“Nós somos socialistas, somos inimigos do sistema capitalista atual por sua exploração dos economicamente fracos, com seus salários injustos, com sua perversa avaliação do ser humano de acordo com sua riqueza e propriedade ao invés de sua responsabilidade e desempenho, e nós estamos determinados a destruir esse sistema de qualquer maneira.”
(Adolf Hitler, 1º de maio de 1927 em um discurso no Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães
A pergunta é simples: você já viu cobrador de ônibus rico?
Um cobrador ganha em média R$ 1.000. Com esse salário é difícil ter uma vida com qualquer conforto. Um bom plano de saúde? Impossível. Uma boa escola para os filhos? Dificilmente. Férias no Nordeste? Infelizmente também não tem como.
As propagandas da TV sobre carros ficarão na TV. Com R$ 1.000 não há como ter nada além de uma vida modesta. Respondendo à pergunta: Não, você nunca viu um cobrador de ônibus rico.
Nem nunca verá! Você nunca verá um cobrador ganhando R$ 7.000 reais como um engenheiro. Por que?
Como é determinado o salário do cobrador de ônibus?
Existe uma teoria simples que parece guiar a maneira de pensar de muitas pessoas: os salários dependem da luta dos trabalhadores por melhores condições. Depende das negociações de seus sindicatos, das leis que lhes garantem direitos.
Em um primeiro momento, esta teoria parece fazer sentido. Aliás, é o que acontece todo ano. O sindicato negocia um aumento de 8% nos salários e de R$ 200 no ticket refeição para a categoria. No mês seguinte, o pagamento de todos na empresa passa a incorporar esses ganhos. Logo, é a luta dos cobradores de ônibus que trariam maiores salários.
Porém, um pouco de reflexão mostra que essa não é uma boa teoria para descobrir porque o salários dos cobradores são baixos. Há enormes diferenças na remuneração das pessoas pelo mundo e dentro de um mesmo país. Essa teoria baseada na barganha é completamente incapaz de explicá-las. Variações na capacidade de negociação dos sindicatos, nas leis trabalhistas pelo mundo, na generosidade e no poder de barganha das empresas devem ser capazes de explicar, no máximo, uma fração ínfima das diferenças salarias.
Afinal, se é o poder de negociação de empresas e trabalhadores que determina os salários, por que pagar ao diretor de engenharia 50 vezes o que recebe o cobrador de ônibus? É a generosidade do Google que gera a remuneração milionária de alguns de seus funcionários? E por que tanta diferença salarial entre os países? A teoria de que os salários dependem da luta e da barganha prevê que os trabalhadores teriam remuneração maior onde as leis trabalhistas lhes dão mais direitos, mas não observamos isso no mundo.
O Brasil possui mais de 15 mil sindicatos, enquanto o Reino Unido e Dinamarca possuem cerca de 150 e nem por isso o salário dos brasileiros são maiores do que destes países.
Uma teoria um pouco mais sofisticada que a anterior, substitui a barganha e o poder das leis trabalhistas pelas leis de oferta e demanda. Empresas demandam profissionais e concorrem com outras empresas para contratá-los; pessoas ofertam trabalho e concorrem com outras pessoas pelas vagas de emprego. Empresas estão dispostas a pagar mais a um profissional se julgam que ele pode contribuir mais para as atividades da empresa. Daí sai a demanda por trabalho.
As pessoas buscam as oportunidades mais rentáveis e agradáveis compatíveis com suas habilidades. De suas escolhas, sai a oferta de trabalho. A concorrência das outras empresas por um tipo de profissional puxa os salários para cima. A concorrência de outras pessoas pelos empregos puxa os salários para baixo.
Essa teoria faz muito mais sentido. Não é a generosidade do Barcelona que leva a remuneração do Neymar às alturas, mas a concorrência do Real Madrid. O mesmo vale para explicar os altos salários dos profissionais mais qualificados e os baixos salários dos menos demandados.
Essa teoria, baseada nas escolhas de empresas e profissionais e na concorrência, explica as grandes diferenças de salários entre diferentes profissionais em um país e entre pessoas com a mesma profissão pelo mundo. Apesar de ser muito simples, ela serve como um ótimo guia para entender como a grande maioria dos salários é determinada.
Essa teoria, embora simples, serve para explicar porque o salário de um cobrador de ônibus é apenas R$ 1.000 reais em média. Por um simples motivo: cobradores desempenham uma tarefa muito simples, de pouco valor agregado. A não ser que a profissão de cobradores passe por uma revolução e eles passem a desempenhar tarefas de altíssimo valor agregado – o que não parece haver nenhum motivo para acreditar nesta hipótese – um cobrador sempre terá um dos salários mais baixos da sociedade.
Ajudando os cobradores?
O problema do Brasil vai além. Vivemos um país de cobradores de ônibus, mas também de frentistas de posto e caixas de supermercado. E não há luta de classe ou sindicado fortalecido que faça o salário dessas classes atingir o mesmo nível de um engenheiro de software ou de um médico.
Se o objetivo é propiciar uma vida melhor a estes trabalhadores, os sindicatos e políticos deveriam estar buscando tirar estas pessoas destes trabalhos e levarem para trabalhos de maior valor agregado. Mas o que eles fazem é o contrário, deixam o país numa dependência desse tipo de trabalho. Resultado: se o Brasil possui mais de 1 milhão de cobradores, isto significa que 1 milhão de pessoas viverão a sua vida inteira de maneira muito simples, com não mais que R$ 1.000.
O que acontece na Inglaterra e outros países da Europa é um bom exemplo. Nestes países, nenhum ônibus possuem cobrador, todos são automatizados. As pessoas – em 90% das viagens – utilizam as máquinas com os cartões para pagar a viagem. Nestes países, aos poucos, a profissão de cobrador foi se se extinguindo.
Estão os sindicatos e os políticos 100% errados?
Você dificilmente verá um prefeito que tenha como promessa reduzir extinguir 100% os cobradores. Por um simples motivo: os movimentos “a favor” dos trabalhadores logo estariam em cima e nenhum prefeito iria querer entrar nesta guerra. Em certa medida, os movimentos dos trabalhadores teriam certa razão. No curto prazo está medida traria mais prejuízos do que benefícios. A extinção desta profissão em 1 ano geraria uma classe alta de desempregados. Ninguém aqui que fosse cobrador votaria em um prefeito com esta promessa.
O problema que aqueles que lutam por estas classes, não permitem mudança nenhuma. Fala-se em mudar algo, e lá vem eles com suas bandeiras defendendo oprimido de opressores, trabalhadores de empresários.
Os defensores dos oprimidos, esquecem de se perguntar onde aos poucos foram parar os cobradores no Reino Unido. Parte foi parar nas fábricas que agora produzem estas máquinas modernas. E este sim já é um trabalho de maior valor agregado e conforme a teoria dos salários acima, permite melhor salário para os funcionários.
Uma lei de bom senso poderia substituir, por exemplo, cobradores por máquinas automatizadas, por um prazo de 10 anos. Poderia substituir caixas de supermercado por máquinas automatizadas. Poderia extinguir os frentistas de povo ao longo do tempo. Tudo isso de maneira gradual.
Uma lei como essa estaria – de maneira indireta – elevando os salários daqueles que agora vão para atividades mais agregadas.
Aqueles que dizem proteger o cobradores, frentistas e caixas de supermercado, nada mais estão fazendo do que gerando uma massa de milhões de pessoas pobres. Deixem o país evoluir!
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