Terça-feira teve a CPI da Covid como destaque, mas também a aprovação na CCJ da reforma administrativa, assim como o IPCA-15 no “piso das projeções”. Para o BACEN, nada muda no transcurso da política monetária. Já nos EUA seguem os debates em torno do início do processo de tapering pelos diretores do Fed, com muitos já considerando discutir o tema nas próximas reuniões do FOMC.
Esta parece ser a opinião, por exemplo, do vice-presidente do Fed, Richard Clarida, sinalizando que “pode haver em algum momento” o início deste debate. A inflação segue no radar, sendo divulgado o PCE de abril, e seus correlatos, nesta sexta-feira.
O rumo dos indicadores norte-americanos, no entanto, ainda não é definitivo. Não se sabe se a economia está “rodando” em ritmo acima do esperado ou se está ainda frágil ou errática. Isso se observa pela confiança dos consumidores, que entre abril e maio recuou de 117,5 a 117,2, pelo Conference Board, e as vendas de imóveis novos, que recuaram 5,9% em abril contra março. Este último indicador se justificou pela alta da inflação recente, mostrando que os preços dos imóveis seguem em forte elevação, inibindo as compras.
Assim, ontem foi dia de correção nas bolsas de valores de NY. Fecharam em queda, com o DJ recuando 0,24%, a 34.312 pontos, o S&P -0,21%, a 4188, e a Nasdaq -0,03%, a 13.657. O indicador de dólar, DXY, recuou 0,23%, abaixo de 90 pontos (89,639) e no mercado de juro, nos rendimentos dos Treasuries, o T 2Y foi a 0,141%, o T 10Y a 1,55% e o T 30Y 2,25%.
Isso nos leva a concluir que o Fed segue atento, reconhecendo os efeitos transitórios na alta dos preços, mas não descartando o início do ciclo de desmonte da política acomodatícia em breve. Muitos falam que deve acontecer ao final deste ano, com 2023 sendo o start para a elevação do juro. Outros acham que pode acontecer antes.
Tudo isso se reflete no comportamento do dólar, em queda contra as principais moedas, fortalecendo o real, mesmo que na margem, e retirando um pouco a pressão sobre a inflação doméstica.
O IPCA15 de maio ficou no “piso das projeções”, 0,44%, contra 0,6% em maio, mas acumulando 7,27% em 12 meses, bem acima do teto da meta de inflação deste ano (5,25%). Ao fim deste ano deve ficar em torno de 5,3%, impactado pelos preços administrados, previstos em 8,4% neste ano, destacando os reajustes de energia elétrica em “bandeira vermelha”. Em maio subiu 2,31%, elevando o grupo Habitação a subir 0,79%, contra 0,45% no mês anterior. Não esqueçamos também do gás de cozinha, em mais um mês de reajuste.
Para os próximos meses novas altas da energia elétrica são previstas, assim como de tarifa de transporte público. Isso nos leva a crer que o “grande vilão” da inflação neste ano serão os preços administrados.
Abrem-se espaços para um ciclo mais intenso de ajustes da taxa de juros Selic, embora em “normalização parcial” e em menor tempo. A Selic deve ir a 5,5% ao fim deste ano, sendo previsto mais um ajuste de 0,75 ponto percentual no Copom de junho e outro em agosto. Resta saber em que intensidade. Tudo dependerá dos indicadores de atividade, do câmbio e da inflação (data dependent).
Sobre a CPI da Covid, ontem foi a vez da Dra Mayra Pinheiro, que negou possível obsessão pela cloroquina, defendendo seu uso no “tratamento preventivo”, sem maiores efeitos colaterais. Chamou atenção, no entanto, sua preocupação em blindar o presidente Bolsonaro, mas não deixando de criticá-lo por não defender o tripé, “uso de máscara, de uso gel e o isolamento social, ou até confinamento”. No mundo, este se tornou inevitável, não importa o que digam.
Nesta quarta-feira não teremos depoimentos e o relator, o presidente e membros da CPI, discutirão a convocação dos governadores e prefeitos, sendo possível a convocação de governadores mais alinhados com o Planalto, como Claudio Castro do Rio de Janeiro, ainda mais depois da mobilização de motos do fim de semana. Outro governador esperado é o do Amazonas. Será decidido também se será reconvocado o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, prestes a ir para a reserva pelo Exército.
Enquanto isso, na CCJ da Câmara, ontem, por 39 votos a 26, foi aprovada a primeira fase da reforma administrativa. O próximo passo é a Comissão Especial, onde o trabalho será melhorar a proposta. Ou seja, sua admissibilidade foi aprovada, agora indo para CE para sabermos se a proposta não fere cláusulas pétreas da Constituição.
A previsão é que o texto seja enviado para o Senado no segundo semestre. De acordo com Lira, a proposta manterá todos os direitos e garantias dos atuais servidores. Eventuais mudanças serão válidas apenas e tão somente para os servidores admitidos após a reforma.
Sobre a reforma tributária, os debates “gravitam” pelas possíveis etapas de um fatiamento, incluindo mudanças no imposto de renda de pessoas físicas (aumento da faixa de isenção) e jurídicas, IPIs seletivos, passaporte tributário, além da tributação sobre consumo, a "reforma do consumo".
Outro tema em discussão é a extensão do auxílio emergencial, enquanto um programa de renda mínima (ou "renda cidadã"), mais amplo do que o Bolsa Família. Ingressando numa eleição disputada em 2022, por mais absurdo que possa parecer, este pode ser um “impulsionador” para o presidente Bolsonaro. Lembremos, no entanto, nestes ciclos nefastos de populismo, que o mesmo era feito no ciclo lulo-petista, como a extensão do Bolsa Família.
Dito isso, a recuperação econômica, ainda que sem reformas mais amplas, parece cada vez mais ser a principal aposta do Planalto e do ministério da Economia, Paulo Guedes, bem como do Centrão, para que o governo retome a popularidade e mantenha a confiança do mercado.
Neste cenário, ontem foi dia de realização nos mercados. O Ibovespa não teve fôlego para superar o recorde de fechamento de 125.076 pontos. Recuou 0,84%, a 122.987 pontos, com giro financeiro de R$ 28,1 bilhões. Na semana, o ganho é de 0,32%, no mês, de 3,44% e no ano, de 3,34%. Já o dólar fechou em alta de 0,23%, a R$ 5,3371. No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 caiu cinco pontos-base a 5,00%, o DI para janeiro de 2023 teve queda de nove pontos-base a 6,71%, o DI para janeiro e 2025 recuou 10 pontos-base a 8,16% e o DI para janeiro de 2027 registrou variação negativa de oito pontos-base a 8,76%.
Na agenda de quarta-feira, estejamos atentos aos Dados do Setor Externo de abril (Bacen), com foco na curva dos investimentos estrangeiros.