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Bomba Relógio: Como a Previdência Vai Quebrar o Brasil

Publicado 08.09.2016, 11:21

Por Blog Estado Mínimo

A reforma previdenciária é um tema recorrente no Brasil atualmente, mas que sinalizou sua necessidade desde a aprovação da Constituição de 1988. Desde a promulgação da CF – 88, somente os ex-presidentes FHC e Lula conseguiram algum avanço – ainda que parcial – nessa área. O primeiro criou o chamado fator previdenciário, mecanismo utilizado para diminuir o tamanho do benefício concedido de forma inversa à idade de aposentadoria; trata-se de um prelúdio da idade mínima. Já o segundo, conseguiu aprovar uma reforma que diminuía as aposentadorias futuras dos servidores públicos – sendo considerada uma grande vitória à época.

Recentemente, o tema foi alçado mais uma vez ao centro do debate, tanto pelo ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy, quanto pelo atual titular da pasta, Henrique Meirelles. Mas, antes de tudo, para entendermos o que é a tal reforma da Previdência e quais as mudanças necessárias, precisamos compreender como funcionam os sistemas previdenciários, não só do Brasil, como do mundo todo.

Dois sistemas para a Previdência

No Brasil, adotamos o modelo chamado de pay-as-you-go, que era adotado também por vários outros países até os anos 90. Ao contrário do que se pensa, as contribuições de hoje não servem para custear a aposentadoria futura do trabalhador, mas sim os benefícios daqueles que já estão aposentados. Em outras palavras: aqueles que estão na ativa contribuem para bancar os benefícios dos inativos.

O problema é que esse modelo só é sustentável enquanto há poucos aposentados em relação ao número de (potenciais) contribuintes. Em outras palavras: quando a razão de dependência de idosos é baixa.

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Expectativa de vida

Com o aumento da expectativa de vida causado pela globalização, o envelhecimento da população e a diminuição da taxa de natalidade, países do mundo todo foram forçados, ainda na década de 90, a reformarem seus sistemas de seguridade social. Muitos abandonaram o sistema pay-as-you-go, e partiram para uma outra alternativa: o chamado modelo de capitalização, a fim de garantir a solvência de longo prazo do sistema. Nesse novo modelo, as contribuições são depositadas em contas individuais, o dinheiro é investido e serve para bancar o benefício futuro do trabalhador.

Previdência no Brasil

Como já dito anteriormente, no Brasil adotamos um sistema há muito abandonado – ou nem sequer adotado, em primeiro lugar – pela maioria dos países do mundo. Mas o problema não se limita a abraçarmos um modelo arcaico. Aqui, em terras tupiniquins, temos uma das previdências mais generosas do mundo. O gráfico abaixo expõe isso com clareza:

Gastos com Previdência vs População Idosa

A linha preta mostra o gasto esperado com previdência (em % do PIB) dada o total da população que é idosa (acima de 65 anos) de um país. É de se imaginar que, quanto mais idosos em relação a população total, maior o gasto de um país com aposentadorias.

O grande problema é: a benevolência da Previdência do Brasil é como um saco sem fundo. Temos uma relação, no mínimo, questionável: Note que, mesmo tendo apenas 7,6% da nossa população com mais de 65 anos, gastamos cerca de 10,2% do nosso PIB com Previdência – quando o esperado seria algo em torno de 3,7%. Gastamos a mesma proporção do PIB com Previdência que a Alemanha, um país 3 vezes mais velho que o nosso. Apenas para efeito de comparação, o Bolsa Família, que atende mais de 50 milhões de pessoas, consome por volta de 0,5% do PIB.

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Somos um país jovem que gasta como país velho. E não para por aí: não apenas a magnitude do gasto é espantosa, como a trajetória dele também é assustadora. O déficit estimado para esse ano – aqui desconsiderando os gastos dos governos estaduais e municipais com essa rubrica – é de cerca de R$210 bilhões. Os rombos recordes comprometem a capacidade de investimento do Estado brasileiro.

