Certeza só o fato de que existem inúmeras e relevantes incertezas, seja de natureza econômica, seja se natureza política, todas afetando a imagem do país, comprometendo a formação do preço da moeda americana e comprometendo a credibilidade das projeções.
Predomina o sentimento de que o preço do dólar se elevará, mas não passando de um sentimento afastado de fundamentos críeis no ambiente da moeda, embora seja esta uma tendência bastante factível ante uma economia absolutamente deteriorada que a faz carente de atratividade externa, um cenário interno conturbado politicamente e a forte perspectiva de que o BC precisará monitorar a oferta de divisas no mercado à vista, atendendo a demanda de saída de recursos, o fazendo de forma indireta com concessão de linhas de financiamentos ou, agora preferencialmente com contratos a termo, para tornar o custo previsível para o BC e melhor acomodado pelos bancos, que já encontram dificuldades para realizar arbitragens estimuladoras no mercado da BM&F.
Se os bancos não forem mantidos estimulados com ganhos podem perder o interesse em serem os geradores da liquidez com a pratica de “posições vendidas”, exercendo indiretamente o que seria uma ação direta a ser executada pelo BC e com a liquidez gerada pelos contratos a termo.
O atual momento sugere que os fluxos cambiais para o país tendem a ser cadentes e mais, sinalizam que a perda de mais uma nota de crédito da divida soberana do país está no radar, podendo conduzi-la a novo “downgrade”, tornando a situação externa para o país extremamente traumática provocando forte e consistente saída de recursos.
O BC deverá atuar buscando fomentar a liquidez do mercado à vista utilizando estratégias indiretas a partir das reservas cambiais, visto na ocorrência do fato de forma direta pode motivar movimentos especulativos sobre o real.
Portanto, projeções a R$ 4,00, R$ 5,00 ou R$ 3,50 ou qualquer outro valor neste momento serão desprovidas de fundamentos sustentáveis. Evidente que o cenário conturbado sugere a especulação de que o preço subirá, inicialmente a R$ 4,00.
Da mesma forma que é vislumbrado um cenário geral para o país de que “o pior está por vir”, ocorre a mesma percepção em relação ao câmbio.
O fluxo financeiro de recursos externos já se consolida e deve intensificar o saldo negativo com as saídas de recursos. O fluxo comercial atualmente positivo tende a ter saldo mínimo ou até negativo, visto haver um substancial saldo de importações já ingressadas com saldos a pagar que não vem sendo considerado. Este cenário deve exercer pressão de demanda no mercado à vista, ainda mais quando se considere que do saldo atual positivo de fluxo comercial já fazem para US$ 13,0 Bi de recebimentos antecipados.
O BOLETIM FOCUS vem apresentando projeções medianas díspares da realidade brasileira, provavelmente para atenuar o peso de suas colocações.
O IPCA-15 projetado em 9,34% para baixo, mesmo que se considere os efeitos de retração causados pelo ambiente de recessão da economia, sendo mais razoável considerá-lo em torno de 10% no mínimo.
Dólar a R$ 3,86 é carente de base fundamentalista, não sendo, como já mencionado projeção crível neste momento, dada a existência de inúmeras incertezas em perspectiva.
O PIB tende a recuar de forma mais acentuada do que os 2,70%, podendo atingir menos 3% ou 3,5%. Por outro lado o recuo da atividade industrial deve ir além de 6,45% com aprofundamento no último trimestre do ano.
Há, portanto, inúmeros fatores para inibir investimentos internos e dinamizar a atividade econômica, e da mesma forma, para tornar o país pouco atraente a recursos externos produtivos e mesmo especulativos.
O contexto sugere preço do dólar em alta, mas há inúmeras incertezas em perspectivas e fatores de influência na formação do preço, o que fragiliza os fundamentos no momento. Pode ocorrer a intensificação da volatilidade, repercutindo momentos tensos.