Parece evidente que a alta de preço da moeda americana faz parte da estratégia da nova equipe econômica na busca do encurtamento de tempo para obter resultados em setores cruciais para a economia brasileira, passando assim ao largo das obstruções políticas que tendem a se propagar num embate de poder entre o legislativo e o executivo podendo tornar mais caótico o “status quo” do país.
Deixar o preço de o dólar ser apreciado até o seu ponto de realidade “vis-a-vis” a situação econômica do país é uma decisão no âmbito da equipe econômica com o beneplácito da Presidenta, não dependendo de aprovação de mais ninguém, e, ao mesmo tempo em que viabiliza setores produtivos relevantes do país, torna desnecessário desonerações e concessões onerosas pontuais a grupos escolhidos, o fazendo de forma horizontal quase imperceptível e incontestável por organismos de comércio internacional.
Assim, há um incentivo à indústria nacional no sentido de proteger-lhe o mercado interno tomado pelo produto importado como consequência de uma política errática antecedente e que desindustrializou o país, e mais, aumenta a competitividade do produto nacional no mercado externo, fazendo à margem um chamamento ao industrial brasileiro da necessidade de investir para aumentar a produtividade.
Com esta estratégia busca reabilitar a atividade da indústria nacional, revitalizando-a e a colocando em linha de retomada do crescimento, gerando emprego, renda, arrecadação para o governo e divisas estrangeiras para o país.
Por outro lado busca equalizar os preços das commodities compensando como é normal acontecer com uma taxa de conversão melhor quando os preços internacionais em dólares caem.
Corrige ao ajustar o preço da moeda americana a descabida sobrevalorização da moeda nacional que inibe os investidores em renda fixa e variável, predominantemente especuladores com recursos externos forjados em operações de “carry trade” que não tem grande margem para perdas.
E, por fim, com a taxa de conversão ajustada poderá fazer o país atraente para investimentos em infraestrutura, absolutamente necessário para redução do custo Brasil.
Poderá haver a contestação sobre os efeitos inflacionários desta atitude, mas se é para corrigir os erros de gestão antecedentes não há como não admitir uma correção também na inflação manipulada do passado recente, até porque este ano de 2015 já terá uma inflação elevada devido ao realinhamento dos preços relativos da economia, envolvendo principalmente os administrados que acabaram por contaminar os livres.
É bem provável que o juro SELIC tenha que ser aumentado além dos projetados 13% do Boletim FOCUS e o dólar também vá mais além dos R$ 3,10, mas será importante que o PIB não cumpra o vaticínio de uma queda maior ou que o setor industrial retroaja tanto como se propaga e que não demita empregados em profusão, reduzindo a renda e o consumo.
Como podemos observar a relevância do dólar na economia é muitíssima expressiva e grande parte dos malefícios que causaram a deterioração da economia brasileira decorrem da má utilização do preço do dólar na ultima década como fator coadjuvante do juro no controle da inflação decorrente dos maus gastos do governo.
Por isso, ontem o mercado de câmbio brasileiro depreciou a moeda americana ante o real em intensidade muito maior do que em relação a outras moedas. O dólar caiu 2,64% recuando a R$ 3,14 não porque o dólar caia 0,60% ante cesta de moedas mais importantes, mas sim por que foi retirada a “parcela do medo” de perda do grau de investimento que foi aliviada pela decisão da agência de rating Standard & Poor´s.
A agência de rating, normalmente a menos tolerante, manteve a nota de crédito da divida brasileira de longo prazo em moeda estrangeira em BBB- e a em moeda nacional em BBB+ e manteve a perspectiva de ambas como “estável”, mesmo admitindo a contração do PIB brasileiro em 2015.
Um alivio, pois o país recebeu um voto de confiança representativo nas medidas que vem adotando retirando o risco de perda do grau de investimento e portanto melhorando sensivelmente o conceito do país junto ao mercado internacional.
Contudo não podemos deixar de considerar que no Boletim Focus último houve uma mudança expressiva na perspectiva para o superávit primário de 2015 com a redução da projeção de 1% para 0,8%, deixando evidente que por aqui há um olhar mais cético sobre o sucesso do governo na sua busca de recuperação mais rápida do país.
O que nos parece bastante evidente é que o governo pretende um preço de dólar mais elevado para efetivamente incentivar os setores produtivos a ponto de acomodar a inflação e o encarecimento dos insumos importados que porventura continuem sendo utilizados no produto nacional e garantir margem estimulante no produto.
E então, o BC conta com a possibilidade de monitorar a alta até o ponto desejado com a oferta de contratos de swaps cambiais após o final do 1º trimestre, reduzindo a oferta – provavelmente a ração diária de imediato – até o ponto que provoque a elevação do preço da moeda americana no nosso mercado, outra decisão estratégica que só depende da nova equipe econômica e da Presidenta.
O que será fundamental é a eliminação da volatilidade que é um antídoto ao ingresso de grande parte do ingresso de capitais especulativos no país, já que o risco político tende a ficar muito limitado se a economia começar a ganhar força.
Com esta nossa visão, não vemos como o preço da moeda americana retroceder no nosso mercado de câmbio no curto/médio prazo, já que agora é o elemento mais relevante para recuperação da força motriz da nossa economia.