Como enxergar 2013? Façamos um breve diagnóstico do que pode acontecer neste ano, tanto na nossa economia “jabuticabal”, derrapando num crescimento medíocre com inflação alta, como no resto do mundo.
Economia da Zona do Euro. Tivemos importantes avanços com o processo de unificação bancária, liderado pelo BCE, e um acordo fiscal mais tolerante na Grécia. No entanto, o ajuste estrutural em curso na região resultará em inevitáveis tensões políticas e sociais, com os atuais governantes em dificuldade para manter as políticas fiscais austeras. A Zona do Euro deve manter crescimento sofrível em 2013, em torno de 0,2%, com a Grécia e a Espanha registrando retrações do PIB. A Alemanha, mesmo tendo forte diferencial de produtividade em relação à região, deve ser mais impactada, por ter sua pauta de exportações muito centrada nos seus parceiros europeus. Dito isto, esperamos novas volatilidades nos mercados, embora menores se comparadas com 2012, por visualizarmos um melhor encaminhamento na solução das crises.
Economia norte-americana. O acordo para evitar o “abismo fiscal” no final do ano passado deve ser encarado como trégua. Ganhou-se tempo para que as duras negociações políticas entre republicanos e democratas avançassem, mas o prazo chave deverá ser março. Caso não haja acordo, pesados cortes de gastos acabarão inevitáveis, com a economia norte-americana podendo recuar 1% no primeiro trimestre. Caso contrário, havendo acordo, deve se manter em lenta recuperação em 2013, crescendo entre 1,6% e 2,0%.
Economia chinesa. Deve recuperar sua trajetória de crescimento em 2013, em torno de 8,0% a 8,5%, amortecendo os problemas da Zona do Euro e dos EUA. Diante de uma inflação de 2,5% em 2012, o Banco Central da China sinaliza uma política monetária mais prudente em 2013, com oferta razoável de crédito e moeda. Continua como motor do crescimento global, previsto neste ano em torno de 2,8%.
Economia Brasileira.
O Brasil teve um desempenho sofrível em 2012, com crescimento de 1% e inflação em torno de 5,8%. Isto significa dizer que atravessamos um cenário de estagflação, colocando sob pressão o modelo adotado, muito mais baseado em estímulos de consumo do que de investimentos. Estes continuaram muito fracos, acumulando cinco trimestres de queda, com a taxa de investimento em relação ao PIB de 20% ao fim de 2011 para algo em torno de 18,5% no terceiro trimestre do ano passado.
No front inflacionário, o País fechou esticando a corda em relação ao sistema de metas de inflação, no limite, com IPCA registrando 5,84%, sendo preponderantes os impactos de serviço e alimentação. Choques agrícolas ocorridos entre julho e setembro, assim como ganhos de renda e emprego, aquecendo a demanda por empregados e despesas gerais (restaurantes, diversão, etc), justificam este quadro.
Em 2013 estamos prevendo ainda uma inflação “esticada”, entre 5,5% e 6,0%, mesmo com a redução das tarifas de energia prevista. Esta, no entanto, não será suficiente numa economia rodando mais de 3,0% ao ano, aquecendo o mercado de trabalho e daí, os reajustes dos serviços, mantidos em 9% ao ano, além do reajuste da gasolina, possíveis impactos gerados pela alta demanda por derivados de petróleo nas térmicas (devendo se manter ativas por mais tempo), choques agrícolas recorrentes (mesmo com a perspectiva de boa safra agrícola) e o fim da isenção de impostos para os bens duráveis.
Este panorama inflacionário estará configurado com uma taxa de juros mantida em 7,25% anuais. Em função disto, e com o governo negando novas elevações, já dá para prever a adoção de novas medidas macroprudenciais, visando estancar a expansão do crédito doméstico, ainda aquecido - cresceu em torno de 16% em 2012.
