- A gigante do setor de energia BP divulgou recentemente sua perspectiva para o mercado de petróleo em 2023.
- A companhia afirma que a demanda petrolífera deve diminuir ou se estabilizar nos próximos anos.
- Entretanto, não há qualquer indicação de que isso irá acontecer, e os investidores não devem confiar demais nessas previsões.
No início desta semana, a gigante global de energia BP (BVMF:B1PP34)(NYSE:BP) divulgou sua perspectiva para o setor em 2023. Na perspectiva do ano passado, a empresa explorou três cenários: Accelerated, Net Zero e New Momentum.
A perspectiva de 2022 foi elaborada antes de a Rússia invadir a Ucrânia, não levando em consideração, portanto, a resposta do Ocidente aos fluxos globais de energia que foram abalados. Já o relatório de 2023, inclui atualizações com base nisso e em novas medidas governamentais em relação à energia renovável.
Para os investidores, a parte possivelmente mais relevante do relatório da BP são suas previsões em relação à demanda petrolífera. A BP é uma de várias instituições que publicam previsões de consumo de petróleo, ao lado da Agência Internacional de Energia, Opep, entre outras.
Todas essas instituições têm diversos vieses e posicionamentos que podem impactar suas previsões. Elas geralmente não explicam quais são seus pressupostos de partida ao elaborar seus modelos, portanto cabe ao público decidir se essas previsões são realmente relevantes para o mercado. No entanto, as previsões de demanda da BP (que ela sequer denomina assim, mas de “cenários”), parecem estar bastante divorciadas da realidade dos mercados de energia.
Os cenários de consumo de petróleo da companhia, por exemplo, não incluem dados de 2020-2022 e não começam até 2025. Nesse ano, a companhia vê a demanda petrolífera menor do que em 2019.
Mas, em 2022, as aquisições de petróleo no mundo já superaram os níveis pré-pandemia, e a expectativa é que alcancem 102,73 milhões de barris por dia (mbpd) em 2023. Contudo, os cenários da BP de alguma forma veem a demanda global de petróleo ficar abaixo de 100 mbpd em 2025.
Seu único cenário realista, na medida em que o Accelerated e o Net Zero não passam de um exercício de fantasia, considera que a demanda de petróleo se estabilizar por cinco anos antes de cair.
A principal razão para tanto é que a BP considera que o consumo de petróleo para transporte terá um declínio, diante do aumento da adoção dos veículos elétricos, da maior eficiência dos automóveis à combustão e do uso cada vez maior de fontes alternativas de energia.
No que se refere ao mundo em desenvolvimento, a BP avalia que o consumo de petróleo deve crescer levemente devido ao transporte, mas acredita que haverá fortes recuos no mundo desenvolvido, os quais acabarão compensando esse avanço.
Grande parte disso se deve a políticas governamentais no sentido de incentivar o uso de veículos elétricos, e não no uso concreto desses automóveis na sociedade.
Os cenários da BP também parecem considerar apenas as consequências da guerra Rússia-Ucrânia como um vetor que impulsionará a adoção de VEs e a porcentagem de energia gerada por fontes renováveis.
No entanto, a realidade que observamos após o início do conflito, no ano passado, é que países como China e Índia estão comprando mais combustíveis fósseis russos (petróleo e gás natural), ao passo que os países europeus não estão substituindo o gás natural da Rússia por energia renovável, mas por outras fontes igualmente fósseis, como petróleo, carvão e gás natural.
Os países desenvolvidos também devem aumentar suas aquisições de petróleo e gás natural russo, devido aos seus grandes descontos, e não fazer a transição para fontes renováveis.
Os investidores fariam bem em descartar qualquer um dos três cenários da BP sobre a demanda de petróleo, ao avaliar investimentos de longo prazo no setor, na medida em que se baseiam desconsideram a realidade atual em que a demanda global de petróleo, na verdade, ainda está crescendo.
Até mesmo o CEO da BP parece não estar levando tão a sério esses cenários. Alguns dias depois de a empresa divulgar seu relatório, ela apresentou ao mercado seus resultados trimestrais, revelando que o CEO Bernard Looney estava insatisfeito com a receita da companhia proveniente de seus investimentos em energias renováveis.
De fato, a fim de melhorar os retornos para os acionistas, ele estaria reorientando a estratégia da companhia em direção a investimentos mais tradicionais na produção de óleo e gás.
Se a BP não está considerando suas próprias perspectivas de demanda petrolífera em suas estratégias de investimento, por que é que os investidores deveriam levá-las a sério?
Aviso: A autora atualmente não possui nenhum dos ativos mencionados neste artigo.