meramente política, que beliscou a independência de decisões do BC e criou alguma desconfiança do plano atual de atuação do BC.

Num mercado financeiro externo e interno extremamente nervoso e apreensivo é de manter uma atuação consistente e crível, uma vez que a situação económica e política em nada ajuda, só prejudica e que os níveis de confiança se encontram muito baixos.

Prefiro sempre ter uma postura conservadora e cautelosa e perante o atual cenário sem mais dados em concreto não ouso a fazer projeções, continuando a estar convencido que a atuação do BC deve continuar como está por agora, somente com o reparo na questão da taxa Selic que deveria ter subido 0,5 pp não em janeiro deste ano, mas já em novembro de 2015 e não a manutenção da atual taxa.

Mas também neste aspeto da taxa Selic tenho que relativizar a questão, uma vez que no início de março haverá outra reunião do Copom e face aos dados disponíveis poderá então haver indicações para o aumento ou não da 0,5 pp se a interferência da Presidente Dilma não se mantiver. Mesmo que a decisão em março seja pela manutenção da taxa Selic no atual patamar o que não me surpreenderia, relembro que em abril haverá nova reunião do Copom com mais dados disponíveis.

Há que ter consciência que o ano de 2016 vai ser um ano difícil, em que a recessão irá manter-se e inflação não deve sofrer grande alteração. Não devemos ter ilusões, mas 2016 poderá não ser tão ruim como foi 2015, existe essa possibilidade, mesmo que tudo aponte para que não haja grandes mudanças em relação a 2015.

Em face as incertezas de natureza económica interna e externa, a indefinição da situação política atual e na falta de mais dados macroeconómicos fiáveis relativamente a 2016, acho que é prudente a manutenção da cautela da atuação do BC, mantendo a atuação no câmbio e na próxima reunião do Copom em março suba a taxa Selic em 0,5 pp (em alternativa em abril).

Não é de certeza hora para grandes “viradas” ou ousadias, mas sim de cautela e aguardar por mais dados procurando dar confiança e segurança ao mercado financeiro e aos agentes económicos no atual cenário, que é fundamental.

Vamos ver!!!

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