Com Gabriel Tassi*
O biocombustível marítimo e o gás natural liquefeito (GNL) serão os líderes da transição energética no setor de transporte marítimo brasileiro. Entretanto, o país ainda tem poucos incentivos para os combustíveis sintéticos (os chamados e-fuels), devido principalmente à falta de apoio do governo para a implementação de corredores verdes marítimos.
A expectativa é que a demanda por biocombustíveis cresça à medida que produtores locais, como a Petrobras (BVMF:PETR4), ampliem a produção, e conforme produtores passem a oferecer combustíveis alternativos sustentáveis em mais portos brasileiros. O movimento pode ainda ser impulsionado por regulamentações da União Europeia (UE), como a FuelEU Maritime, que requer que embarcações que entram, saem ou navegam dentro de territórios da UE reduzam gradualmente a intensidade das emissões dos gases causadores do efeito estufa.
O biocombustível e o GNL também devem ser os principais combustíveis alternativos a serem oferecidos em nossos portos, visto que há mais players brasileiros se movimentando para ampliar a produção. Entretanto, os corredores verdes — que devem ser um dos principais drivers para a produção de e-fuels — ainda não estão sendo desenvolvidos de forma eficiente no país.
O Brasil tem apenas um corredor verde com apoio oficial, anunciado junto com o governo da Noruega no fim de fevereiro. Os governos devem apresentar conjuntamente opções para a iniciativa na COP30, evento da Organização das Nações Unidas (ONU) que será realizado na capital paraense em novembro. Porém, o corredor não terá incentivos para empresas que decidirem usar combustíveis alternativos, conforme já informado pelo Ministério de Portos e Aeroportos.
O movimento no país diverge das tendências de outros países. Novos corredores verdes vêm sendo anunciados e aprimorados, como o que conecta Roterdã e Singapura. Segundo relatório do Fórum Marítimo Global, existem atualmente 62 iniciativas de corredores verdes — nenhuma no Brasil.
O Ministério de Portos e Aeroportos afirmou à Argus que está trabalhando com outros países para novos acordos de corredores verdes, mas não deu detalhes. Um estudo publicado em 2023 pela Acqua Mater avaliou que nenhum porto brasileiro oferecia combustível alternativo, e dois terços ainda não tinham metas de descarbonização e eficiência energética.
Ainda assim, o Brasil pode estar bem posicionado para se tornar protagonista na produção de e-fuels. O diretor de descarbonização do Fórum Marítimo Global, Jesse Fahnestock, afirmou à Argus que vê interesse no desenvolvimento desse mercado, ainda que inicial. Segundo ele, empresas que produzem esses combustíveis a partir do hidrogênio podem desempenhar um papel de liderança e trabalhar com a indústria de transporte para explorar como os corredores podem ajudar no processo.
A demanda por combustíveis sintéticos deve aumentar por volta de 2034, quando a FuelEU Maritime tornará seu uso obrigatório em águas de países da UE.
*Gabriel Tassi Lara é especialista no setor de combustíveis marítimos na Europa e África, e no setor de gás natural brasileiro na agência de preços e inteligência de mercado Argus, tendo também experiência na cobertura de mercados internacionais e macroeconomia.