Depois de outubro encerrar com um “cheirinho” de março nas bolsas, que registraram o pior desempenho (semanal e/ou mensal) desde que a pandemia assustou o mundo, novembro começa com uma típica caça por pechinchas, o que garante alta firme nos índices acionários em Nova York desde ontem. O pregão local até que deveria pegar no embalo na volta do feriado hoje, não fosse a cautela com o dia da eleição nos Estados Unidos.
O movimento em Wall Street reflete o anseio dos investidores por uma “vitória clara” na disputa entre Donald Trump e Joe Biden, embora estejam cientes de que é grande o risco de um resultado contestado em uma longa batalha judicial. O mercado financeiro se prepara para uma repetição do prolongado confronto que se seguiu à eleição presidencial de 2000, cuja definição demorou mais de um mês, levando à recontagem de votos na Flórida.
Resta saber se o pleito deste ano irá repetir o feito de Bush filho, que se tornou o quarto presidente a vencer apesar de ter perdido no voto popular, ou se irá reproduzir a marca de Bush pai, que não se reelegeu na disputa contra Bill Clinton, em 1992, sendo o último presidente a deixar o cargo após apenas quatro anos de mandato. E se levar em conta o tema da campanha do democrata à época, “é a economia”, que pode derrotar Trump agora.
Afinal, a segunda onda da covid-19 que voltou a fechar a Europa coloca em dúvida o cenário de recuperação econômica global sob a forma de “V”, reduzindo o ritmo da atividade neste último trimestre, ainda que a Ásia venha conseguindo combater a pandemia. E a força de contágio do coronavírus no velho continente acende o sinal de alerta nas Américas, onde o primeiro ciclo da doença mal acabou.
Por aqui, o Palácio do Planalto depende do resultado das eleições de novembro nos EUA e nas prefeituras espalhadas pelo país para definir os rumos do governo. Por isso, há pouca clareza sobre a agenda de reformas e o ajuste fiscal, deixando o ministro Paulo Guedes (Economia) sozinho na defesa pelo “teto dos gastos”. Na Câmara, o presidente Rodrigo Maia já avisou que não há tempo hábil para aprovar nem o Orçamento de 2021 neste ano.
Exterior sobe antes da eleição
Mas o mercado financeiro tenta ficar alheio a todos esses riscos e mantém hoje o tom positivo entre os ativos de risco visto ontem, com os índice futuros das bolsas de Nova York apontando para mais uma sessão de ganhos, após avançar mais de 1% no pregão regular. As praças europeias, que subiram até 2% na véspera, também abriram o dia em alta.
Na Ásia, Hong Kong avançou mais de 2%, seguido por Xangai (+1,4%). Entre as moedas, o dólar perde terreno para as moedas rivais, que avançam firme, o que impulsiona as commodities industriais, embora o barril do petróleo tipo WTI siga abaixo de US$ 40. O juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) está acima de 0,85%.
Esse movimento tende a beneficiar o mercado doméstico, após o Ibovespa encerrar outubro abaixo dos 94 mil pontos e do dólar ter flertado com a marca de R$ 5,80. Ainda assim, não se pode descartar um aumento da volatilidade nos negócios globais, uma vez que a incerteza em relação ao resultado eleitoral nos EUA tende a permanecer.
A expectativa é de que o desfecho seja conhecido já na manhã de quarta-feira, quando se espera clareza sobre quem comandará a Casa Branca e também o Senado dos EUA. As pesquisas eleitorais ainda indicam larga vantagem dos democratas, em ambos os casos, embora a disputa siga acirrada. O comparecimento do eleitorado deve ser recorde.
Agenda tem de tudo um pouco
Está carregada a agenda econômica desta semana, com indicadores e eventos relevantes no Brasil e no exterior. Por aqui, a ata da reunião de outubro do Comitê de Política Monetária (Copom) será divulgada antes mesmo de os mercados abrirem, após a pausa por causa do feriado ontem.
No documento, os investidores esperam encontrar esclarecimentos sobre a visão do colegiado em relação ao regime fiscal, que “não foi alterado”, e sobre um choque “temporário” na inflação - que manteve aberto o espaço para uma nova queda da Selic, ainda que “pequeno”. A ata do Comitê do Banco Central será publicada às 8h.
Entre os indicadores aqui, destaque para os dados sobre a indústria nacional, amanhã, e a inflação oficial ao consumidor (IPCA), na sexta-feira, que devem manter o ritmo de alta. No mesmo dia, no exterior, sai o relatório oficial sobre o mercado de trabalho norte-americano (payroll). Na quarta-feira, tem dados de atividade na zona do euro e nos EUA.
Mas o destaque lá fora é a reunião do Federal Reserve, que acontece logo após o dia da eleição nos EUA, com o anúncio da decisão excepcionalmente na quinta-feira. O resultado do pleito pode determinar se o Fed terá de fornecer mais estímulos, após o fracasso de um novo pacote fiscal, em meio ao ressurgimento de casos da covid-19 no país.
É válido lembrar que com o fim do horário de verão nos EUA no último domingo, as tradicionais divulgações econômicas passam a ser feitas uma hora depois. Da mesma forma, os mercados norte-americanos passam a abrir e a fechar uma hora mais tarde, ampliando o pregão de negociação de ações e contratos futuros na B3 (SA:B3SA3) para até 18h.
Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:
*Horários de Brasília
Terça-feira: A volta do fim de semana prolongado no Brasil reserva uma agenda econômica carregada logo cedo. Além das tradicionais publicações do dia anterior, o relatório de mercado Focus, do Banco Central (8h25), e os dados semanais da balança comercial (15h), merece atenção a ata do Copom (8h). Na safra de balanços, sai o resultado trimestral do Itaú (SA:ITUB4), depois do fechamento do pregão local. No fim do dia, o BC do Japão (BoJ) publica o documento referente ao mais recente encontro de política monetária. Entre os indicadores econômicos, saem as encomendas às fábricas nos EUA (12h) e índices de atividade na China, medidos pelo Caixin.
Quarta-feira: As atenções do dia se dividem entre os números da ADP sobre o emprego no setor privado norte-americano em outubro e dados sobre a indústria brasileira em setembro. Também serão conhecidos dados sobre a atividade no setor de serviços nos EUA e na zona do euro no mês passado.
Quinta-feira: Decisões sobre a taxa de juros nos EUA e no Reino Unido estão em destaque, sendo que o presidente do Fed, Jerome Powell, também concede entrevista coletiva. Entre os indicadores econômicos, saem dados preliminares sobre a produtividade e o custo da mão de obra no trimestre passado no EUA.
Sexta-feira: A semana chega ao fim com as atenções novamente divididas entre o relatório oficial sobre o mercado de trabalho nos EUA (payroll) e os números da inflação ao consumidor brasileiro (IPCA), ambos referentes ao mês de outubro. Também será conhecido o IGP-DI do mês passado.