A crescente capacidade excedente de produção de açoaço é hoje uma das principais ameaças à estabilidade do mercado global, à competitividade da indústria e às metas de descarbonização. Segundo o relatório Perspectivas do Aço da OCDE para 2025, a capacidade ociosa mundial poderá atingir 721 milhões de toneladas métricas até 2027 — número que supera em quase 290 milhões de toneladas toda a produção dos países da OCDE em 2024.
Esse excesso se dá principalmente pela expansão contínua da capacidade instalada, mesmo diante de um crescimento global fraco da demanda. As novas adições previstas para os próximos anos — das quais 40% se baseiam em processos de alto-forno/BOF, altamente emissores — comprometem os esforços internacionais de transição energética e industrial verde.
Para economias emergentes e exportadoras como o Brasil, o alerta é duplo: além da pressão sobre os preços e margens da siderurgia nacional, há risco de desindustrialização caso não haja uma resposta estratégica, tanto na forma de políticas públicas quanto na modernização das plantas existentes.
A indústria brasileira do aço, que em 2023 operou com cerca de 70% da capacidade instalada, já enfrenta competição com produtos asiáticos mais baratos e altamente subsidiados. O risco agora é que esse desequilíbrio global leve a uma guerra de preços, aumento do desemprego e retração de investimentos em inovação e sustentabilidade.
A OCDE recomenda uma atuação mais firme dos governos no controle da expansão artificial de capacidade, buscando restaurar a concorrência leal e preservar o equilíbrio da cadeia siderúrgica internacional.