Como dito acima, o desafio do governo em 2013 será estimular os investimentos, empacados pela conjuntura internacional adversa, além dos vários sinais domésticos contraditórios, afetando diversos setores da economia. Os empresários, na verdade, estão no aguardo de uma definição melhor dos rumos do governo Dilma, ainda desconfiados com o ocorrido ao longo de 2012. Projetos de infraestrutura são variados, mas é preciso uma melhor definição de regras e de quem ficará com o risco maior, se o setor público ou o privado.
O governo até tem se esforçado, adotando políticas de longo prazo para tentar fazer com que o PIB passe a crescer mais de 3,0% nos próximos anos, mas uma agenda de reformas estruturais ainda continua em pauta. Observamos algumas iniciativas neste sentido, em especial no campo tributário, com a desoneração da folha de pagamentos de 42 setores (varejo deve ser incluído em breve), assim como o início do debate em torno da reforma tributária, mas é preciso mais ação e menos retórica. Isto porque muitas são iniciativas que não saem do papel. Não passam de boas intenções. O grande problema do governo continua sendo baixa produtividade, baixo volume de investimentos e um nível de poupança interna irrisório (em torno de 15,5% do PIB).
Para que o Brasil cresça mais fortemente será preciso a adoção de políticas que aumentem o crescimento da produtividade e dos investimentos. Para isto, será necessário o governo atrair o investidor privado para junto, despertando o “animal spirts”. Para isto, um ambiente de negócios com regras estáveis, menor carga fiscal e burocracia, será essencial.
Completando, lembremos dos eventos desencadeadores nestes anos vindouros, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Com eles, externalidades positivas serão geradas, com mais obras de infraestrura, estradas, aeroportos e ferrovias, o que será inevitável nesta atratividade para os investidores privados.
Sobre os fundamentos da economia para 2013, temos:
- a indústria deve reagir neste ano, depois de recuar em torno de 2,5% a 3,0% em 2012, podendo crescer algo em torno de 4,5% a 5,0% pelas medidas de estímulo adotadas, além do aumento das exportações e dos investimentos. O comércio ainda deve ter bom desempenho, mas convergindo mais com o setor industrial;
- a balança comercial deve manter um saldo em torno de US$ 20 bilhões neste ano, pela recuperação das exportações, com a retomada das commodities, mas também com aumento das importações, em especial de máquinas e equipamentos e petróleo, pela economia mais aquecida. Sobre o saldo em conta corrente, o resultado deve se manter sofrível (em torno de 2,1% do PIB), pelo excesso de despesas com serviços, mas os investimentos externos diretos e as reservas cambiais em alta são suficientes para financiá-lo;
- sobre a política cambial, depois da malsucedida puxada abrutpa da taxa de câmbio em novembro passado, com a cotação do dólar passando de R$ 2,10 e ameaçando a inflação, acreditamos que o BACEN será mais gradualista neste ano, deixando o câmbio deslizar gradualmente, até R$ 2,07 ao fim de dezembro. Esta estratégia gradualista, se justifica por evitar possíveis pass-throughs, impactando os índices de preço;
- preocupa o front fiscal, depois das várias “maquiagens” adotadas neste ano. A desoneração deve ser reduzida neste ano, com a elevação gradual do IPI para a indústria automobilística, mas não descartamos novas medidas para estimular a economia. Em 2012, o governo usou variados artifícios, como recolhimento do dividendo das estatais, injeção de R$ 12,4 bilhões do Fundo Soberano, desconto de despesas de investimento do PAC, crédito oficial do BNDES para os bancos estatais, dentre outras medidas. Acreditamos numa arrecadação federal mais forte e gastos mais contidos neste ano, mas é preciso um debate mais incisivo em torno da melhoria na qualidade destes gastos, mais focados em custeio e menos em investimentos. De qualquer modo, com o juro cadente em 2012, o resultado primário mais fraco não impactou na trajetória da dívida líquida federal, em torno de 35% do PIB, pela redução dos encargos financeiros.
Por fim, apresentamos nossas principais projeções para 2013 e 2014.