O Boletim Focus contém medianas de projeções formuladas pelo mercado financeiro e tem sua importância para os agentes e também para o Banco Central do Brasil.
Erra e erra muito quando confrontamos o ocorrido ao final de cada ano e as projeções iniciais do mesmo ano, mas o Brasil é o país das incertezas e vulnerabilidades e não permite margem de acerto nem quando o final do ano está próximo das projeções mais recentes.
Pode ser que pela importância indutora de opiniões que detém procurem os agentes ouvidos serem comedidos ou até colocarem projeções mais sensatas para não estimular atitudes do mercado e das próprias autoridades monetárias muito severas e crentes de imediato num cenário prospectivo severamente ruim.
Mas parece estar exagerando na precaução em torno de 2015 e já acentuadamente em relação a 2016.
Faz tempo que a inflação se configura tendente a ultrapassar pelo IPCA aos 10% nesse 2015, e se observarmos com rigor poderíamos mesmo afirmar que há muito deixou os 10% para trás e se olharmos somente os dados focados na sobrevivência das famílias está bem mais longe.
Demorou em projetar o IPCA-2015 acima de 10%, quando a tendência numa medição imperfeita já sinalizava que ultrapassaria. E erra muito mais em relação a 2016. Qual a base de sustentabilidade para a projeção de IPCA-2016 em 6,50%, visto que para tanto seria necessária uma brutal desinflação na economia brasileira, o que está se mostrando resistente mesmo num ambiente de recessão tendente ao agravamento em 2016, com crescimento acentuado do desemprego e perda de renda, refletindo amplamente no consumo.
A rigor nem há como projetar-se 2016 no Brasil, mas é crescente que o sentimento está ficando pior do que 2015, portanto as projeções do Boletim FOCUS estão fragilizadas.
Se observarmos a projeção para o dólar a R$ 4,20 para 2016 podemos sentir o quanto é irrealizável. O país com sério risco de downgrade e assustado com a possibilidade de aumento do juro americano e economia em situação caótica. Esta projeção se coloca contrária a queda do PIB de 2,00% e de 2,15% na indústria que já projeta. Há incoerência.
Há equívocos grotescos que estão sendo baseados em nada, visto que nem para 2015 temos um quadro passível de convicção de desempenhos.
Como projetar um saldo de balança comercial em US$ 30,0 Bi em 2016, com potenciais compradores das nossas commodities agrícolas e metálicas diminuindo suas demandas e os preços cadentes no mercado internacional. Certamente continuaremos importando menos na medida em que a nossa economia perde atividade, mas não quer dizer que teremos vida fácil nas exportações. Certamente esta projeção está otimizada em demasia, absolutamente desalinhada.
Não dá para imaginar uma recuperação rápida da economia brasileira simplesmente porque não há possibilidade. A situação brasileira é economicamente muito confusa, com perspectivas de que não consiga se reordenar na política fiscal antes de 2018, se tudo for feito corretamente, porque implicaria em corte nas contas governamentais e, em especial, por programas sociais, decisão que o partido da Presidente não aceita mesmo o governo não tendo recursos para tanto.
Não há “mar de brigadeiro” em perspectiva, mas sim um cenário mais drástico e então não cabem projeções insensatas e desfocadas da realidade, que mais atrapalham e confundem do que contribuem.
O dólar que tem se mantido projetado pelo Boletim Focus corretamente em R$ 4,00 ao final deste ano, tem muitos desafios a enfrentar em 2016, situações externas como a queda do juro americano, situações internas como eventual downgrade e suas duras consequências, inflação bem acima dos 6,5% projetados hoje, assim como o dólar bem acima dos R$ 4,20 projetados, ainda mais num ambiente já ameaçado por acontecimentos negativos em perspectiva.
A taxa de R$ 3,83 é irrealista neste momento, já deveria estar mais próxima de R$ 4,00.
Vemos 2016 com o preço da moeda americana se agravando pelo baixo fluxo de recursos externos e riscos latentes em perspectivas que afetarão a sua disponibilidade, e poderemos até sofrer pressão sobre as nossas reservas cambiais, com a intensificação das saídas de recursos do país.
Num cenário de saída de recursos o montante de contratos de swaps cambiais tende a cair para se transformar em demanda efetiva à vista e então não será suportável pelos bancos a estratégia de disfarçar a não utilização, que já ocorre, das reservas cambiais, e o quadro poderá ficar de grande desconforto no contexto cambial.
Por isso, nos preocupam projeções irrealistas colocadas por organismos que tem credibilidade, pois podem determinar expectativas favoráveis desprovidas de sustentabilidade e acarretar desapontamentos severos posteriormente.
As perspectivas para o ambiente cambial brasileiro em 2016 são ruins, a taxa cambial é só o indicador concreto da situação.
Isto parece que não está tendo o devido peso na realização das projeções.
Neste momento ainda há condições do BC manter no curto prazo estratégias que mitigam a elevação brusca e real do preço do dólar, mas isto não deve sugerir irrealismos nas projeções para 2016, porque não há fundamentos para otimismos, muito pelo contrário.
O ano de 2016 já começa com perspectivas ruins de crescimento do PIB e da produção industrial colocados pelo Boletim Focus, por que seria diferente nos quesitos inflação e preço do dólar?