Há uma forte relutância do mercado financeiro brasileiro em “aceitar ou admitir” que o risco Brasil teve acentuada piora de percepção face aos dados desapontadores gerados recentemente, e que isto fomenta as perspectivas.
Todo o foco das discussões em torno das perturbações nos vários segmentos do mercado financeiro vem, majoritariamente por parte dos analistas, sendo atribuídos aos fatos sobejamente conhecidos em torno da economia e política monetária dos Estados Unidos.
Evidentemente, que a primeira sacudida decorreu da mudança de humores do mercado internacional a respeito dos emergentes, fato atrelado às mudanças e perspectivas em torno da economia americana e, também, da política de confronto desenvolvida pelo Presidente Trump em questões comerciais e geopolíticas.
Este novo contexto focando os Estados Unidos e as repercussões negativas em relação, em especial, aos países emergentes, mudou cenários e atitudes dos investidores estrangeiros com recursos locados nestes países, porém, adicionalmente, promoveu uma revisão seletiva a respeito das efetivas situações dos mesmos, suas fragilidades e chamou a atenção para análise efetiva das suas situações efetivas que não vinham sendo focadas com o necessário rigor.
Este “raio x” critico colocou às claras a realidade destes países, mostrando suas diferenças, seus riscos, suas perspectivas, etc...
O CDS (risco de calote) Brasil ajustou-se rapidamente atingindo os 200 pontos, após ter registrado a mínima de 142 pontos neste ano, e no caso brasileiro, dada a modernidade do seu mercado financeiro nas operações de derivativos e na inquestionável capacidade do BC suprir a liquidez do mercado de câmbio, se e quando houver o aumento da demanda, com procedimentos estratégicos só possíveis a países que detém folgado montante de reservas cambiais.
Desta forma, não ocorreu a “revoada” para o “fly to Quality” de imediato, mas a demanda se direcionou no primeiro momento à busca intensa de proteção nas operações de “hedge cambial”, que com a diferença exígua entre a taxa americana e a brasileira, ficou atraente.
Então se viu o preço do dólar futuro ser pressionado fortemente e como consequência natural contaminar o preço do mercado à vista.
Mas é preciso considerar que o impacto externo ao que atribui por aqui toda a causa da mudança de humores e do perfil de comportamento dos ativos no mercado financeiro, tem duas origens, sendo uma parcela do mercado externo, mas já uma relevante parcela com perspectiva de intensificação da situação efetiva do Brasil.
A economia brasileira revela que este, comparado a crises anteriores, é o mais lento ciclo de retomada e como destaque o Professor Celso Pastore passado 4 trimestres desde o fim da recessão, a economia está apenas 2,2% acima do verificado no 4º trimestre de 2016.
Já não há fundamentos que sustentem previsão de PIB de 2,5% para este ano, sendo otimista pode-se trabalhar com 2% com viés de baixa. A projeção de crescimento da produção industrial de 3,80% não se sustenta em perspectiva, somente a indústria automobilística dá sinais positivos, o restante está inerte com capacidade ociosa e sem a intenção efetiva de investimentos, ainda mais com as incertezas quanto à crise fiscal e a sucessão presidencial, num ambiente de acirramento e com liderança de candidatos populistas inibe o investimento privado. Por isso, o emprego não revela recuperação embora os discursos governamentais procurem destacar o que não ocorre efetivamente e como consequência não há aumento de renda e consumo.
O governo está sem condições de conceder benesses fomentando a atividade, muito pelo contrário necessita reverter benefícios concedidos. Nos últimos meses até março o investimento federal atingiu R$ 30,2 Bi, queda de 54% na gestão atual.
Por enquanto, com a inércia da atividade econômica com relevante capacidade ociosa, acredita-se que os efeitos da alta do dólar não impactarão na inflação, mas esta é uma tese para se considerar de forma relativa, visto que o impacto nos combustíveis será enorme e este país transporte o seu PIB sobre rodas.
É absolutamente necessário que a efetiva situação da economia brasileira e todas as suas perspectivas pouco favoráveis presentes e no curto/médio prazos sejam analisadas com maior rigor, para que não se atribua tudo que por aqui acontece à economia americana e o cenário global.
Acreditamos que o viés de alta do preço do dólar persistirá, mesmo que com alguma volatilidade, dada as novas incursões de intervenção por parte do BC, e a Bovespa, da mesma forma, terá um viés de baixa.
Não nos parece razoável que o BC confronte com tendência sustentável dos mercados, devendo sua intervenção ser considerada “profilática” evitando comportamentos especulativos e provendo a liquidez.