Antes eram as falas e pautas desencontradas do presidente Jair Bolsonaro e, como coadjuvantes, seus filhos. Os agentes dos mercados passaram a acreditar que o presidente teria uma agenda positiva e enquadraria seus filhos na real dimensão de suas atividades parlamentares. Nessa época, todos os investidores se apegaram nas figuras ímpares do governo: o ministro da Economia, Paulo Guedes, o vice-presidente Mourão, e o ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Mais recentemente atravessamos um período de calmaria com o presidente em paz com o Legislativo e Judiciário. O Legislativo destravando pautas de interesse do governo (algumas, pelo menos) e o Judiciário julgando que empresas estatais não precisam do aval do Congresso para alienar empresas subsidiárias e controladas.
Como diz o ditado, “não há bem que nunca se acabe”. Começamos a semana sob alguns impactos importantes que servem para deixar investidores nervosos. Citamos especificamente alguns que estão mexendo com preços relativos e com os ativos de risco. Hackers teoricamente teriam pego conversas entre o Juiz Moro e membros do Ministério Público. O governo pode voltar a elevar a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e a Caixa pretende alienar posição detida em ações da Petrobras (SA:PETR4). Analisamos esses fatos.
O site The Intercept divulgou três conteúdos de conversas entre o atual ministro Sérgio Moro e membros do Ministério Público, mais especificamente Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato. Segundo o site, Moro teria orientado investigações da Lava Jato, o que não seria de sua atribuição. Por outro lado, Dallagnol diz que não existem evidências de enriquecimento ilícito de Lula nas atividades com a Petrobras. A oposição se apega na divulgação para retirar Lula da prisão e provar sua inocência.
Do outro lado, quem efetivamente se debruçou nos longos textos (geralmente, as redes sociais só repassam; o que é ruim) enxerga que não há intromissão funcional indevida nas falas de Moro e Dallagnol. Que os diálogos podem ter sido retirados de contexto. Para os mercados, não importa muito, até que seja efetivamente esclarecido. Por enquanto, investidores agem com cautela e mercados no Brasil ficam descolados pelo lado negativo dos mercados do exterior.
Essa situação terá que ser esclarecida. Inclusive sobre quem invadiu conversas e como foram repassadas. Até publicar este artigo, tudo é muito estranho e apesar de não ferir exatamente a agenda de reformas do governo, sempre acarreta em perda de foco, não coincidentemente com a melhora do ambiente político.
Outro fato que mexe com os mercados diz respeito à possibilidade de o governo voltar a aumentar a contribuição social sobre lucro líquido. A elevação de 15% para 20% realizada no governo de Dilma caducou em 31 de dezembro último. O governo que carece de recursos pode reeditar a medida. Por conta disso, as instituições financeiras mostram forte queda na sessão de 10 de junho. Este fato também carece de explicação.
Por fim, a Petrobras anunciou que a Caixa Econômica pretende vender pouco mais de 241 milhões de ações ordinárias. E a Petrobras pretende pulverizar entre investidores, funcionários, pessoas jurídicas, clubes de investimento, etc. Com preço que será fixado em 25 de junho e operação marcada para 27 de junho. Tal operação deve montar a algo próximo de R$ 7,2 bilhões, e a época não é das melhores.
Basta ver que os investidores estrangeiros nesse ano já sacaram recursos liquidamente do mercado em montante de R$ 6,3 bilhões (até 6 de junho) e as incertezas externas são grandes. No Brasil, esse quadro piorou exatamente na semana e, teoricamente esses recursos deixam de pressionar o sistema de preços no mercado secundário.
Nós que vínhamos projetando que o mercado poderia buscar o recorde já atingido acima de 100.000 pontos, temos dúvidas se no curto prazo será adiado.