Qualquer dado de inflação atualmente parece jogar uma maldição sobre o ouro e, com o IPC previsto para hoje nos EUA, não deve ser muito diferente.
A expectativa dos analistas é que os números caiam um pouco mais em relação ao mês passado, com um crescimento de 5,3% até agosto, contra 5,4% até julho, mas o Índice de Preços ao Consumidor em si não prenuncia um desastre para o ouro.
O que pode fazer isso é uma eventual alta do dólar e dos rendimentos dos títulos do tesouro americano, em meio à teoria de que o Federal Reserve ainda pode reduzir seus generosos estímulos, apesar da irregular recuperação dos empregos fechados durante a pandemia.
O ouro será a “maior vítima” dos dados do IPC?
Jeffrey Halley, diretor de pesquisa para Ásia-Pacífico da plataforma de negociações online OANDA, ressaltou justamente isso em uma nota emitida ao meio-dia de Cingapura, nesta terça-feira, oito horas antes da divulgação do IPC nos EUA:
“Com as atenções dos mercados voltadas para a inflação e a retirada de estímulos, o caminho de menor resistência é de alta nos dados”.
“Nessa circunstância, minha expectativa é que o dólar dispare, os rendimentos dos treasuries subam e as ações tenham um mau dia hoje. Mas, devido à falta de vigor em todos os mercados no momento, não tenho certeza se esse movimento irá durar”.
Infelizmente, "a maior vítima pode ser o ouro”, asseverou Halley, dizendo ainda:
“É uma ironia, já que o metal deveria servir de proteção contra a inflação. Já concluí há bastante tempo que o ouro não fornece hedge contra a inflação, a não ser para a inflação ao estilo latino-americano. Ainda não chegamos lá.”
A inflação nos países sul-americanos está nas máximas plurianuais, com o Brasil registrando um crescimento de 9% ano a ano, o maior desde 2016; o México também enfrenta uma alta de 5,8%, a maior desde o fim de 2017; no Peru, a alta é de 5%, a maior desde 2009; e no Chile, o avanço é de 4,5%, o mais intenso desde 2016.
O ouro com entrega em dezembro na Comex de Nova York girava em torno de US$1.793 durante a sessão asiática, na terça-feira, praticamente estável em relação ao pregão anterior, quando fechou em alta de US$2,30, ou 0,1%, a US$1.794,40, após oscilar entre 1.800,05 e 1.785,10.
O Índice Dólar, que compara a moeda americana a uma cesta de seis divisas, tampouco se movimentava, ao redor de 92,59. O rendimento da nota referencial de 10 anos do Tesouro americano subia 0,7% no dia.
O ouro com entrega em dezembro caiu 2,3% na semana passada, maior derrapada desde a semana de 29 de julho, além de ter sido a primeira perda semanal nas últimas cinco semanas. A queda ocorreu com o fim da euforia dos compradores com o decepcionante relatório de empregos de agosto nos EUA.
Especulação revigorada diante da redução de estímulos do Fed
Em seu lugar surgiram especulações de que o banco central americano será pressionado a agir mais rapidamente sobre a inflação por causa da alta de 8,3% no índice de preços ao produtor (IPP) em agosto, a maior em mais de uma década. Até a divulgação do IPP, o argumento para o aperto tinha sofrido um revés considerável devido ao fraco relatório de empregos nos EUA para o mês de agosto, que ficou 70% abaixo das expectativas dos economistas.
Como o Fed entra em seu período de silêncio antes da reunião de política monetária de 21-22 de setembro, os números do IPC de agosto podem atrair uma atenção maior do que de costume.
Tem sido intenso o debate nos últimos meses sobre quando o Fed retirará seus estímulos e elevará os juros, na medida em que a recuperação econômica se defronta com o ressurgimento da variante Delta do coronavírus.
O programa de estímulos do Fed e outras políticas monetárias acomodatícias vêm sendo alvo de críticas por agravar as pressões de preços nos Estados Unidos. O banco central americano tem comprado US$120 bilhões em títulos e outros ativos sob o pretexto de respaldar a economia, desde a aparição da Covid-19 em março de 2020. Também manteve os juros praticamente em zero nos últimos 18 meses.
Após cair 3,5% em 2020 por causa dos bloqueios econômicos para enfrentar a pandemia, a economia americana expandiu-se com robustez neste ano, crescendo 6,5% no segundo trimestre, em linha com a previsão do Federal Reserve.
Inflação supera crescimento
O problema do Fed, entretanto, é que a inflação está superando o crescimento econômico.
O índice de gastos com consumo pessoal, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia e serve de medida preferencial do Fed para a inflação, subiu 3,6% no ano até julho, maior alta desde 1991. No ano, o índice geral acumula alta de 4,2%.
A meta do Fed para a inflação é de 2% ao ano.
De volta à questão: para onde vai o ouro após os dados o IPC?
Gráficos: cortesia de SK Dixit Charting
De acordo com o analista técnico indiano Sunil Kumar Dixit, a ação dos preços do ouro nos últimos três meses estabeleceu uma forte parede de resistência a US$1.835.
“Tudo indica que o mercado pode ser pressionado por quedas maiores até as regiões de US$1750 e 1670, enquanto acumula forças suficientes para a retomada da alta”.
Dixit afirmou que a queda do ouro à vista nesta semana para US$1792, com um fechamento diário a US$1797, coincide com o meio da Banda de Bollinger no gráfico diário, a média móvel exponencial de 50 períodos no gráfico semanal, e a retração de 50% de Fibonacci medida desde a mínima de março de 2021 a US$1678 até o pico de maio de 2021 de US$1916.
“Tudo isso contribui para uma correção maior até US$1768, com base no nível de 61,8% de Fibonacci. Pode ser que a queda se estenda até US$1750 na área de suporte estático horizontal”, afirmou Dixit, que disse também:
Caso o ouro se sustente acima de US$1797, seu próximo teste seria a MME de 5 semanas de US$1803 e a MME de 5 dias a US$1805. Pode ser que haja um teste da MMS de 100 dias de US$1815, que pode servir de ponto de aceleração para o nível de 38,2% de Fibonacci a US$1.825. O IFR no gráfico diário indica a leitura de 35/62, com sobreposição baixista, indicando um recuo maior.
“Mudanças na tendência e um fechamento decisivo acima de US$1835 abrirão caminho para o nível de 23,6% de Fibonacci a US$1860 e o topo de US$1920”, segundo Dixit.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.