As autoridades do Federal Reserve fizeram questão de deixar claro, na semana passada, que estão prontas para serem mais agressivas nas altas de juros para combater a inflação, se necessário.
O presidente do Fed, Jerome Powell, foi o primeiro a ressaltar, na última segunda-feira, que o banco central americano fará o que for necessário para conter a inflação. Falando para a conferência anual de política econômica da Associação Nacional de Economia Empresarial, ele disse o seguinte:
“Daremos os passos necessários para garantir o retorno à estabilidade de preços. Em particular, se concluirmos que é adequado agir de modo mais agressivo, subindo a taxa dos fundos federais em mais de 25 pontos-base em uma ou mais reuniões, é certo que faremos isso. E se determinarmos que é necessário fazer um aperto além das medidas comuns de [juro] neutro, adotando uma postura mais restritiva, também o faremos”.
Diversas autoridades ecoaram essa determinação, levando os economistas a começar a considerar aumentos muito maiores na taxa de overnight dos fundos federais, os chamados “federal funds”.
O presidente da sucursal do Fed em Chicago, Charles Evans, que tende a ter uma postura mais flexível, disse estar disposto a elevar a taxa básica em 50 pontos-base por vez. “Queremos ser cautelosos, ágeis e humildes, e chegar ao [patamar] neutro antes que seja tarde demais. Talvez 50 [pb] ajudem, estou aberto para isso”, declarou em resposta a uma pergunta durante um evento em Detroit.
Mary Daly, chefe do Fed de São Francisco, também tida como flexível em política monetária, afirmou que uma alta de 50 pb nos juros e o início do enxugamento do portfólio de títulos do Fed poderiam acontecer já na reunião de maio do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês).
Daly deu muitas desculpas para explicar por que o Fomc estava tão equivocado em relação à inflação. A vacinação nos EUA não foi tão ampla como se esperava, os pais tiveram que ficar em casa para cuidar das crianças, os problemas na cadeia de fornecimento persistiram e a demanda dos consumidores excedeu as expectativas. Blá-blá-blá. Ainda permanece a questão do porquê eles não tomaram uma ação antes. Muitas pessoas alertaram para os riscos, mas poucas estavam no Fed.
John Williams, chefe do Fed de Nova York e vice-presidente do Fomc, também usou a palavra “ágil” para falar sobre as ações do Fed.
“Qualquer decisão certa, em determinado momento, dependerá da situação correspondente. Se for apropriado elevar os juros em 50 pontos-base em uma reunião, penso que deveríamos fazê-lo. Se for apropriado subi-los em 25, devemos fazer isso. Não vejo qualquer razão para não fazer um ou outro”.
Analistas começaram a revisar suas expectativas, que variam de duas altas de meio ponto percentual nas próximas duas reuniões, seguidas de elevações de 25 pontos-base nas quatro reuniões restantes do ano, até uma nova projeção de quatro aumentos de meio ponto percentual, seguidas de duas elevações de 25 pontos-base. A última previsão faria com que os juros do Fed chegassem perto de 3% no fim do ano.
No entanto, David Marsh, presidente do Fórum Oficial de Instituições Financeiras e Monetárias e observador de longa data da política monetária, aventou a possibilidade que os bancos centrais evitariam provocar uma recessão subindo demais os juros. A guerra na Ucrânia aumenta o risco de criarem dificuldades para os políticos.
Esse conflito pode se estender, e os bancos centrais podem simplesmente abrir mão da inflação.
Como escreveu Marsh na semana passada em um comentário do Fórum:
“É grande a possibilidade de vermos os banqueiros centrais chegando à conclusão de que um ciclo de inflação acima de 5% é um mal menor em comparação com uma recessão”.
De qualquer forma, é uma preocupação cada vez maior de que o Fed e outros bancos centrais não sejam capazes de engendrar um “pouso suave” para a economia. Aumentam os rumores de uma “recessão de crescimento”, ou seja, o crescimento econômico mais lento e um pequeno aumento do desemprego, com os bancos centrais acionando os freios monetários.
Esses cenários alternativos podem ser apenas um exercício de imaginação. O que sabemos com certeza é que a inflação está aumentando e é provável que continue nessa trajetória, já que as autoridades insistem em subestimá-la.