Mas por que tamanho rombo? O que leva o Brasil a gastar desproporcionalmente à sua população idosa? Nossas instituições e demografia estão no âmago dessa questão, e são capazes de nos ajudar a compreender o que se passa com a Previdência brasileira.

Instituições

Quando comparado aos países da OCDE, o Brasil tem uma das menores idades médias de aposentadoria para homens – e o mesmo vale para as mulheres. A diferença é gritante. Somos um dos países onde se aposenta mais cedo no mundo todo. Também somos um dos únicos países sem uma idade minima para aposentadoria (que, ao redor do mundo, é de cerca de 65 anos). Veja no gráfico abaixo:

Idade média de aposentadoria dos homens

Além disso, a explicação institucional também passa pelo fato de que o piso do INSS é indexado ao salário mínimo, que vem aumentando de maneira imparável nos últimos anos (seguindo a fórmula de reajuste: inflação do ano anterior + crescimento real do PIB dos dois anos anteriores). O resultado é um aumento também incessante dos gastos com aposentadorias, uma vez que, de acordo com a Dataprev, 69,3% dos benefícios pagos pelo INSS, em 2013, eram no valor de 1 salário mínimo.

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Além disso, o piso da assistência social aos idosos, garantida pelo Benefício de Prestação Continuada da Lei Orgânica de Assistência Social (BPC/LOAS) é igual ao do INSS, de 1 salário mínimo. Ou seja: o piso para quem contribui e para quem não o faz é exatamente o mesmo! Para quem ganha pouco, qual o incentivo que se tem para contribuir, sabendo que, caso não contribua, receberá o mesmo? O resultado é um aumento da informalidade e uma redução das receitas do INSS.

Demografia

Outro fator, como já citado, é que a expectativa de vida vem aumentando, não só no Brasil como no mundo todo. E isso, obviamente, é algo para ser comemorado; significa que o brasileiro está vivendo mais e com maior qualidade de vida na velhice. Porém, essa maior expectativa de vida constitui desafio para o futuro, especialmente considerando o cenário previdenciário brasileiro atual.

Afinal, como dito, nosso modelo previdenciário só é sustentável enquanto houver poucos aposentados em relação ao número de contribuintes. No passado, quando foi criada a Previdência, isso era uma realidade. Mas num futuro não muito distante de hoje, o deixará de ser.

O Brasil está passando pela transição demográfica que vários países já experimentaram no passado. O chamado bônus demográfico, situação na qual a demografia de uma nação favorece o crescimento econômico (com menos dependentes em relação à população apta a trabalhar), está perto do fim. Desperdiçamos nossa janela de oportunidade. A população brasileira está envelhecendo e a população em idade produtiva (PIA) crescendo a taxas decrescentes, o que causará uma inversão em nossa pirâmide etária, como mostram os gráficos a seguir:

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Pirâmide etária do Brasil em 2010

Pirâmide etária do Brasil em 2060

Veja que, em 2010, tínhamos 68,2% da nossa população em idade ativa (entre 15 e 64 anos) e apenas 7,6% de idosos (acima de 65 anos). Já em 2060, de acordo com as projeções do IBGE, teremos 60,2% de nossa população em idade ativa, contra 26,7% de idosos. Em números absolutos, teremos 2,25 brasileiros em idade ativa para cada idoso. O resultado, como explicado mais cedo neste texto, é um aumento da razão de dependência dos idosos, que nada mais é do que a população total de idosos dividida pela população em idade ativa.

Razão de dependência

Some-se tudo o que foi demonstrado neste texto aos inúmeros gargalos para o crescimento [3], e o resultado é não apenas trágico, mas catastrófico. Sem uma ampla reforma da Previdência, teremos um déficit que pode chegar 11,6% do PIB, e gastos com benefícios que podem atingir incríveis 17,8% do PIB, de acordo com projeções dos ministérios do Trabalho e Previdência Social (MTPS) e da Defesa (MD). São números completamente descolados da capacidade do erário de arcar com as contas. Somos o país que promete aquilo que jamais conseguirá entregar.

