Uma nota. Achamos que, pelo recesso do Congresso e sem CPI o ambiente político se acalmaria um pouco. Engano nosso. A fábrica de crises, que se transformou o País, com variadas “brigas desnecessárias”, nos coloca sempre no “olho do furacão”. Difícil medir os impactos políticos e no mercado, a cada declaração impensada, a cada reação açodada, a cada confronto previsível.
Com isso, vamos administrando como podemos este País. As “reformas essenciais” vão ficando pelo caminho, passando muito mais “arremedos”, o açodamento político, virando uma rotina, e poucos avanços institucionais e econômicos observados. Cansaço deste ambiente político. 2022 é logo ali.
Nos mercados, terça-feira foi dia de recuperação dos ativos, depois do tombo de segunda-feira, no receio contra a nova cepa Delta da pandemia e seus impactos sobre a economia global. As bolsas de valores registraram altas firmes, o dólar recuou, assim como no mercado de juros o mesmo ocorreu. As bolsas de NY subiram mais de 1,5%, o petróleo ganhou 1%, o Ibovespa encerrou a 125.401 pontos (+0,81%) e o dólar cedeu 0,37%, a R$ 5,2311 no mercado à vista. O mesmo aconteceu no juro futuro, com recuo em todos os vencimentos.
Na leitura do mercado, a percepção de que o recuo de segunda-feira foi irracional e exagerado. Não há como prever que esta nova variante Delta tenha força para derrubar a retomada da economia global. Pelos movimentos de ontem, a maioria dos players globais acha que não. Em decorrência disso, na City de Londres, a bolsa avançou 0,54%, Frankfurt +0,55%, a CAC 40, de Paris, +0,81% e em Wall Street, o Dow Jones subiu 1,62%, S&P 500 +1,52% e a Nasdaq +1,57%. Nos setores, as petroleiras se recuperaram bem, assim como as aéreas e o setor financeiro, indicando o retorno com força dos financiamentos ao consumo e aos investimentos. No mercado cambial, o DXY registrou alta de 0,08%, a 92,973 pontos. Olhando o mercado de juro norte-americano, nos longos dos Treasuries de 30 anos, a taxa foi a 1,869%, mas nos de 10 anos subiram 1,211% e nos curtos, de dois anos, recuaram a 0,193%. Já no mercado de petróleo, os WTI para setembro avançaram 1,28%, a US$ 67,80 e os Brent do mesmo mês, +1,06%, a US$ 69,35, pressionados, refletindo um receio com a variante Delta.
Nos EUA, esta variante já é responsável por 80% dos novos casos de Covid, mas a eficácia das vacinas contra ela tem se mostrando “extraordinária”.
Voltando ao nosso ambiente político, Bolsonaro disse que iria vetar o fundo eleitoral de R$ 5,7 bilhões na Lei das Diretrizes Orçamentárias (LDO), mas não sabemos como isso deve se refletir no “jogo político”, na agenda de reformas, na relação do presidente com o Centrão. Apenas uma observação. Ele veta, a medida volta para o Congresso e os deputados votam de novo, em listagem nominal. Na certa, o fundo não será mais de R$ 5,7 bilhões, mas com certeza, bem mais do que os R$ 2 bilhões anteriores. Aqui, devemos estar atentos à relação do presidente com o Centrão. No Senado, o presidente Rodrigo Pacheco, talvez pensando nos seus projetos políticos para 2022, tem se posicionado como “independente”, na Câmara, Arthur Lira continua um fiel aliado, mas sua gaveta começa a ficar muito pesada em termos de pedidos de impeachment. Até quando ele irá resistir?
Em paralelo, começa a entrar em gestação uma proposta de mudança do sistema político a partir de 2026. É o semipresidencialismo, um híbrido de parlamentarismo com presidencialismo, que deve dar mais poder ao parlamento, mas também mais responsabilidade. O PT, claro, assim como Bolsonaro, consideram esta proposta um “golpe”. Isso nos parece previsível, dados os candidatos populistas e personalistas, que ambos representam.
Estaremos escrevendo sobre este tema nos próximos dias.
Vamos conversando.