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Crescimento e Inflação Criam Dilema para Investidores de Títulos Soberanos

Publicado 28.06.2022, 10:23
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Os investidores dos títulos públicos dos EUA vivem um dilema. A economia do país mostra sinais de força, mas enfrenta desafios importantes, como a disparada da inflação e as elevações de juros do Federal Reserve, que visam frear o aumento dos preços e manter as expectativas inflacionárias ancoradas.

As taxas da nota referencial de 10 anos do Tesouro americano retomaram a alta na segunda-feira, superando a marca de 3,2% no fim do pregão, após recuarem para perto de 3,0% na semana passada. A curva de juros permaneceu plana, com o rendimento da nota de 2 anos ficando um pouco acima de 3,1%, na segunda-feira, e a de 30 anos superando 3,3%.

Dados econômicos positivos foram a tônica do pregão de ontem. Os pedidos de bens duráveis subiram 0,7% em maio, acima das expectativas. O mais importante foi que as vendas de casas pendentes também tiveram alta no mês passado, após seis meses de declínio.

O presidente do Fed, Jerome Powell, insistiu, em um depoimento ao congresso, na semana passada, que as autoridades do banco central estavam dispostas a elevar os juros até que a inflação seja contida, ainda que isso signifique jogar a economia numa recessão.

Uma dessas autoridades, o presidente da sucursal do Fed em St. Louis, James Bullard, expressou otimismo, na semana passada, com a força da economia do país, mesmo defendendo uma alta mais agressiva dos juros. Bullard é um dos quatro presidentes de bancos regionais do Fed a assumir uma posição com direito a voto no Comitê Federal de Mercado Aberto, responsável por definir a política monetária nos EUA.

Os analistas técnicos refletem o dilema dos investidores. Em sua visão, a taxa de 3% para as notas de 10 anos servirão de suporte, ou seja, se o rendimento do título ficar abaixo disso, é possível que recue ainda mais. Caso a taxa de 10 anos continue seu movimento de ascensão e atinja 3,5%, terá espaço para subir muito mais, em sua avaliação.

Por enquanto, as taxas estão consolidadas entre esses dois patamares-chave, oscilando de um lado para o outro.

Enquanto isso, a “fragmentação” se tornou a palavra da vez para os títulos governamentais da zona do euro, à medida que as projeções de aperto monetário ampliam o diferencial entre os países periféricos mais endividados no Sul e os países fiscalmente conservadores do Norte.

As autoridades do Banco Central Europeu, a começar por sua presidente, Christine Lagarde, estão insistindo que atuarão de modo a evitar que o diferencial de taxas se amplie ainda mais. Isso não apenas torna a transmissão da política monetária mais difícil, como também ameaça a própria estabilidade da moeda única.

O diferencial entre as taxas dos títulos de 10 anos da Alemanha e da Itália se ampliou em 100 pontos-base, ou 1%, nos últimos 12 meses, com metade dessa alta ocorrendo somente a partir de março.

As lembranças da crise da dívida do euro ocorrida há uma década ainda estão bastante frescas, mesmo que as autoridades do BCE não se cansem de apontar que os países mais frágeis naquele momento agora estão mais fortes, e um banco central que enfrentou a pandemia de Covid-19 tem mais instrumentos e flexibilidade do que naquela época.

Mas algumas das políticas da pandemia, com destaque para o suporte a títulos governamentais gerado pelas compras do banco central, aplacaram os investidores com um sentimento de complacência. A retirada desse suporte incentivará um teste do compromisso do BCE em evitar uma fragmentação.

Lorenzo Bini Smaghi, respeitado ex-membro do conselho executivo do BCE, instou o banco central a ser mais flexível e eliminar os limites autoimpostos às suas compras de títulos por causa das avaliações emitidas por agências de classificação norte-americanas. Isso tende a ser pró-cíclico, afirmou Bini Smaghi em um artigo publicado no Financial Times.

Outras possíveis soluções, como o mecanismo de Transações Monetárias Diretas, criado durante a crise da dívida, exigem condições que desafiam politicamente os governos nacionais. De qualquer forma, os instrumentos do BCE devem ter uma capacidade ilimitada para resistir aos desafios do mercado, defende  o economista italiano.

 

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