Como consequência, serão necessárias expressivas e sucessivas rodadas de aumentos de impostos e/ou endividamento do Estado, sacrificando o crescimento futuro e os investimentos que poderiam ser feitos em outras áreas. A conta simplesmente não fecha.

Como os recursos do orçamento são finitos, teremos de escolher entre abrir mão de benefícios previdenciários ou de investimentos mais robustos em setores como educação, saúde e infraestrutura.

Projeção de receita e despesa

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Nossa Constituição é uma tentativa de tropicalizar o Estado de Bem-Estar Social (Welfare State) dos países europeus. Acontece que todos esses países primeiro se desenvolveram e enriqueceram, para só então expandirem o Estado e garantir diversos serviços públicos, programas sociais e tudo mais que a população deseja – claro, com a devida contrapartida dos impostos mais elevados. E, ainda assim, nos dias atuais, esses países vêm questionando a sustentabilidade desse modelo de Estado.

No Brasil, tentou-se colocar a carroça na frente dos bois: tentamos criar um Estado padrão europeu num país muito mais pobre. Os resultados desse modelo são, pelo menos, insatisfatórios: temos deficiência – para não dizer falência – na provisão de diversos serviços públicos.

O que pode ser feito?

A assunção da existência do problema é o primeiro passo. Negar a realidade não vai controlar o gasto ou evitar um colapso total do sistema.

É impossível parar o envelhecimento da população, ainda que quiséssemos. Logo, é preciso modificar nossas instituições previdenciárias, de forma a garantir a sustentabilidade do sistema no futuro que está por vir.

A mãe de todas as medidas, a qual já foi proposta pelo Ministro Henrique Meirelles, é aprovar uma idade mínima para aposentadoria, de 65 anos, com reajuste automático vinculado à expectativa de vida da população.

Atacar privilégios é essencial, como as pensões vitalícias e o acúmulo de benefícios – coisa que o governo já vem fazendo[4]. É preciso, também, desvincular o piso da Previdência do salário mínimo, haja vista o elevado custo fiscal dessa vinculação.

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Por fim, no longo prazo, poderíamos adotar um sistema de contas individuais, como aquele já descrito no início do texto, que não só é mais solvente, do ponto de vista atuarial, como também conta com o benefício de aumentar a poupança doméstica, favorecendo o crescimento futuro. Ademais, seria interessante combinar esse modelo com uma espécie de proteção aos idosos mais pobres (diferente, é claro, do que temos hoje, onde os mais pobres não encontram incentivos para contribuírem ao sistema).

Reformar a Previdência é um dos maiores desafios do governo de Michel Temer, dado o peso dela sobre as contas públicas, sob a pena de vivermos uma longa estagnação, jamais conseguirmos cortar gastos e impostos à frente, e ficarmos marcados como o país que envelheceu antes de se tornar rico. É preciso contrariar fortes grupos de interesse, pressão de sindicatos e inúmeras mentiras que venham a ser contadas no caminho. Afinal, os dados mostram que essa reforma não só é necessária, como urgente.

Precisamos de uma inflexão na trajetória dos gastos previdenciários. O Estado precisa se libertar da situação de refém de pequenos grupos de interesse, que causam grande impacto orçamentário, e tomar as medidas necessárias – ainda que impopulares – para benefício do país.

Últimos comentários

Creio que faltou informar as fontes de financiamento da Seguridade Social conforme preconizado na Carta Maior, bem como explicitar as rubricas contidas no SIAFI onde se pode perceber os valores reais dos últimos 15 anos. Também acho válido esclarecer que a lei de responsabilidade fiscal e sua regulamentação trouxe um fundo previdenciário que claramente contraria as fontes da Seguridade. Não esquecer também que a própria Receita administra valores que são da seguridade e são um prato cheio para não incluí-los como verba orçamentária da seguridade. Em resumo, a rubrica previdenciária é a maior fatia do orçamento da União onde ainda dá para meter a mão (vede aumento da DRU).
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