Tudo se fala da moeda nacional, o real, e o seu comportamento frente à moeda americana, o dólar, neste momento cotado a R$ 3,79 já tendo revelado intensa volatilidade e com projeção sendo mantida pelo mercado financeiro, divulgada pelo Boletim FOCUS, para fechar o ano em R$ 4,00.
Temos destacado que há razões e motivos presentes que podem levar o real a preço acima de R$ 4,00 e também abaixo deste patamar. O que não existe são fatores de sustentação de estabilidade de cotação, todos a mostram como uma moeda vulnerável e amplamente sujeita a volatilidade.
Há quem diga que o “Brasil está barato”, mas esta afirmativa se torna banal quando se constata que o país perdeu líquidos US$ 3,5 Bi no mês de outubro, dado que evidencia a baixa atratividade ao investidor.
Os bancos vem de há muito gerando a liquidez do mercado de câmbio à vista, fechando outubro com montante acima de U$ 21,5 Bi, parte bancada por repasses do próprio BC que os utiliza como receptores de empréstimos em linhas de financiamento e com isto deixa de dar transparência efetiva do que está praticando, enquanto mantém o saldo das reservas cambiais pelo conceito de liquidez internacional quase intacta, embora seja o lastro que valida a aceitação de “hedge” ofertado ao mercado na forma de swaps cambiais de mais de US$ 110,0 Bi.
O Brasil tem receios severos em relação a possível elevação da taxa de juro nos Estados Unidos, pois seria uma razão para uma forte retirada de recursos financeiros do país. Assim, o real se sensibiliza com esta possibilidade e se revela volátil, porém o FED americano vem desde o início do ano protelando esta decisão, pois bem sabe que pode representar danos efetivos à recuperação da economia americana, dada a prevista elevação do dólar ante demais moedas fortes retirar competitividade de seus produtos e impactar no nível de emprego do país. O país tem tido “sorte” até o momento.
Desde a Presidente do FED quanto os Presidentes das regionais parecem mais realizar um jogo de cena colocando a possibilidade da elevação do juro, mas no fundo esperando um motivo para que possa justificar a postergação. Os dados recentes do emprego na economia americana se mostraram em forte recuperação e não faltam porta vozes das autoridades monetárias americanas a colocar a possibilidade de a elevação vir a ocorrer em dezembro próximo, mas o certo é que falta convicção efetiva nesta possibilidade.
A China, nosso principal parceiro comercial, revelou um outubro muito negativo, com queda nas importações de minério de ferro, petróleo e soja, deixando transparecer que sua economia tem ritmo claudicante. Isto é ruim para o Brasil e a perspectiva de eventual queda nas exportações é fator de alta na moeda brasileira. É sentido agora os efeitos das políticas comerciais erráticas estimuladas pelo governo brasileiro, que afinal não tem acordos com grandes e potenciais compradores.
Enfim, o Brasil é um país assustado com tantas incertezas presentes e sua fragilidade latente. Têm ameaças a partir da crise econômica cujos números proliferam sem indicativos de possibilidade de melhora e em especial uma severa desorganização na política fiscal que conduz o país a déficit fiscal neste ano acima de R$ 100,0 Bi, a rigor ninguém sabendo efetivamente onde vai parar.
O país sabe que as agências de ratings tem enorme chance de rebaixarem a nota brasileira. Por que seriam tolerantes com um país que tem se revelado relapso na condução de suas contas?
Este seria o “knock-out” final do país que veria intensificarem os fluxos de saída de recursos!
A economia brasileira “sangra” tudo que suportou, mas não tem condições de suportar mais nada e leva 2016 a ter perspectiva amplamente negativa em continuidade a 2015.
A inflação medida pelo IPCA tem indicativo da mediana do FOCUS para fechar o ano em 9,99%, mas o sentimento é que já deixou este numero lá atrás quando se observam os preços dos supermercados e os preços administrados, estes severamente brutalizados pela tolerância do governo aos aumentos. A indústria deve recuar 7,40% na sua produção este ano e o país reduzir seu PIB em 3,10%, modestos poderá atingir 3,5%.
A queda da atividade econômica pela queda dos negócios acabará por gerar um resultado do déficit em transações em conta corrente menor, o que, em tese, promoveria menor pressão sobre o dólar, mas na realidade revela que o país está parando.
Há desalinhamentos no FOCUS. O IPCA para fechamento em 2016 é absolutamente irrealizável quando se indica 6,47%, quando já se prevê uma SELIC discretamente inferior a deste ano em 13,25%, mas já se vislumbrando um PIB negativo de 1,90% e queda da produção industrial de 2,00%. E na ponta se projeta um saldo de balança comercial melhor, o que só seria possível com a queda continuada das importações e o aumento das exportações, o que nesta altura é mais um anseio.
Projetar-se a taxa do dólar para 2016 em R$ 4,20 é extraordinariamente irreal, o país sem atratividade com PIB negativo e queda na produção industrial tende a sofrer uma desvalorização maior de sua moeda, ainda mais se alguns dos temores presentes se confirmar. Há fatores que ameaçam gerar uma taxa cambial bem mais soberba, na medida em que os bancos precisarão cada vez mais elevar suas posições vendidas e o BC ficar encurralado com os contratos de swaps cambiais que só seriam passiveis de redução na medida que os recursos deixassem o país, repercutindo em pressões no mercado a vista e exigindo maior nível de liquidez neste segmento.
O ano de 2016 poderá ser pior ainda que 2015, com acentuado problema social com a intensificação do desemprego, perda de renda e inadimplência causando queda maior na retração do PIB e na atividade industrial, com baixíssima tendência ao investimento.
O desarranjo da economia brasileira é intenso criando situação amplamente caótica, ao qual se agrega a crise política e a existência de riscos potenciais externos desgastando conceitualmente o país.
Projeção neste momento? Nenhuma o país não tem estabilidade e está amplamente vulnerável e já com um sentimento de que o pior pode estar por chegar em 2016.
Então, qual é a projeção para o preço do dólar? Absolutamente incerto, o contexto que cria ambiente amplamente negativo é enorme, há inúmeros riscos presentes e não há perspectiva de melhora.
Em 2016, o BC poderá ser muito mais exigido na área do câmbio, mas em realidade não há possibilidade de estratégias defensivas e pode ganhar destaque a realidade de que as reservas cambiais não são tão expressivas quanto tem sido propagadas.
Por ora, vai fazendo mais do mesmo, mas o modelo pode encontrar dificuldades para continuidade e então o quadro pode mudar bruscamente.