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Câmbio: Foco do Brasil tem de ser o Brasil, esqueçamos a Grécia e USA

Publicado 25.06.2015, 12:00
USD/BRL
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As análises do mercado de câmbio, até estimuladas por postura do governo a respeito desde a outra equipe econômica, sempre procuram identificar nas causas externas as razões e motivos para as oscilações, até controversas, que ocorrem na formação da taxa cambial no país.

Na realidade as razões e motivos estão ligadas diretamente a situação econômica absolutamente deteriorada do país, e, os movimentos oscilantes decorrem de fatores pontuais que estão por exigir uma mudança e vigilância com maior acurácia do BC.

O que se presencia são movimentos atípicos impondo uma variação diária no preço da moeda americana, por vezes elevando-o e em seguida deprimindo-o ou vice-versa.

Evidentemente que estes movimentos que ensejam variações de em torno de 1% até, por vezes, a extremos de 2,5%, nada tem a ver com a questão da Grécia e sua disputa com os credores no ambiente da eurozona e nem com eventuais pressões que o país venha a sofrer com mudança da taxa de juros nos Estados Unidos.

Este tem sido um falso argumento posto pelas análises que demonstram certo desconforto em abordar as efetivas causas e, até mesmo o governo, estimula a utilização do “pano de fundo externo”, evitando assim de fazer a “mea culpa” ao reconhecer que o problema do Brasil é o próprio Brasil.

Evidentemente que na medida em que se vislumbra a impossibilidade de concretização da meta de superávit primário de 1,2%, surge inevitavelmente o risco de perda do grau de investimento e este é muito maior e deve gerar preocupações efetivas do que a questão grega ou mesmo da política monetária americana.

Da mesma forma a crescente e até certo ponto surpreendente deterioração da economia do país, com reprodução de indicadores econômicos altamente negativos e só comparáveis a quadros longínquos no tempo, induz a que se revejam projeções realizadas meses atrás e se as coloque na nova realidade, o que sugere um país com intensificação da perda de atratividade ao investimento externo.

O BC sabe disso e procurou ao rever dados do setor externo colocar nos números um otimismo inexistente, absolutamente inalcançáveis face ao “status quo” do país.

Da mesma forma, nos relatórios pertinentes à inflação procedeu a revisão feita ao final do 1º trimestre de 7,9% para 9,0%, ainda baixa dada a expressividade das pressões inflacionárias dos preços administrados, que acabaram por alavancar as elevações de preços do preços livres de forma quase incontrolável.

Não será maior, podendo chegar ao entorno de 10%, tendo em vista que o desemprego com a natural perda de poder aquisitivo da população e a própria corrosão dos ganhos pela inflação presente, são fatores naturais de contenção mais intenso do que a própria alta da taxa de juro SELIC.

O desemprego atingiu 6,7% em maio, já o maior em cinco anos e a tendência é ampliar-se visto que a intensificação está somente dando os primeiros sinais.

A perspectiva para retração da economia foi revista pelo BC de -0,5% para -1,1%, quando o mercado financeiro já a projeta em -1,45% e a FGV já a vê em -1,80%. A projeção do governo já colocaria a retração como a maior dos últimos 25 anos.

Com este cenário se torna indiscutível o não atingimento da meta de superávit primário, já que, como já salientamos mesmo ao inicio do ajuste fiscal, a economia brasileira não teria condições de dar as respostas esperadas pelo governo para reabilitar o equilíbrio de suas contas.

É imperativo que o governo “corte efetivamente na própria carne” para reduzir despesas, pois a economia não tem condições e cada vez mais terá menos condições.

O BC ainda cogita de promover a convergência da inflação à meta de 4,5% em 2016, mas a desinflação necessária é tão expressiva que deixa evidente a impossibilidade, até mesmo em 2017, mesmo contando com o auxilio da perda de atividade econômica do país.

Então, como temos salientado certamente o pior ainda está por vir, estamos somente no começo e de forma irreversível, com a perda de atividade econômica se acentuando e a geração de indicadores decepcionantes em expansão.

Então, em meio a este estado desanimador o MDIC lança o Plano Nacional de Exportações e amplia os recursos de R$ 1,1 Bi para R$ 1,5 Bi. Evidentemente, os recursos serão usados se houver incremento nas vendas, o que é incerto já que o Plano não foca metas a serem alcançadas, e exportar para o Brasil não se restringe a um pouco mais de recursos e uma taxa de dólar mais ajustada à realidade, mas sim e principalmente à recuperação do longo tempo perdido que provocou a perda de mercados importantes face ao abandono a que foi relegada a indústria nacional face a euforia com o “boom” das commodities que nos reconduziu à condição de predominantemente exportador de produtos agrícolas.

O Brasil, além disto, ficou para trás no tempo porque não procurou integrar os grandes acordos de comércio exterior, tendo procurado se aliar a economias subdesenvolvidas e fracas.

Hoje tem uma indústria desmotivada a exportar, até porque teria que realizar investimentos para ganhar produtividade, e assiste perdas com as exportações de commodities, como por exemplo de soja onde temos safra recorde e estamos exportando mais do que o ano passado, porém obtendo US$ 7,5 Bi a menos do que o ano passado.

O BC precisa intensificar seu monitoramento sobre o mercado de câmbio, e assim eliminar a intensificação especulativa das operações de daytrade que provocam as oscilações cotidianas desprovidas de fundamentos.

Entendemos que devesse adotar as rolagens diárias dos contratos de swaps cambiais vincendos em duas etapas, metade pela manhã e metade à tarde, evitando que o mercado se articule para o horário matinal dos leilões.

Além disto, precisaria retroceder e ampliar o horário de apuração da PTax, quem sabe entre as 9h30 e 16h00, neutralizando movimentos para artificializa-la.

E, exercendo um mais apurado monitoramento para realizar as ofertas de rolagem de contratos de swaps cambiais, fazendo-os mais justos com a demanda, não permitindo folgas que viabilizem movimentos estimulados por operações de daytrade que criam volatilidade e conspiram contra a convicção para a realização dos negócios efetivos do setor produtivo.

E, que assuma que a nossa realidade é o grande problema para o país e que com o tempo o argumento de que seja a Grécia ou USA acabará se esvaziando atropelada pelas evidências.

O Brasil precisa reconhecer que é o seu próprio desafio, que está eivado de problemas e com grande dificuldade de desvencilhar-se dos mesmos.

É preciso observar e os analistas também que, independente do que venha a ocorrer com a Grécia e nos Estados Unidos, o país já está devolvendo ao exterior o bom volume de ingressos financeiros líquidos adentrados em abril (US$ 9,995 Bi) com saídas de US$ 5,560 Bi em maio e US$ 3,801 Bi até o dia 19 de junho.

A tendência é que o fluxo cambial acabe se tornando negativo este ano, insuficiente portanto para financiar o expressivo déficit em transações correntes, e isto exige antes de tudo taxa de câmbio ajustada à realidade efetiva do país, caso contrário até os investimentos produtivos sofrerão mais acentuada retração.

Enfim, o BC precisa agir para coibir práticas inconvenientes para a formação da taxa cambial que ocorrem a partir do próprio mercado.

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