Os bons ventos parecem querer retornar aos mercados de risco nesse final de ano em todo o mundo.
O futuro da economia global não mudou muito, com o cenário base sendo ainda de desaceleração, porém com viés mais positivo nas estimativas recentes. A diferença parece estar no melhor encaminhamento das relações comerciais bilaterais entre os EUA e a China e ainda pelo alívio produzido pela postergação do Brexit até 31/01/2020, com eleições no Reino Unido em 12/12/2019, onde o controle do Parlamento britânico deve permanecer com os conservadores.
Porém, o que está motivando os investidores em todo o mundo e a percepção de que os juros nas diferentes economias permanecerão baixos ainda por um longo período de tempo. Assim, é essencial aumentar a propensão individual ao risco, como tentativa de melhor remunerar os recursos investidos. Convém lembrar que vários são os bancos centrais de diferentes países praticando juros e taxa de depósitos negativas nominalmente ou real. Aqui, nos encaminhamos para juros reais próximos de zero, situação quase inusitada diante da história econômica local.
No mundo, estamos vendo bancos centrais novamente direcionados para maior flexibilização monetária. O BOJ (Banco Central Japonês) manteve recentemente a política monetária estabilizada, mas o presidente Kuroda foi claro em afirmar que pode lançar mão de maior flexibilização. O BCE (Banco Central Europeu) flexibilizou sua política monetária, mesmo com posição contrária da Alemanha. Isso causou saída de membro do comitê, e Weidmann do Bundesbank, criticou a postura do BCE sobre flexibilização monetária, dizendo que o QE (quantitative easing) deveria se restringir a situações excepcionais.
Citamos ainda outros bancos centrais com taxas negativas já por muitos meses e anos, numa experiência que não se sabe muito bem onde chegará. Mas é fato que, nesse momento, nenhum banco central cogita elevação de juros, até por conta de taxas de inflação controladas, muito em função da própria desaceleração das economias. Isso vale também em termos de Brasil.
Na semana passada, no entanto, nas reuniões de política monetária do FED (BC dos EUA) e do Copom (nosso comitê), os comunicados mostraram um tom menos suave, tentando aparar apostas mais agressivas de redução dos juros. O FED não deu certeza de novas quedas, apesar de manter o viés declinante. Aqui, o Copom expressou que pode reduzir mais uma vez 0,50%, com a taxa Selic indo para 4,50%, mas tirou um pouco de foco a manutenção de reduções agressivas. Com isso, saiu um pouco de foco a possibilidade de no fim do ciclo de queda da Selic estar na casa de 3,75%, muito embora alguns analistas ainda estejam projetando isso.
De qualquer forma, aparentemente esse final de ano pode ser mais tranquilo, abstraindo que Donald Trump e Bolsonaro sempre incorporam boa dose de imprevisibilidade. Mas estamos no caminho certo no plano externo e no interno. Aqui, depois da aprovação da reforma da Previdência, a equipe econômica pode e deve ganhar mais velocidade nas propostas de mudança para a economia, assim como Paulo Guedes pretende fazer com a entrega ao Congresso, prevista para 05/11.
Mais que isso, abre espaço para mudanças no arcabouço microeconômico, isso feito de forma mais ágil e de grande eficiência para ordenar a economia.
Desse modo, entendemos que bons ventos podem soprar nesse final e início do próximo ano. Confúcio dizia que “você não pode mudar a direção do vento, mas pode ajustar as velas”. Portanto, velas ao vento.