Nos primeiros 90 dias do segundo mandato de Donald Trump, iniciado em 20 de janeiro de 2025, uma das iniciativas mais emblemáticas da nova administração foi a criação do Department of Government Efficiency (DOGE), liderado pelo bilionário Elon Musk. Com a ambição de cortar US$ 2 trilhões em gastos públicos até julho de 2026, o programa representa uma tentativa ousada de redefinir o papel e a escala do gasto federal nos Estados Unidos. Entre 20 de janeiro até 20 de abril, o DOGE já economizou aproximadamente US$ 150 bilhões, atingindo 7,5% da meta estipulada.
O ritmo médio de economia durante esse período foi de US$ 1,67 bilhão por dia, valor que sinaliza um esforço inicial robusto. No entanto, se esse ritmo for mantido, a meta de US$ 2 trilhões só seria alcançada em maio de 2028, ultrapassando em quase dois anos o prazo oficial, que se encerra em julho de 2026. Para cumprir o cronograma, será necessário elevar a economia diária para US$ 4,205 bilhões – mais do que o dobro do ritmo atual. Esse descompasso destaca o principal desafio operacional do DOGE: manter e acelerar os cortes em um ambiente de crescentes restrições políticas e econômicas.
O contexto fiscal reforça a urgência. Em 2024, os EUA registraram um déficit de US$ 1,83 trilhão, com despesas de US$ 6,75 trilhões e receitas de US$ 4,92 trilhões. A dívida pública alcançou a marca de US$ 35,46 trilhões (123% do PIB), pressionando o Tesouro e elevando o risco fiscal de longo prazo. Nesse cenário, o DOGE se posiciona como uma resposta emergencial para restaurar a responsabilidade orçamentária e mitigar o risco de descontrole estrutural das contas públicas.
Entretanto, o projeto enfrenta fatores de risco crescentes. Os rumores sobre a possibilidade de saída de Elon Musk do governo, o que poderá comprometer a continuidade da agenda de eficiência. Outro fator de risco é o desaquecimento da economia americana, que já apresenta sinais de desaceleração para 2025 e 2026. Com esse cenário existe uma grande possibilidade de deterioração da popularidade de Trump. Com isso, cresce o risco de derrota nas eleições legislativas de meio de mandato (midterms), o que comprometeria a base de apoio político no Congresso e dificultaria a continuidade de reformas estruturais.
Apesar dessas incertezas, o DOGE ainda colhe dividendos de sua estratégia de comunicação. A economia registrada até o momento já representa US$ 931,68 por contribuinte, reforçando a imagem de transparência e gestão orientada a resultados. No entanto, o êxito de longo prazo dependerá menos de ganhos iniciais e mais da capacidade de manter coerência, estabilidade institucional e apoio político em um ambiente de elevada volatilidade.
Encerrando seu primeiro “trimestre fiscal”, o DOGE apresenta um balanço relativamente positivo, mas opera sob uma nuvem de incertezas políticas e macroeconômicas. A economia de US$ 150 bilhões em três meses é uma conquista significativa, mas a distância em relação à meta impõe uma necessidade urgente de aceleração e blindagem institucional. O segundo mandato de Trump e a liderança de Musk serão testados não apenas pela capacidade de cortar gastos, mas de transformar estruturas sob pressão.
Fontes:
https://dogegov.com/dogeclock
https://fiscaldata.treasury.gov/americas-finance-guide/national-debt/