O Ministro Levy e suas ideias estratégicas visando “tirar o Brasil do buraco” causaram um bom alento e atenuaram as opiniões críticas sobre o estado de deterioração que se encontrava a economia brasileira, que havia causado um impacto altamente significativo na situação fiscal conduzindo-o a um quadro deficitário e colocando de forma fundamentada o risco de perda pelo país do seu grau de investimento.
Mas, à medida que os dias passam voltam a crescer as incertezas a respeito da viabilidade da recuperação do país sem que situações dogmáticas não sejam desmontadas, ao mesmo tempo em que se acentua a observação de que a diversidade e magnitude dos problemas que afetam o Brasil são muito maiores do que o imaginado primitivamente.
E há no contexto desta diversidade e magnitude a requisição de medidas corretivas urgentes que, todavia, acaba por evidenciar que haveria uma enorme parcela delas extremamente conflitantes entre si, o que acentua as incertezas e o sentimento de que não dá para fazer tudo de uma única vez e não tão rápida.
Há efetivamente “um corner”!
O Brasil precisa aumentar o superávit primário, mas tem suas despesas em grande parte mandatórias, o que impede efetivos cortes orçamentários, então corta todas as benesses concedidas nos anos recentes e vigentes e parte para o aumento da carga tributária que acabará impactando negativamente sobre a atividade econômica, que assim começa a sinalizar que o país poderá ter recessão, que desemprega e reduz a renda e o consumo.
Provoca assim o ajuste dos preços relativos da economia, que se transforma em grande fomentador da inflação e provoca até reajustes fora do contexto influenciados pelo “clima de remarcações”, e que acaba agregando também o encarecimento dos alimentos decorrentes de fatores climáticos, sobra de sol e calor e falta de água, e por fim promove um golpe impiedoso na inflação corrigindo em elevados índices a energia.
Para conter as pressões inflacionárias eleva a SELIC e não se sabe bem até onde precisará ir.
Mas é preciso tentar reabilitar a indústria nacional, decrépita e que retrocedeu 3,2%!
Precisamos também olhar o nosso setor externo que tende a refletir o nosso enfraquecimento como país exportador e a perda de atratividade aos recursos externos focados na conta capital (setor produtivo), havendo também um viés de retração dos empréstimos “intercompanies” e de tomada de recursos no exterior por empresas nacionais, já bastante comprometidas com a tomada destes empréstimos.
Então, precisamos do dólar cotado ao preço compatível com a nossa realidade e não mais com a nossa conveniência de utilizá-lo como coadjuvante para conter a inflação.
O dólar com preço realista inibe as importações e aumenta a competitividade da nossa indústria que poderá reconquistar a parcela perdida do mercado interno e poderá até focar a retomada das exportações.
Com esta correção elimina o risco representado pelo real sobrevalorizado que inibia o ingresso de capitais especulativos forjados a partir de operações de “carry trade” e torna o país atraente pelo fato de oferecer a maior taxa de juro do mundo.
Mas dólar alto é mais pressão inflacionária.
O montante de contratos de “swaps cambiais” já atinge algo em torno de US$ 120,0 Bi e os bancos estão com suas posições no mercado à vista “vendidas” em US$ 20,0 Bi. Ao final do ano a necessidade de financiamento externo do país era de US$ 28,0 Bi, que deveria ter sido objetivamente coberta pelas reservas cambiais brasileiras, mas que estavam sendo suportadas pelas posições vendidas dos bancos no mercado à vista de idêntico valor, o que efetivamente permite que se considerem as reservas cambiais brasileiras não de US$ 372,0 Bi, mas sim de US$ 344,0 Bi ao final do ano.
Até que ponto esta estratégia do BC se sustentará sem desgaste e até que ponto o preço do dólar devidamente ajustado conseguirá efetivamente conter parcela das importações e estimular exportações do setor industrial, e ainda, atrair capitais estrangeiros, mesmo que especulativos, para melhorar o fluxo cambial?
Dúvidas e incertezas em torno das perspectivas para o Brasil predominam e causam volatilidade ante a incapacidade de decifrar de forma sustentável as tendências.
A Grécia tem problemas. Está sendo pressionada pelo BCE e deve ter dificuldades para implementar os objetivos delineados pelos governantes eleitos, e isto pode ter reflexos nos países emergentes, em especial nos mais frágeis, mas, acreditamos que, no momento, os problemas e incertezas internas no Brasil predominam sobre tudo o mais no nosso mercado e provocam a volatilidade.